Autor: Art Spiegelman
Tradutora: Joana Neves
Opinião: Sabem quando um livro é mesmo bom? Tão bom que antes de o lerem já sabem que vão gostar? Foi o que se passou comigo e com este Maus.
Das primeiras vezes que o tive à minha frente, não dei nada por ele. Tinha nazis, tinha gatos e tinha ratos e não me chamava a atenção no meio de tudo o resto. Mas um dia li a sinopse. Depois algumas opiniões. Comecei a ouvir falar do livro. Informei-me mais um pouco e pronto, era só uma questão de tempo.
Portanto calhou bem quando o recebi como prenda de anos dos meus pais (agradecido). Não que eu lhes tivesse dito que o queria ter, de forma bastante explícita, não é assim que funcionam as prendas...
*cough*
Pois bem, dei-lhe um lugar de destaque na pilha de leituras imediatas, e não podia ter feito melhor. Tenho a certeza que vou reler este livro muitas vezes. Aquilo que Art Spiegelman criou foi uma síntese quase perfeita daquilo que foi o Holocausto, não só os milhões de mortos e a loucura de meia dúzia de indivíduos com poder, mas também a dimensão humana e individual de todos estes acontecimentos.
A miséria extrema, as dificuldades de um judeu para sobreviver, as escolhas que era preciso fazer, o filho pequeno que é morto por misericórdia, os jogos de favores para conseguir aguentar a vida escondido ou num campo de concentração... Tudo isto com animais antropomorfizados como protagonistas, à semelhança do que fez Nuno Duarte em A Fórmula da Felicidade.
Os judeus são ratos, os alemães são gatos, os americanos são cães, os polacos são porcos e os franceses são... SAPOS! AH! Ri-me. Mas de qualquer forma, o simbolismo destes animais é óbvio, mas a sua utilização também obriga o leitor a distanciar-se um pouco, só para depois, de repente, se aperceber "aquilo aconteceu com pessoas". É verdade.
Mas o ponto forte do livro é a forma como a história é contada. Spiegelman foi muito inteligente ao usar a história pessoal do seu pai para demonstrar os horrores do Holocausto, e as curtas sequências da história do autor, incluindo os encontros com o pai, que é um homem que poupa até à exaustão e tem uma visão da vida um bocado estranha.
Aliás, a relação algo conturbada dos dois é um dos destaques do livro. Vladek Spiegelman é um homem difícil e temperamental, com comportamentos que de certa forma se justificam, tendo em conta tudo o que passou durante a guerra, mas que não é por isso que deixam de irritar o filho, Art.
Apenas mais algo para comparar com a narrativa trágica, e muitas vezes chocante, da Segunda Guerra Mundial. O final mais ou menos feliz engana, pois não é importante. O relato das páginas anteriores é que é. E vale muito a pena!
6 comentários:
AH! Told ya it was awesome! Qualquer dia releio!
And thank you ma'am for showing me this!
Acho este tão mediano..
Jorge
Discordo. Podia ser apenas mais um relato, mas está feito com humor, crueza q.b., e uma secura difícil de encontrar, por vir de um homem muito particular, ainda por cima filtrada pelo filho, que nunca viveu aquelas situações.
Pois não, só enviaste uma lista....
A isso fui obrigado...
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