domingo, 31 de março de 2013

Que as citações nos caiam em cima [23]



Dinossauros são e sempre foram uma das minhas grandes paixões. Desde criança que os imagino a vaguearem pela Terra, alguns tão grandes como prédios, outros pouco maiores que uma galinha, uns sanguinários e outros pacíficos, até alguns com um ar palerma... Mas sempre, sempre fascinantes.

Daí se percebe, também, o meu fascínio por dragões, que são dinossauros que cospem fogo. E também se percebe o porquê de nem ter hesitado quando encontrei um Parque Jurássico de Michael Crichton a 1.95 euros. O livro que deu origem ao mais famoso filme de dinossauros de sempre, ao desbarato!

E mais importante que isso, um livro sobre dinossauros. E sobre a possibilidade de os trazer de volta da extinção, algo que já não é tão ficção científica quanto isso.

Agora adivinhem qual é que é o ramo da Ciência que permite isto? A biotecnologia. Uma vertente da Ciência com uma expansão enorme nos últimos anos, e da qual o meu curso, Engenharia Biomédica, faz parte. Foi portanto com alguma surpresa e, confesso, excitação, que encontrei esta citação entre as palavras iniciais do livro:

"A biotecnologia promete a maior revolução de sempre na história da humanidade. No final desta década, ela terá suplantado a energia atómica e a informática no seu impacte sobre as nossas vidas quotidianas. Nas palavras de um observador, «a biotecnologia está a transformar todos os aspectos da vida humana: a nossa assistência médica, os nossos alimentos, a nossa saúde, as nossas diversões, os nossos próprios corpos. Nada voltará a ser como dantes. Ela vai mudar literalmente a face do planeta»."

Parque Jurássico
Michael Crichton

Só como curiosidade, este livro foi publicado há 23 anos e o filme, preparem-se para se sentirem velhos, já foi adaptado há 20 anos.

sábado, 30 de março de 2013

Cidade-Túmulo

Título: Cidade-Túmulo
Autor: David Soares

Sinopse: Contagem final para o estado fóssil - Uma história sobre uma cidade e os seus habitantes. Uma história sobre como nascem todas as cidades. O comércio da vida e da morte tal como é vendido na Fábrica da Vida. Por debaixo do betão e do aço reside a estrutura original da cidade, feita com os nossos piores medos. A estrutura da Cidade-Túmulo.

Opinião: Cidade-Túmulo é a primeira BD que leio de David Soares e não podia estar mais satisfeito. É que ao contrário do que o próprio autor diz na introdução ao Mostra-me a tua espinha, livro onde figura o conto Cidade-Túmulo que deu origem a esta BD, eu acho que esta versão é muito mais completa e interessante que o conto.

Quando li o conto achei-o desconexo, ainda que fosse perfeitamente perceptível a atmosfera pesada e mórbida que o autor quis passar. Há uma autêntica chuva de detalhes vinda de todo o lado, nas poucas páginas que dura a história, mas que apenas escritos se me afiguraram como fragmentos. Já desenhados... Problema resolvido!

A mente criativa de David Soares é um lugar absolutamente fascinante, e este álbum, escrito e desenhado por ele, é uma das provas disso mesmo. A história é mórbida, avança rapidamente, aos saltos e não aos solavancos, como o conto, e tem um aspecto visual bastante concordante com aquilo que eu esperava ver saído das suas mãos. Esboços imperfeitos repletos de detalhes mórbidos e perturbadores.

Nesse nível, pouco tenho a apontar. Os desenhos ligam muito bem com o argumento, com ambas as coisas a revelarem várias camadas narrativas e simbólicas. O aparente desmazelo nos desenhos esconde uma atenção ao detalhe, tanto a nível do grafismo como do argumento. Aquilo que no conto me pareceu desconexo, aqui aparece-me como denso, de certa forma, mas coerente e muito, muito negro.

A visão que David Soares dá da Humanidade e da sua simbiose voluntária e forçada ao mesmo tempo com as cidades em que vivem, é que essa relação não é saudável e é alimentada por coisas intrinsecamente... podres. Na pior acepção possível da palavra. E isto é algo que me tinha escapado no conto, mas que com a força que as imagens emprestam às suas palavras, percebi facilmente na BD.

Como já deu para perceber, gostei bastante e só tenho pena que seja tão pequeno. Começo-me assim a render à qualidade de David Soares na BD, depois de já o ter feito no que toca a romances e a contos, ainda que com algumas desilusões pelo meio. Para terminar, faço o aviso que faço quase sempre que acabo de escrever uma opinião a algo deste autor: isto não é uma leitura para estômagos fracos, mas é na minha opinião uma óptima leitura.

sexta-feira, 29 de março de 2013

O Contrato Social

Título: O Contrato Social
Autor: Jean-Jacques Rousseau
Tradutor: Mário Franco de Sousa

Opinião: Quem ler este livro vai encontrar não só a visão que Rousseau tinha da sociedade, mas também a que tinha da Humanidade.

Para este autor, o Homem é intrinsecamente bom, e é a evolução da sociedade e da política que cria os homens maus. Uma opinião com a qual eu discordo, mas que está bem fundamentada ao longo das páginas.

Rousseau usa várias vezes o exemplo dos antigos romanos, o povo que segundo ele teve um sistema político mais próximo do perfeito, e que degenerou por pequenos erros cometidos ao longo da sua história, levando-o a ruir sob o peso da sua própria grandeza.

Mas nem só desse exemplo se faz este livro, muito menos apenas de exemplos. Rousseau teoriza como é que a sociedade evoluiu e como deveria evoluir idealmente para formar uma sociedade o mais perfeita possível, em que quem manda está em perfeito equilíbrio com quem é mandado. Do seu ponto de vista, o Contrato Social é um contrato de cooperação e entreajuda, e não de submissão.

A existência de um grupo restrito de pessoas a formar um governo, ou a elevação de uma única a rei, são ambas coisas que nascem naturalmente da evolução das próprias sociedades, conforme as necessidades e o tamanho de cada nação.

É a partir daqui que Rousseau argumenta que a ditadura nem sempre é uma coisa má, quando temporária, e que o problema de qualquer sistema de governação, seja ele uma monarquia, uma aristocracia, uma democracia, uma combinação mista das 3 ou outra coisa qualquer, é o poder subir à cabeça das pessoas e a própria política mais tarde ou mais cedo acabar por degenerar e de certa forma corromper as pessoas, por não ser perfeita.

Achei um ponto de vista bastante interessante, embora não tenha concordado com algumas coisas. A escrita do autor é clara e não se perde em floreados: Rousseau vai direito ao assunto e diz o que tem a dizer de forma a que se perceba, detalhe não tão pequeno quanto isso que muitas vezes falha em muitos livros desta natureza. É então um livro cuja leitura aconselho vivamente, especialmente se tiverem algum interesse por política.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Mulher Fatal (Sin City #2)

Título: Sin City - Mulher Fatal
Autor: Frank Miller
Tradução: João Miguel Lameiras

Sinopse: Depois de Marv, chegou a altura de conhecermos outro habitante da Cidade do Pecado, Dwight McCarthy. Dwight é um fotógrafo com um passado violento, que pretende esquecer e de que faz parte Ava, uma mulher bela e sedutora, completamente desprovida de escrúpulos. Até que Ava reentra na vida de Dwight, despertando demónios que estavam adormecidos. Dominado pelo charme mortífero desta Mulher Fatal, Dwight vai ter que matar por ela, mas essa será apenas a primeira de muitas mortes...

Opinião: Sem ter a força e a intensidade do primeiro volume, Mulher Fatal continua na linha negra e violenta de A Cidade do Pecado. Frank Miller volta a pegar numa personagem masculina bastante badass, dá-lhe problemas por causa de uma mulher, e é o caos.

A personagem peca por não ser o Marv. Mas o nível dessa personagem é praticamente inatingível, especialmente por outra do mesmo estilo. Faça essa nova personagem o que fizer, Marv já o fez, só que de forma mais violenta.

Mas Dwight não é completamente desprovido de piada. A sua devoção a Ava é bastante parecida à que Marv tinha por Goldie, só que aqui a mulher está viva, e não há um desejo de vingança por causa dela, mas sim contra ela. Sem querer revelar demasiado da história, a mulher fatal do título é realmente fatal e acaba sempre por trazer problemas ao protagonista, que é momentaneamente acompanhado na pancadaria por Marv, que não podia faltar a este livro.

E isso levou a alguns pormenores engraçados, em que a história do primeiro livro é vislumbrada nesta, com as mesmas cenas a aparecerem de outro ponto de vista, e essa história a desenrolar-se escondida, em pano de fundo.

A história acaba por ser bastante linear. Homem atraiçoado quer andar à pancada, e anda, fim. Não há tantas voltas como na história anterior, mas talvez não deva comparar assim ambos os livros, para não fazer pouca justiça a este, que é tremendo. Não tão tremendo como o primeiro, mas isso não o diminuí. A história é diferente, o grafismo é exactamente o mesmo (e os homens continuam aberrações deformadas) e a força que Frank Miller consegue transmitir através de todos esses aspectos e ainda através do próprio enredo e da dimensão das personagens, continua a ser enorme.

As personagens secundárias também são interessantes, algo com que o autor consegue lidar bastante bem: tem a história focada em 2 ou 3 personagens principais, e cria personagens secundárias que mesmo sendo mais planas continuam a dar uma impressão bastante realista, excepto a pequena ninja, ainda que isso não faça dela menos espectacular (os ninjas são fixes, caros leitores).

Por fim, acho que a grande conclusão que tiro deste livro é que quero ler mais sobre Sin City. Quero conhecer melhor os seus cantos escuros, ver mais histórias na Cidade Velha, o território dominado pelas prostitutas, e mais pancada, sangue, tripas e violência crua de uma forma geral, tão bem escrita e desenhada nestas BD's.

terça-feira, 26 de março de 2013

A Cidade do Pecado (Sin City #1)


Título: Sin City - A Cidade do Pecado

Autor: Frank Miller
Tradução: Pedro Pires

Sinopse: O primeiro volume da Cidade do Pecado começa como devia começar: com um crime. Marv, feio e bruto como é, não tem muita sorte com as mulheres e quando matam Goldie, a deusa com quem passou uma noite de sonho, decide descobrir o que se passou, fazendo justiça pelas suas próprias mãos. E não vai ser uma coisa rápida e silenciosa, como aconteceu com Goldie. Não, vai ser feio e sangrento e ruidoso!

Opinião: Quando vi o filme baseado neste (e noutros dois) livros, lembro-me de ter reparado no aspecto bastante distinto e forte. Quase completamente a preto e branco, os detalhes de vermelho, amarelo, verde e azul davam-lhe uma intensidade difícil de encontrar noutros filmes, em termos puramente visuais.

A curiosidade para ler os livros era bastante, como podem imaginar. Digo-vos desde já que fiquei ligeiramente desapontado ao início, por não haver cor nenhuma, mas rapidamente me deixei de parvoíces e me rendi à mestria de Frank Miller.

O uso forte e contrastante do preto e branco consegue dar uma expressividade fora do comum não só às personagens como a cada cenário. Um homem num beco escuro é literalmente um homem num beco escuro: não se vê o beco, vê-se um homem rodeado de escuridão, tão perdido e isolado como o estado mental que o levou ao dito beco.

Mas nem só de imagens se faz esta BD, ainda que isso fosse mais do que suficiente. A história é também muito boa, uma história de amor e de vingança brutal, sanguinária, sem qualquer tipo de misericórdia, mas bastante comovente em várias alturas.

E as personagens... Marv, o gigante feio que nem cornos, tem uma força e resistência descomunal, mata pessoas sem sequer piscar os olhos, e também as tortura sem grandes remorsos. Mas não bate em mulheres. E ai de quem se tente meter com aquelas que ele protege. É por isso que matarem Goldie, a loira bombástica, a deusa pessoal de Marv, a mulher que lhe dá uma noite sonho, não é de todo uma boa ideia.

É assim que começa o livro, e o desenvolvimento não podia ser mais violento e espectacularmente brutal, ou brutalmente espectacular, qualquer das hipóteses serve. Não só Marv como também outras personagens, incluindo a própria Goldie, morta desde as primeiras páginas, são personagens tão bem construídas que me pareceram reais. Têm personalidades bem definidas, quase palpáveis. Os casos de Marv e de Goldie são bastante particulares: ele por ter uma personalidade tão improvável e aparentemente inconjugável com a sua aparência e forma de pensar, mas ainda assim tão real; ela por praticamente não aparecer viva e ainda assim ser das personagens de que mais me recordo, em grande parte graças a Marv, que a mantém viva na memória.

A força do livro é imensa por isso mesmo. A história que conta é de vingança, mas do tipo de vingança com o qual toda a gente se consegue identificar e compreender, a vingança por amor. Marv passou uma noite com Goldie e ficou verdadeiramente apaixonado, apenas para a ver a ser morta ao seu lado, enquanto estava inconsciente, de tão bêbedo. Mesmo com Marv a ser um brutamontes cujo primeiro instinto é partir a cabeça de alguém e só depois fazer as perguntas, não acredito que a maior parte dos leitores consiga não torcer por ele. É uma personagem demasiado boa numa história demasiado boa.

Tudo isto e nem sequer falei da cidade em sim, Basin City, mais conhecida por Sin City, que ganha uma vida própria página atrás de página, através dos seus habitantes, muitos deles personificações da própria cidade (ou será a cidade uma objectificação das personagens?) e representantes de uma das suas vertentes, invariavelmente pecaminosas, agressivas e olharem a meios. Marv vê-se envolvido em vários problemas graças à sua demanda pessoal e também pelo simples de estar na cidade em que está.

Porque Sin City é mais do que uma cidade, é um verdadeiro ecossistema moral completamente fechado, com as suas próprias regras e divisões de poder, que dão a ideia de terem nascido de forma orgânica, sem intervenção ou pressão dos seus habitantes. A cidade simplesmente evoluiu de forma natural para o antro brutal e cruel que é. E com ela os seus habitantes fizeram o mesmo. E com ambas as coisas, também a história o faz. É brutal, cruel e algo sádica. As mulheres são todas voluptuosas e andam sempre pouco vestidas, e os homens têm sempre montanhas de músculos que mais parecem deformações ou grandes barrigas e grandes carecas, mas uma coisa é certa: ler sobre Sin City é ir até Sin City e sentir a sua atmosfera. E um livro que consiga fazer isso da forma que este faz não pode ser nada menos do que um excelente livro.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Entrevista no blog "Rute Canhoto"


Há uns dias fui contactado pela Rute Canhoto, autora de um blog e de alguns livros, para responder a alguns perguntas e assim dar uma pequena entrevista. O resultado está aqui. Obrigado Rute!

domingo, 24 de março de 2013

Além do Inferno

Título: Além do Inferno
Autor: Philip José Farmer
Tradutor: Eurico da Fonseca

Sinopse: Quem sabe que existe um túnel por baixo do Inferno? E que este universo é um brinquedo nas mãos dos horrendos Salvadores desde que o Tempo começou há três começos de Tempo? Terão eles formado o Homem e a Terra, o disco e a impressão do corpo e da alma, além dos alienígenas? E terão cometido erros? Oh, claro que cometeram erros terríveis, pois com tais dentes...

Opinião: Abençoados Argonautas. Imagino como terá sido vê-los a serem publicados, a excitação de ter tantos clássicos, e não só, da ficção científica a irem parar às mãos dos leitores, em edições pequenas e maneirinhas, que cabem literalmente no bolso.

E agora não tenho direito a essa emoção, mas tenho direito a comprar Argonautas a 1 euro, às vezes mais baratos! Foi assim que este Além do Inferno me veio parar às mãos. Sem nunca ter lido nada de Philip José Farmer e conhecendo-o apenas da mais que famosa saga de Riverworld, achei a sinopse deste livro interessante, e como tinha que experimentar e tinha, acabei por o trazer.

O livro é pequeno, mas mostra uma imaginação tremenda. Farmer consegue escrever algo que parece uma história de mistério num mundo, ou Inferno, deveras bizarro e repleto de conceitos fantásticos. Como exemplo dou-vos o facto de os demónios, ou mafarricos, serem escravos dos humanos, pois a certa altura deixaram de ser a maioria; ou o facto de se usar pele humana como papel, por não haver nada com que fazer papel. No Inferno vive-se eternamente, com a morte a ser apenas um sono temporário. As pessoas dormem, comem, trabalham, fornicam (sem procriarem) e fazem aquilo que é, em todos os aspectos, uma vida normal. Isto se descontarem que usam pele humana como papel, e outros pequenos detalhes.

Existe ainda uma personagem misteriosa no meio de tanta mistério, um homem chamado X com aspecto de Jesus Cristo e óculos de sol, que volta e meia aparece para recolher o corpo de alguém morte e apregoa qualquer coisa. Mas o conceito mais interessante é sem dúvida o mundo em si. O horizonte é apenas onde o chão se começa a curvar para cima, acabando por dar origem a um tecto, que é o chão para as pessoas que por lá caminham. O mundo é o interior de uma esfera, e é possível percorrê-lo em linha recta e acabar num ponto em que olhando para cima se veja o ponto de partida, com um telescópio suficientemente potente. E já mencionei que o Sol é apenas um globo brilhante fixo, que acende e apaga? Pois é.

No meio deste Inferno fascinante, aparecem teorias da conspiração, segredos que não era suposto serem revelados e alguns cataclismos. O resultado é um livro interessante, com uma história interessante e que peca principalmente por ter umas personagens apenas vagamente interessantes, que se envolvem em histórias secundárias que não trazem nada ao enredo. Porque o cenário em si é verdadeiramente cativante, e a história acaba por ter umas reviravoltas curiosas... Com a final a ser ligeiramente (só mesmo ligeiramente) previsível, mas muito bem conseguida, a obrigar o leitor a ver a mesma situação de dois pontos de vista diferentes e a perceber mais a fundo aquilo que se estava a passar desde o início.

Acabei por não achar um livro tremendo, nem fenomenal, mas fiquei pelo menos com a ideia de que é um autor a seguir. A curiosidade que tenho pela saga Riverworld é demasiado grande para não ser saciada...

sábado, 23 de março de 2013

Batman: Year One

Título: Batman: Year One

Argumento: Frank Miller
Desenho: David Mazzucchelli
Cor: Richmond Lewis
Tradução: Paulo Moreira

Sinopse: Elevou-se no ar, batendo as asas, então começou a cair, e as suas asas tornaram-se uma capa esvoaçante que envolvia o corpo de um homem. Esta é a história do Cavaleiro das Trevas de Gotham City... Como apareceu e quem ele veio a ser.

Opinião: A história de como o Batman se tornou o Batman já foi contada tanta vez, que agarrar num livro destes tem que ser feito com algum cuidado. Mas se o nome do autor for Frank Miller, não é preciso hesitar lá grande coisa.

Criador de Sin City, uma saga de BD's bastante conhecida, e argumentista de títulos não só como este Batman, mas também coisas do Wolverine, do Daredevil, mais Batman, a saga Ronin e 300, Frank Miller é um nome de peso da BD americana.

Neste livro é preciso notar que a história mais interessante acaba por não ser a do Batman, mas sim a de James Gordon, o polícia quase sempre presente em todas as histórias deste super-herói, seu cúmplice e amigo.

A razão é simples: a evolução de Bruce Wayne enquanto Batman não é nada de especial. A ideia que dá é a de um jovem ridicularmente rico que andou a aprender artes marciais e agora veste uns collants e tenta deter uns criminosos, só que tem pouco jeito para a coisa, e a certo ponto a coisa torna-se inverosímil, até para os padrões do universo da BD.

No espaço de, digamos 10 páginas, o desgraçado apanha 3 ou 4 tiros, leva com metade dum prédio em cima e apanha alguns sopapos. Limita-se a ignorar a dor e a pontapear uma coluna, ainda com uma bala enfiada na perna, que obviamente se parte a meio. Eu sei que isto é comum nestas histórias, mas aqui não ficou muito conseguido. Normalmente há o factor "ele é um super-herói, ele aguenta!", mas aqui, como já disse, o Batman é apenas um jovem absurdamente rico com uma máscara.

Já Gordon tem uma história mais interessante. Enquanto tenta lidar com o facto de todos os polícias em Gotham City serem corruptos, tem a mulher grávida e envolve-se com uma colega de trabalho. E para ajudar à festa, aparece o Batman, este "super-herói" meio inútil que não sabe bem o que anda a fazer e consegue tornar-se no inimigo número 1 de meia dúzia de pessoas. No meio disto tudo, Gordon tem que aceitar certas coisas, lutar contra outras e, acima de tudo, fazer escolhas, muitas escolhas.

Um Batman muito longe do Batman misterioso e que aparenta ter super poderes, quando na realidade é tudo à base de muita habilidade física, algumas maquinetas engenhosas e o pobre do Alfred, mas um Gordon bastante interessante, com uma história bem construída e uma personalidade bem desenvolvida e explorada. As suas lutas interiores são das mais difíceis, pois a certa altura tem que escolher entre fazer o que está certo e... fazer o que está certo. As nuances são uma coisa tramada.

No fim de tudo, o aspecto gráfico podia ser melhor, mas gostei do pormenor de a narração do Batman ter um grafismo diferente da narração do Gordon. Deu um ar muito mais distintivo e pessoal ao ponto de vista de cada um. Ah, já me ia esquecendo de dizer que para mim, o grande defeito deste livro é não ter um vilão "a sério", um Joker ou um Penguin, ou outro qualquer. E o Gordon acaba por ter uma aura muito mais negra do que aquele que é suposto ser o Cavaleiro das Trevas. Tudo isto faz de Batman - Ano Um um livro agradável, mas que podia ter sido bem melhor.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Há 4 anos a ameaçar que cai


Não, não estou a falar do governo. É mesma a Estante, a do nome do blog, que um dia ainda me há-de cair mesmo em cima da cabeça.

Pois é, caríssimas pessoas que me lêem, foi a 21 de Março de 2009 que tudo começou. Muitas mudanças, evoluções (ou não) e afins, depois, cá estou eu. Nunca tive tantos leitores diários nem tantos seguidores, o que é bom. Espero continuar assim.

Ou então não, isso é secundário. Quero é partilhar as minhas leituras e as minhas ideias e teorias mais ou menos mirabolantes. Se quiserem continuar a seguir, ou vir cá de vez em quando ler qualquer coisa... Obrigado!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Projecto Adamastor: Entrevista a Ricardo Lourenço



Antes de começar, quero dar novamente os parabéns pela excelente iniciativa. E para entrar logo a matar, de onde veio a ideia para o projecto?

A ideia nasceu no final de 2010, devido à discussão gerada em torno deste artigo do Luís Filipe Silva, embora o âmbito do projecto fosse mais restrito, dado que a intenção inicial era a de criar uma biblioteca digital de ficção especulativa portuguesa. A iniciativa acabou por não avançar nessa altura, em parte porque o processo de conversão seria bastante mais complexo e moroso, já que a grande maioria das obras teria de ser digitalizada e porque, sendo poucas as que estavam em domínio público, seria necessária a devida autorização para as reproduzir e disponibilizar online.

Como é que surgiu o nome, Projecto Adamastor, provavelmente o nome mais espectacular para um projecto do que quer que seja?

O nome foi sugerido pelo Ricardo Loureiro no fórum BBDE, que tem sido a "base de operações" do projecto. O Adamastor é uma figura mitológica que a maioria dos portugueses associa à literatura, em particular aos clássicos, pelo que seria difícil encontrar algo mais apropriado. Simboliza também as dificuldades que temos de enfrentar de modo a chegar a bom porto.

No que toca à ortografia, as obras são revistas segundo o acordo ortográfico de 1945, mas está nos planos seguir o Novo Acordo, quando ele entrar em vigor?

Pessoalmente, acredito que esse acordo ainda vai ser alvo de algumas alterações. Quando entrar em vigor, o assunto será discutido entre os colaboradores e, em caso de decisão favorável, todos os eBooks serão devidamente actualizados.

Falando de coisas mais mundanas, como é que conjugas o projecto com a tua vida profissional e o teu dia-a-dia?

De momento o projecto ocupa uma parte considerável do meu tempo livre, especialmente nesta fase inicial em que foi necessário, entre outras coisas, criar o website e tratar da divulgação. Acabei por ter que sacrificar um pouco a escrita e a actualização regular do meu blog pessoal, mas, por outro lado, tenho a oportunidade de estudar alguns autores que admiro de forma mais aprofundada. No fundo, é uma questão de organização.

De certeza que é difícil gerir um projecto destes apenas com trabalho voluntário, como é que são as perspectivas para o futuro?

Tendo em conta os contactos que tenho recebido, espero conseguir estabelecer uma equipa de colaboradores que permita a disponibilização regular de novos eBooks, assim como o enriquecimento do conteúdo dos mesmos. Quanto a desenvolvimentos futuros, ideias não faltam, desde a conversão e tradução de obras estrangeiras, à criação de um repositório de ezines, mas o alargamento do âmbito do projecto dependerá em grande medida da opinião dos leitores e da disponibilidade dos colaboradores.

E o que é que diferencia este projecto de outros como o Gutenberg, que já disponibilizam uma quantidade enorme de e-books?

Neste momento, o Projecto Adamastor destaca-se essencialmente pelo design e pela actualização ortográfica das obras disponibilizadas. O Project Gutenberg, através da plataforma Distributed Readers, especializa-se na reprodução fiel, em diferentes formatos, das digitalizações de obras em domínio público. No entanto, a grande maioria desses títulos não está actualizada a nível ortográfico (entre as dezenas de eBooks em português, apenas cinco estão actualizados), o que acaba por afastar muitos leitores. Por outro lado vamos dar, dentro do possível, prioridade à conversão de obras que ainda não se encontrem disponíveis em EPUB. No futuro, espero que nos possamos diferenciar também através da disponibilização de conteúdo adicional, como introduções ou biografias.

Para terminar, qual é que achas que é a grande vantagem que o projecto tem e que o vai fazer sobreviver e ter sucesso?

Creio que a chave para o sucesso do projecto reside na qualidade da revisão e na disponibilização gratuita das obras. Tendo em conta a conjuntura económica, e que o mercado do livro digital começa agora a desenvolver-se no nosso país, julgo que podemos contribuir para tornar a literatura mais acessível em Portugal.

terça-feira, 19 de março de 2013

Projecto Adamastor


O Projecto Adamastor é uma daquelas iniciativas que tenho pena não ter sido eu a ter a ideia. O objectivo a que Ricardo Lourenço, o responsável principal, se propõe, é bastante simples: disponibilizar obras de domínio público em português, num formato e-reader friendly e com um design atractivo, para fazer frente à crescente procura de e-books, proporcionada pela facilidade em adquirir um e-reader, um tablet, ou um telemóvel com todas as capacidades e mais algumas.

Por agora a iniciativa conta com 3 colaboradores, para além do próprio Ricardo, 2 na parte da revisão de obras, e 1 no design das capas. Sendo um projecto recente, conta apenas com 3 livros disponibilizados até à data, mas o objectivo é expandir estes números, colaboradores e livros, num futuro próximo.

Para saberem mais sobre o projecto, deixo-vos o texto de apresentação do mesmo, e amanhã publico uma pequena entrevista a Ricardo Lourenço, em parte para divulgar o projecto, em parte para satisfazer a minha própria curiosidade.

"O mercado do livro digital, que nos últimos anos tem vindo a crescer significativamente no estrangeiro, começa agora a desenvolver-se no nosso país, beneficiando da descida de preço dos eReaders e da proliferação dos smartphones e tablets. No entanto, estratégias editoriais à parte, tal desenvolvimento está limitado pela insuficiente oferta de títulos em português, num formato apropriado para leitura nesses dispositivos electrónicos.

Neste sentido, o Projecto Adamastor tem como principal objectivo atenuar essa escassez através da criação de uma biblioteca digital de obras literárias em domínio público, obras essas que serão disponibilizadas de forma gratuita e em formato EPUB, sem qualquer tipo de restrição.

Tal não significa que o projecto se resuma à mera conversão de textos disponíveis online, bem pelo contrário: os colaboradores do Projecto Adamastor procuram acrescentar valor através de uma revisão cuidada de cada obra, de modo a minimizar o número de erros e a atingir uma versão fiel ao original, actualizada de acordo com a ortografia vigente. Tudo isto acompanhado por um design atractivo.

Uma iniciativa desta natureza depende de trabalho voluntário, pelo que se estiverem interessados em colaborar podem entrar em contacto connosco através do email geral@projectoadamastor.org, ou do formulário de contacto."

sábado, 16 de março de 2013

The Silmarillion

Título: The Silmarillion
Autor: J.R.R.Tolkien

Sinopse: The Sirlmarilli were three perfect jewels, fashioned by Fëanor, most gifted of the Elves. When the first Dark Lord, Morgoth, stole the jewels for his own ends, Fëanor and his kindred took up arms and waged a long and terrible war to recover them. This is the story of their rebellion against the gods and the history of the heroic First Age of Middle-earth.

Opinião: Tolkien é grande. Não era, é. Gostem ou não de fantasia, sejam ou não grandes fãs de Tolkien e da sua obra, este é, objectivamente falando, um dos melhores livros que já li e que prova que já não se fazem génios como este brilhante escritor.

Se em The Hobbit, que li recentemente, a história tem um tom leve e quase juvenil, em The Silmarillion o tom é simplesmente épico. Foi como agarrar num livro de mitologia e ler todo o folclore de um mundo. Quem me conhece minimamente já deve imaginar que bastaram, vá, 10 páginas para me render completamente.

Dividido em cinco partes, o livro começa com o Ainulindalë, que é nada mais do que o mito da criação do mundo e de tudo o que existe, pelas canções de Eru, ou Ilúvatar, e dos Valar, os deuses. São poucas páginas, mas de uma beleza e magnificência tão bem construída que custa a acreditar que não é de facto um mito modelado por séculos de história.

Em Valaquenta, a segunda parte, também não muito grande, descrevem-se os Valar e os seus poderes, e de como um deles, Melkor, se tornou no Inimigo. Tolkien consegue novamente escrever um verdadeiro mito, uma história que podia ter sido contada durante gerações até chegar a este livro.

A terceira parte é o Quenta Silmarillion, a maior parte do livro. Aqui conta-se a história dos Elfos, dos Silmarilli, da revolta dos Elfos, da traição dos Homens, das batalhas com Melkor, ou Morgoth, e com Sauron, da demanda pelos Silmarilli e tanto mais que me é impossível dar uma descrição fiel daquilo que aqui se conta. É uma história do mundo após a sua criação, de como prosperou e do seu declínio, a culminar no Akallabêth, a história de como a perfeição do mundo culminou na sua desgraça e destruição.

Por fim vem Of the Rings of Power, que conta, adivinhem, a história dos anéis que é depois narrada em pormenor na trilogia The Lord of the Rings. Na sua totalidade, The Silmarillion conta a história da Middle-earth que tão bem conhecemos da trilogia, quer em livro quer em filme, pois para contar a história de como os Silmarilli foram criados, admirados, invejados, perdidos, recuperados e perdidos outra vez, no meio de batalhas, traições, conspirações e grandes histórias de amor, paixão e perdição, é preciso contar a história à sua volta, que envolveu tantos acontecimentos que chega a ficar complicado acompanhar tudo.

É este o grande defeito deste livro, e provavelmente o único que lhe consigo apontar. Há demasiada coisa a acontecer, com demasiados nomes. O índice de nomes tem 50 páginas! A minha memória não está minimamente preparada para tamanha torrente de informação, portanto reti muito pouco no que toca a nomes, relativamente ao número enorme de pessoas, lugares e acontecimentos que são nomeados. Não foi uma leitura fácil, pois o livro acaba por se tornar algo pesado e denso, e é preciso andar sempre a procurar nomes no índice, ou a voltar atrás para relembrar o que aconteceu. E mesmo assim sinto que não apreendi como deve ser nem metade daquilo que o livro oferece.

Por essas e por outras, posso afirmar que o livro é genial, o melhor Tolkien e um dos melhores livros que já li, que tem apenas o defeito de precisar de uma atenção muito redobrada para ser possível acompanhar tudo o que acontece e todos os que aparecem. Mas ainda assim um livro que vale a pena ser lido, re-lido e re-re-lido e...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Marvel 1602: Volume 2


Título: Marvel 1602: Volume 2

Argumento: Neil Gaiman
Desenho: Andy Kubert
Cor: Richard Isanove
Tradução: Jorge Magalhães e Catherine Labey

Sinopse: Com a morte da Rainha Isabel e a subida ao poder do Rei James IV, a situação de Carlos Javier e dos seus pupilos torna-se cada vez mais perigosa. Enquanto isso, o misterioso tesouro resgatado pelos Templários do Templo de Jerusalém caiu nas mãos do Conde Otto Von Doom, que o levou para o seu castelo da Latveria, cujas masmorras guardam uma família de heróis que todos julgam mortos.

Opinião: O segundo volume desta história mantém a qualidade das ilustrações mas, na minha opinião, decresce um pouco em termos de argumento.

Continua a ser espectacular observar personagens tão famosas como este bando de super-heróis a viverem em 1602, mas o ligeiro plot twist revelado aborreceu-me um pouco. A história não está má, é até bastante interessante e achei que estava bem escrita e com um enredo bem construído. Só não gostei do rumo que as coisas acabaram por tomar.

Ou seja, Marvel 1602 acaba por ser um livro porreiro, mas que se perde um pouco ali pelo meio. Neil Gaiman fez um bom trabalho a construir a história, assim como Andy Kubert e Richard Isanove o fizeram a ilustrá-la, mas o destino dado a Rojhaz, ainda que surpreendente, decepcionou-me e estragou um pouco a história.

É claro que a partir daí, e como tudo ficou bastante mais rebuscado, o meu interesse foi diminuindo. Acabei por gostar mas... meh.

Mas reparem, pontos positivos, aos pontapés! Como não me canso de referir, ver um estas personagens completamente deslocalizadas e fora do seu tempo foi uma experiência fascinante, e que acho muito sinceramente que podia ter sido muito melhor explorada e continuada indefinidamente como continuidade paralela à principal da Marvel, se não tivesse sido ligeiramente estragada pelo final...

E lá estou eu a bater outra vez no ceguinho sem necessidade nenhuma, não é? Perdoem-me, mas fiquei genuinamente decepcionado com o final. Podiam ter sido os melhores livros do ano até agora! Enfim, não liguem.

A conclusão final é que é uma boa história que me deixou com ainda mais curiosidade relativamente a outros trabalhos de Gaiman. E tirando o que já mencionei, só tenho uma grande, grande falha a apontar: o Wolverine não aparece. Não sei qual é a razão, mas além de ser de longe a minha personagem favorita do universo Marvel, era uma personagem que acho que encaixava perfeitamente neste universo de Gaiman.

No entanto não me posso queixar, e devo é calar-me um pouco com os meus problemas de fã desiludido e aconselhar a leitura destas BD's!

domingo, 10 de março de 2013

Marvel 1602: Volume 1

Título: Marvel 1602: Volume 1

Argumento: Neil Gaiman
Desenho: Andy Kubert
Cor: Richard Isanove
Tradução: Jorge Magalhães

Sinopse: Sob o comando da Rainha Elizabeth, a Coroa Britânica afirma-se como a principal potência da época. Para isso muito contribui a eficiência dos Serviços Secretos britânicos, comandados por Sir Nicholas Fury e os misteriosos poderes de Stephen Strange, o médico da corte.
Com a Inquisição a perseguir incarniçadamente no continente todos os suspeitos de bruxaria, os jovens nascidos com estranhos poderes encontram refúgio em Inglaterra, no colégio de Carlos Javier. É neste ambiente de início do século XVII que vários acontecimentos invulgares começam a ter lugar, de tal forma que se começa a suspeita que o fim do mundo não andará longe.

Opinião: Neil Gaiman transporta personagens conhecidas do universo da Marvel para o fim da época da dinastia Tudor, em 1602. Temos Neil Gaiman a escrever uma história de BD de super heróis conhecidos, só que passada na Inglaterra de 1602. O que é que pode correr mal? Quase nada.

A juntar a isso temos o traço peculiar e muito distintivo de Andy Kubert, com cores de Richard Isanove, que distancia esta história da continuidade da Marvel e ao mesmo tempo demonstra como uma boa BD de super heróis não precisa de ter um ar cartoonesco.

No que toca ao argumento, curvem-se meros mortais perante a mestria de Gaiman, que mistura ficção e realidade num enredo com laivos sobrenaturais e que nos dá o gozo de ver Sir Nicholas Fury, com pala e tudo, e um tal de Stephen Strange a interagir com a Rainha Elizabeth I. A história é interessante e tem a sua dose de reviravoltas, mas a melhor parte é mesmo ver as personagens que tão bem conhecemos transpostas para esta nova realidade.

Há um Carlos Javier que tem uma escola para alunos especiais, que aqui não são mutantes mas embruxados; um Nicholas Fury e um Stephen Strange, que já mencionei, ao serviço da Rainha de Inglaterra; um trovador cego, Matthew Murdoch, capaz de se movimentar melhor que a maior parte das pessoas que vêem; um Grande Inquisidor capaz de controlar metais; um índio, Rojhaz, loiro e massivo, que protege uma criança chamada Virgínia Dare, que também tem os seus segredos.

E mais! O Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha, o Dr. Doom, Quicksilver, Scarlet Witch e a Viúva Negra também participam em vários papéis. Entre conspirações e segredos dos Templários, Marvel 1602 tem sido uma boa leitura, e esta primeira metade tem muito poucas falhas ao nível do que quer que seja.

sexta-feira, 8 de março de 2013

O dom da multileitura

Quando se é um leitor ávido como eu, pode-se tornar complicado estar-se limitado a ler 1 livro de cada vez. Há uma certa frustração em ter dezenas e centenas de livros em casa para ler, e alguns impossibiliões por esse mundo fora, e ter que avançar a um ritmo tão lento. Eu até leio mais depressa que muita gente, ainda que ninguém o diga quando reparar que ando a ler o Silmarillion há coisa de 1 mês, mas continua a ser lento.

Alguém disse um dia que havia demasiados livros para tão pouca vida, ou qualquer coisa do género. E eu não podia estar mais de acordo. Enquanto leitor tenho simplesmente que aceitar que nunca irei ler tudo o que quero. Posso eventualmente chegar a um ponto na minha vida em que penso "bem, já li muito, muito mesmo... posso morrer feliz", mas esse muito será sempre pouco, e esse feliz terá sempre resignação à mistura.

Mas alegrem-se que há gente que consegue ler vários livros ao mesmo tempo! É discutível se essas pessoas chegam de facto a ler mais que pessoas que lêem um de cada vez, ou se não acabam por se dispersar demasiado e não aproveitar nenhuma das leituras que fazem, mas pelo menos de certeza que têm a ilusão de que estão a ler mais.

Seja isso uma coisa boa ou uma coisa má, eu nunca o consegui fazer. E acreditem que já tentei, como acho que toda a gente acaba por fazer eventualmente. Não me lembro de quando, mas sei que não apreciei a experiência. Quando estou a ler um livro gosto de me dedicar a 100% a essa leitura, e ler outra coisa ao mesmo tempo distrai-me demasiado. Portanto, um livro de cada vez tem sido a minha técnica e assim continuará, parece-me.

Bem, mais ou menos. Descobri há pouco tempo que há um tipo muito especial de livros cuja leitura consigo conciliar na perfeição com outro livro qualquer. Graphic novels. E quem diz isso, diz BD's. Sou bastante fã e sempre tive bastante pena de não ler mais desse tipo de literatura. E pelos vistos consigo ler um livro daqueles a que estamos mais habituados e uma BD ou graphic novel sem que as leituras tentem andar à porrada uma com a outra dentro da minha cabeça.

Excelente! Mas agora surge o problema: onde arranjar coisas dessas para ler? Costumam ser bem mais caras que os livros e por cá não há propriamente oferta nem distribuição tão alargada como outros livros. O que sinceramente é uma pena, tenho sempre um aneurisma literário quando vejo 3 edições diferentes do Fifty Shades of Grey espalhadas por todo o lado, e nem sequer vejo um único Watchmen, que é dos melhores livros que já li, por exemplo.

Felizmente sou um indivíduo que até pensa. A minha solução é bastante simples e penso que basta dizer-vos que quem inventou o conceito de biblioteca devia ser canonizado em todas as religiões.

terça-feira, 5 de março de 2013

The Simpsons Futurama Crossover Crisis


Título: The Simpsons Futurama Crossover Crisis
Autor: Matt Groening

Opinião: Se já estão a gostar da capa aqui em cima, vejam a contracapa no fim deste texto, igualmente porreira!

E agora vai ser complicado comentar a espectacularidade deste livro. Não é uma obra-prima da literatura nem sequer uma graphic novel ou um conjunto de comics tremendamente genial. Mas é hilariante.

Ainda por cima são os Simpsons! E Futurama! Juntar ambas as coisas parece-me uma das melhores ideias de sempre, especialmente quando envolve tanta referência nerd por metro quadrado como este livro. Ele é um planeta vivo Nerdanus XIII com uma lua de comics e uma de actions figures, ele é uma carrada de personagens literárias, desde alguns vilões de Stephen King, a Sherlock Holmes, sem esquecer o Drácula, Capitão Nemo, Capitão Ahab e tantos outros!, e ainda referências a filmes de culto como Alien e 2001: Odisseia no Espaço.

Sempre hilariante, Matt Groening mostra-nos as personagens de Futurama a invadirem Springfield e as persongens de Simpsons a invadirem o mundo de Futurama, juntamente com dezenas de outras personagens literárias. As piadas jorram a uma velocidade estonteante e é quase impossível ler sem rir.

O desenho tem um ar bastante simples, pelo menos para padrões de BD normais, que para mim continua a ser impossível, mas é o traço típico das séries na televisão, que já é icónico por si mesmo. Todas as personagens continuam iguais a elas próprias e àquilo que nos habituaram no pequeno ecrã, o que ajudou à espectacularidade do livro. Ver um Zoidberg a resmungar ou um professor Farnsworth a dizer "Good news everyone!" é como ligar a televisão e ouvir aquelas vozes dentro da nossa cabeça.

Numa só palavra: awesome.


domingo, 3 de março de 2013

O problema do Silmarillion

Eu estou a adorar o Silmarillion. A sério que estou. Mas também estou a ter algumas dificuldades a lê-lo.

Tudo por causa da minha (nada) fantástica memória. Tolkien dispara nomes de deuses, de elfos, de lugares, de anões, de humanos, e de sei lá mais o quê, a uma velocidade absolutamente estonteante.

E como se isso não chegasse, há vários nomes para a mesma personagem ou lugar, ou nomes de personagens e lugares distintos que são parecidos.

Enquanto se estava a falar de elfos, a coisa já era complicada, mas com a aparição dos humanos... Bem, digamos que um elfo tem um filho, que é amigo de um certo humano, que é filho de tal, filho de outro, filho deste, filho daquele, filho filho filho, filho de um humano que era companheiro do elfo pai.

Compreendem a minha dor? Onde antes se passavam séculos para se chegar à próxima geração, agora no mesmo espaço de tempo vivem e morrem várias gerações de humanos. Os nomes nunca mais acabam.

Caso não estejam a compreender bem o problema, o que acham de o livro ter um apêndice de nomes de 54 páginas? Pois.

sábado, 2 de março de 2013

Star Wars: Clássicos 4



Título: Star Wars: Clássicos 4

Guiões: Archie Goodwin
Desenhos: Carmine Infantino, Bob Wiacek, Gene Day, Michael Golden, Al Williamson, Carlos Garzón
Cores: Petra Goldberg, Nelson Yomtov, Michael Golden, Glynis Wein
Tradutor: José Vala Roberto

Opinião: Este livro para mim está dividido em 3 partes: as 6 primeiras histórias, continuações directas do livro anterior, a sétima história Cavaleiros no Vazio!, um bocado de lado, e as últimas 4 histórias, já o início da adaptação do segundo filme da trilogia original, Star Wars Episode V: The Empire Strikes Back.

Faço esta divisão por causa dos desenhos. Os primeiros 6 capítulos têm os mesmos traços que os volumes anteriores, clássicos e algo toscos; o Cavaleiros no Vazio! tem um traço mais cuidado e arredondado, bastante mais agradável à vista e que destoa entre os capítulos anteriores e os posteriores; e por fim os últimos 4 capítulos, que também têm um traço diferente, nos quais é possível ver claramente um Harrison Ford na figura de Han Solo, um Mark Hamill como Luke Skywalker e uma Carrie Fisher como Princesa Leia.

Devo confessar que normalmente não sou fã de adaptações de um meio para o outro. Há filmes baseados em livros que se vão safando, livros baseados em jogos tenho as minhas dúvidas mas ainda hei-de experimentar, e livros baseados em filmes deixam-me sempre de pé atrás.

Mas Star Wars é Star Wars. Quando nos deixamos prender por este Universo ficamos irremediavelmente parciais relativamente a tudo o que a ele lhe pertença. E estas BD's não são excepção, como tive oportunidade de comprovar definitivamente ao ler o princípio da adaptação do segundo filme, que deve ser o meu filme favorito da saga, e cuja adaptação em BD, até agora, provou ser dos meus momentos favoritos desta colecção. Foi interessante ver o filme transposto para o desenho, especialmente com desenhos tão precisos e parecidos com os actores.

Ainda mais extraordinário quando se teve direito ao interlúdio entre os primeiros capítulos do primeiro volume, a adaptação do primeiro filme, e estes capítulos que começam a adaptação do segundo. Nesse interlúdio ficamos a conhecer melhor as personagens, as relações entre elas, as suas motivações e as peripécias pelas quais passaram, assim como ficamos a ter uma visão mais ampla deste Universo e das criaturas que o povoam.

Acho que estes capítulos finais apenas são superados pelo capítulo imediatamente anterior, Cavaleiros no Vazio!, em grande parte devido ao aspecto, que foi o melhor que já vi nestes 4 livros, mas também devido à história, que achei deveras interessante, ainda que tenha sido quase completamente à parte da linha narrativa principal, sem lhe acrescentar muito.

Portanto, caros fãs da saga, leiam que não se vão arrepender.