Autor: Joel G. Gomes
Opinião: O Joel, meu colega da Oficina de Escrita da Trëma, deu-me o ebook deste seu livro para que eu o lesse antes do lançamento, que é amanhã. E tenho que começar esta opinião por admirar o trabalho dele: é dos autores portugueses com a melhor auto-promoção que já vi!
A capa do primeiro livro era boa, a deste é fantástica. O convite para o lançamento chegou-me pelo correio, sob a forma de um CD com um vídeo, e digo-vos que foi o convite mais original que já recebi! Resumindo, o homem sabe o que faz.
Outra parte que me tem interessado no seu trabalho são os meandros (bueda) meta de tudo o que escreve. Lembram-se de João e Ricardo, os protagonistas autores do primeiro livro? Eles regressam neste, e tanto um, como o outro, têm um perfil no Facebook. E se forem aqui, e aqui, podem ver o Joel a entrevistar as suas personagens.
Não podia pedir mais, eu!
Mas depois o desgraçado ainda tem a lata de escrever um bom livro. A primeira comparação essencial é o Um Cappuccino Vermelho: tenho que dizer que esse é um livro amador, e este um profissional. A escrita, o enredo, as personagens, tudo melhora, tudo tem um ar extremamente... publicável. Bem, menos a confusão, mas de resto... Impecável.
Começa logo bem, embora tenha algumas gralhas, problema que se verifica ao longo de todo o livro, e que se intensifica perto do final. Ignorei ao máximo, tendo em conta que a versão nas minhas mãos é uma espécie de versão beta, mas incomodaram um pouco, por vezes.
Nada que estrague os pontos fortes do Joel, a caracterização inicial das personagens, sempre fantástica, e a forma como consegue manter o leitor preso ao que lê. De tal forma que a quantidade de personagens/pontos de vista na narrativa podia muito facilmente estragar todo o livro, mas não o faz, antes pelo contrário.
É verdade que ainda se estão a apresentar personagens depois de se lerem algumas páginas, o que dá a ideia de existir uma parte introdutória gigante, mas tudo acaba por funcionar da melhor maneira. Tantas personagens e tantos nomes torna-se bastante confuso ao início, mas estão todas tão distintas e bem caracterizadas que não é complicado ultrapassar esse problema.
A partir de certa altura, a história de um grupo de pessoas com poderes estranhos começa a acelerar, até chegar a um ritmo quase insuportável, mas bem balançado, em termos de revelações importantes e/ou chocantes, o que acaba por ser bom, mas perde o efeito por esmorecer rapidamente.
Há algumas falhas, como é óbvio, mas nada muito gritante. Só coisas como uma tipa receber uma pasta cheia de imagens que depois percebe serem frames de um vídeo, que junta num programa edição para o conseguir ver. O problema é que isso é descrito como uma pasta cheia de imagens a preto, e só depois de fazer o vídeo é que se percebe o que se está a passar... Só que o vídeo tem montes de cores e coisas a acontecer, que seriam facilmente identificáveis nos frames! Ou então, já depois do grande clímax, uma personagem nem ter dinheiro para uma bica, e depois acenar com uma nota de cinquenta a um taxista.
Enfim, detalhes. Detalhes que me distraíram da leitura, mas ainda assim detalhes. O maior problema são os poderes que as personagens têm praticamente não terem regras. Pelo menos regras que sejam conhecidas por quem lê. E as personagens ainda assim, sem saberem o que andam a fazer, conseguem sacar, sabe-se lá de que profundo e negro poço de conhecimento escondido, teorias profundas e complicadas sobre esses mesmos poderes.
Isto leva a que cheguem a conclusões mais depressa do que deveriam, ou que tudo eventualmente se resolva com um poder qualquer, ou que existam momentos bizarros como uma personagem saber exactamente o que vai acontecer quando duas outras personagens usarem os seus poderes em conjunto. Passam metade do livro espantadíssimos com aquilo que descobrem ser capazes de fazer, e na outra metade são especialistas? Desculpa lá Joel, mas não me convenceste.
De resto, e tirando as explicações confusas para o enredo confuso, gostei bastante desta leitura. Tem um enredo confuso interessante e muito confuso complexo, e personagens fenomenais. Sim, nunca se percebe muito bem que esquemas é que todos andam a planear, mas não deixa de ser interessante por isso, não é? Bom trabalho Joel!
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