Autor: Guy Delisle
Tradutores: Constância Egrejas e Claudio R. Martini
Sinopse (por algum motivo está em francês...)
Opinião: Depois de ler dois outros livros de Guy Delisle, tinha boas expectativas para este, o terceiro numa série de BD's de viagem sobre a visita do autor a países, digamos, complicados. Neste caso é Myanmar, antiga Birmânia, e o seu regime ditatorial aparentemente soft.
A diferença para os outros livros é que Delisle não se deslocou a este país em trabalho, mas sim a acompanhar a mulher, que trabalha numa ONG a tentar (já lá vou) desenvolver acção humanitária naquele país. Com eles levam Louis, o filho de ambos, como é óbvio, e o rapazito torna-se num incontornável centro de atenções, como os bebés costumam ser!
Esta aparentemente pequena diferença é na realidade bastante grande, pois muda completamente a dinâmica da narrativa, que é quase um diário. Aqui, Delisle não é chefe de ninguém nem tem qualquer tipo de obrigação que não esteja relacionada com o filho. Torna-se, basicamente, num pai numas férias muito longas num país desconhecido.
E isso leva a situações muito caricatas, desde o seu curto retiro espiritual à frustração de se tornar completamente invisível para toda a gente na rua, se não levar o filho atrelado. Acaba também por aprender a lidar melhor com o filho, e a cuidar melhor dele, mas ai dele que não o fizesse, tanto tempo passou com o rapaz!
Isto é tudo muito engraçado de acompanhar, mas falta-lhe qualquer coisa, que é a opressão bem explícita nos outros dois livros. O regime aqui é mais suave, igualmente idiota, mas mais suave. Não há grandes restrições aos estrangeiros, e os próprios birmaneses sabem o que é que a casa gasta e falam abertamente sobre o assunto.
Acaba por ser mais uma opressão nos bastidores do que outra coisa. Ou melhor, uma opressão nas altas esferas de influência, com óbvias consequências nas esferas mais baixas, mas consequências subtis. Ou que se manifestam de forma subtil, por mais intensas que sejam.
Crônicas Birmanesas acaba realmente por perder algum do interesse por isso, mas nada de grave. O humor de Delisle é mais do que suficiente para compensar tudo o que for preciso, e o seu traço simples e despreocupado afigura-se como o ideal para este tipo de histórias, por permitir bastante expressividade em tudo o que rodeia as personagens, em vez de ser exclusivamente centrada nas personagens.
Definitivamente um autor a seguir, de tal forma que já tenho Crônicas de Jerusalém de baixo de olho...
2 comentários:
O "Crônicas" é que me dá comichões!
Podia ser bem pior...
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