terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Banqueiro Anarquista

Título: O Banqueiro Anarquista
Autor: Fernando Pessoa

Opinião: Só tive duas razões para ler este livro: a minha curiosidade natural e a pequenez do livro. Não sou fã dos escritos de Pessoa, embora tenha lido maioritariamente poesia. Portanto, a minha vontade de ler um livro escrito pelo poeta não era lá muita. No entanto sou demasiado curioso, e aproveitei o reduzido tamanho deste livro para experimentar.

A estrutura é simples, um imenso diálogo, que me fez lembrar os diálogos de Platão e dos gregos afins, em que duas personagens discutem uma ideia (ou várias), neste caso a anarquia.

Só que, uma vez que foi Pessoa a escrevê-lo, isto não podia ficar por aqui. Tinha que haver um qualquer tipo de paradoxo. Então não é que o homem que não só afirma ser anarquista, como afirma ser mais anarquista que os outros proclamados anarquistas, é um banqueiro, que enriquece à custa dos outros? É um bocado contraditório que alguém que se diz seguidor de uma doutrina que deseja abolir todas as convenções sociais, e criar uma sociedade verdadeiramente livre, seja afinal alguém que faz uso dessas mesmas convenções sociais para enriquecer, indo contra os ideais anarquistas que defende.

Mas a verdade é que Pessoa consegue, através do banqueiro, fazer uso de uma argumentação surpreendentemente lógica, culminando com uma espécie de "se não os consegues vencer, junta-te a eles" muito peculiar, em que o banqueiro diz que a única maneira de se ser verdadeiramente livre é estando livre das convenções e imposições sociais, e como destruí-las é impossível, tem que estar acima delas, ou seja, neste caso, tem que ter tanto dinheiro que deixa de ser escravo do sistema capitalista, sem ter necessidade de se preocupar com o dinheiro.

Surpreendente e único, tresanda a Pessoa e ao seu uso de uma linguagem extremamente acessível para transmitir ideias complexas e possivelmente rebuscadas, bem como à estrutura ideológica paradoxal e retorcida, tão frequentemente presente nos seus poemas, e que são praticamente a única coisa que realmente me agrada, na sua lírica. Neste pequeno livrinho encontram-se estas e outras características muito pessoanas, que fazem dele um pequeno livrinho invulgar e invulgarmente agradável.

2 comentários:

Tiago M. Franco disse...

Concordo com pessoa, acho que os verdadeiros anarquistas são aqueles que em muito dinheiro.
É impressionante como ele consegue antever que os banqueiros são “açambarcadores notáveis” numa atura em pouca gente sabia o que era um banco. Também consegue antever o futuro, nomeadamente quando aponta o fim da União Soviética como um caminho inevitável.
Aproveito para deixar o link da sugestão que fiz da obra:

http://sugestaodeleitura.blogspot.com/2010/12/o-banqueiro-anarquista-fernando-pessoa.html

Alice Matou-se disse...

Não creio que o Pessoa acreditasse mesmo nesta teoria, penso que é apenas o seguimento de uma linha de pensamento.
Sou completamente contra esta teoria, tanto mais que temos provas vivas de que se pode viver em anarquia completa.
É uma escolha simples: liberdade vs conforto.
Não creio que Fernando Pessoa o reconhecesse.