sábado, 25 de outubro de 2014

O futuro da ficção?


Já há algum tempo que presto uma atenção meramente superficial às notícias. Apenas o mínimo para estar a par do que se passa por esse mundo fora, mas pouco mais que isso. Depois há todo um foco nas notícias de campos específicos que me interessam particularmente, como a Literatura e a Ciência, como é óbvio, mas até essas... Meh.

No entanto, de vez em quando lá aparece uma ou outra que me desperta sentimentos contraditórios. Como esta, por exemplo, sobre um prémio japonês para ficção científica que abriu submissões para aliens, animais e inteligências artificiais. Com a perspectiva de que já há um grupo a trabalhar nisso. Como, perguntam vocês?

Analisando histórias de um famoso autor, para tentar definir regras que eventualmente permitam a um computador escrever qualquer coisa, sem que tenha sido especificamente programado para isso.

Por um lado, parece-me fascinante. Sinto-me verdadeiramente maravilhado ao ler as palavras de alguém que diz que no espaço de cinco anos, talvez menos, alguém consiga realmente ter algo artificial a exibir um nível autónomo de criatividade. Mas por outro lado não consigo evitar ficar extremamente assustado.

Reparem no que é dito no final do artigo, sobre regras e padrões de escrita. Não duvido que uma máquina consiga, perfeitamente, escrever o próximo romance do Dan Brown, ou do José Rodrigues dos Santos, mas existir alguém a dizê-lo com aquela convicção toda, bem, assusta-me um pouco!

Imaginem um futuro em que em vez de comprarem um livro, enviam as especificações do que querem, e uma máquina, algures, escreve o que vocês querem e ainda faz disso um bom livro? Fantástico, não é?

Não! Perturbador, no mínimo! Não acho que o ser humano seja propriamente especial em nenhum sentido, e aceito um futuro em que as máquinas têm cada vez mais poder, ou melhor, cada vez mais presença ao nosso lado, mas confesso que me custa imaginar uma dessas máquinas com uma imaginação.

Parece estranho, vindo de alguém que consome FC e Fantasia e outras bizarrices à velocidade a que eu o faço, mas é esta a verdade. Assusta-me, de alguma forma, a noção de que até um escritor pode vir a ser substituído por uma máquina.

Será isto o verdadeiro futuro da ficção?

5 comentários:

Storyteller disse...

Ainda assim isto fez-me lembrar um dos teus contos, onde uma máquina tinha escrito o livro perfeito. Creepy...

Mas também não sei até que ponto me agrada. Se, por um lado, a minha mente amante de tecnologia avançada e gadgets de todos os tipos ficou fascinada, por outro, a minha costela de escrita ficou boquiaberta acerca do facto de uma mente que não humana conseguir alcançar tamanha capacidade imaginativa.
De um modo geral, não gosto. Acho que acaba por destruir toda a magia da criação humana e do prazer que se tem ao pegar num livro que foi escrito por alguém que admiramos.

Rui Bastos disse...

A ti e a mim :p

O problema aqui é que começas a entrar no campo de quão humana pode uma AI ser? Quão consciente? Provavelmente vamos ter que rever a nossa definição de vida, porque não vamos poder negar a existência de AI's tão sencientes que são capazes de ser criativas.

E se ao leres algo, fores incapaz de dizer se foi escrito por uma pessoa ou por uma máquina? Achas que é legítimo negar uma obra só porque não vem de mãos humanas?

Acredita, eu compreendo-te, também é uma noção que me assusta, mas acho que é algo com o qual vamos ter de viver. E que no fundo, não é mau. Apenas diferente. Muito diferente. E, se realmente acontecer, mais uma prova de que nós não somos particularmente especiais!

Anónimo disse...

Quanto ao futuro da humanidade orgânica, parece que os cientistas carolas já vieram dizer que está completamente condenada.
Portanto, a inteligência humana, muito provavelmente, tenderá a reproduzir-se via máquina e via circuitos...
Em vez de corpo teremos hardware, em vez de mente e espírito teremos software evolutivo e, surpresa das surpresas, não teremos que ter fé em nada de divino; porque assim que um daqueles dois sistemas sofrer avarias automaticamente sofrerá reparações e actualizações...
Logo não morremos nem temos medo da morte...
Logo não estaremos limitados pelo envelhecimento...
Logo não estaremos condicionados pelo nosso défice de processamentos imenso de dados...
Logo... podíamos chegar novamente à Lua, depois Marte, a Plutão, a Coruscant, a Vulcano, ao fim do universo...

Logo, não teríamos dificuldades, logo... não haveria graça neste tipo de vida...

Ou existe???

Francisco Fernandes

Anónimo disse...

Uma nova ideia que me assusta, talvez devido à minha actividade profissional, é: Porque diabo não há uma máquina de ter direitos?

Direitos da Máquina...

Já existem direitos dos animais, direito do ambiente, direito de tudo e mais alguma coisa...

Agora falta o Direito das Máquinas...

O direito que falas Rui, muito provavelmente talvez seja: DIREITO DE AUTOR DAS MÁQUINAS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL...

Isto sim são pensamentos que valem o Prémio Nobel...

Abraço...

PS: É bom ver este tipo de discussões que fogem às típicas conversas sobre máquinas, designadamente as lutas entre humanos e máquinas e afins...

Francisco Fernandes

Rui Bastos disse...

Francisco, a questão é exactamente essa... Até que ponto é que vamos poder negar uma identidade humana a uma máquina? Se ela for suficientemente avançada para ter criatividade e pensamentos próprios, o que a distingue de nós? E o que nos distingue a nós, Humanidade, dos deuses de várias religiões, criadores de Vida? A partir de quando é que vida artificial se pode considerar Vida como a nossa?

Tudo muito complicado!