sábado, 7 de fevereiro de 2015

Extra-leitura


Num mundo perfeito todos os livros seriam vendidos em edições espectaculares e espectacularmente baratas. Ter cada um deles na estante seria um orgulho, pegar neles seria quase um momento de culto, e lê-los seria um sonho dentro de um sonho. Pelo menos para mim, que gosto quase tanto do livro-objecto como do livro-leitura.

Aliás, se me acompanharem regularmente é fácil de verem os vários momentos em que me babo para edições lindíssimas, ou em que me queixo de edições ranhosas. Para mim, ler envolve tudo, da capa à contracapa, sem excepção, e todos os pormenores são importantes.

Sei perfeitamente que não é assim para toda a gente. Conheço quem se esteja a borrifar, vá pegar numa edição qualquer da biblioteca, por mais podre que esteja, e lê satisfeito da vida. É válido, a leitura é exactamente a mesma!

Ou será? A pergunta que me faço, e a vocês, é se será realmente assim, se o tipo de edição não influencia a leitura? Pior ainda: deveria fazê-lo?

A mim sei que influencia, e não me importo nada. Se for um livro realmente bom, até o posso escrito em guardanapos agrafados uns aos outros, que fico bem. E se for um livro realmente mau, nem que venha numa edição banhada a ouro. Para o resto dos livros, bem, influencia um bocadinho.

Mais que não seja por comparação. Digam o que disserem, há edições que apetece emoldurar! Quando pego num livro assim, já vou satisfeito, e muito mais permissivo, digamos assim, para o conteúdo do livro. Perdoo-lhe algumas coisas, porque a capa é fantástica, ignoro outras, porque as ilustrações são um mimo... Enfim, deixo-me aldrabar pelo aspecto!

Não se preocupem que as minhas opiniões continuam a ser de confiança. Se um livro é mau, é mau, se é mediano, é mediano, e se é bom, é bom. Acabou. Mas dentro do mau, mediano, bom, há várias tonalidades, e sou mais simpático para um mediano se a edição for fantástica, e menos agradável para um bom se a edição for terrível.

Será que isto é bom? Válido? Eu acho que sim! Quando compro um livro, compro-o como um todo, quero que o livro seja bom e bonito. Já para não falar daquelas edições que têm um tamanho perfeito, que se tornam tão agradáveis de ler.

O outro ponto de vista também é legítimo, no entanto. O que realmente importa é o conteúdo, um livro não pode propriamente ter um valor diferente só porque a edição mais recente é consideravelmente mais agradável, e de capa dura e tudo isso. O que livros como a Odisseia já devem ter sofrido, desde as suas origens como uma espécie de audiobook da Grécia Antiga (começou por ser apenas uma história que se contava, que passava de pessoa em pessoa), até hoje em dia!

Continuo a gostar mais do meu ponto de vista. É por isso que tenho tanto cuidado com os livros que compro e os livros que leio. Se for um livro que quero mesmo ter, e do qual sei existirem mais edições, não me vou resignar a comprar uma edição feia, só por ser mais barata. Aliás, até nem me importo de gastar mais uns cobres numa edição toda xpto, que ainda por cima me vai ficar bem na estante. Não tenho problemas com isso.

Um livro, para mim, inclui tudo. Se vou gastar dinheiro, ao menos que seja em algo agradável aos sentidos!

5 comentários:

Anónimo disse...

Podemos por isto desta maneira:
Os livros bons têm necessariamente de ter boas capas e contracapas, senão é uma injustiça. O caso de Saramago é o mais flagrante: como é possível que a Porto Editora tenha ficado com os direitos de autor do de cujus e em vez de se superiorizar às edições da caminho vem apresentar "aquilo" de letras pequenas e assinadas por outros autores e, com todo o respeito, que consubstanciam uma grande merda...

Acabei há pouco tempo de ler as Crónicas de Allarya e apenas fiquei triste pelas infelizes capas recentes. Achava o tom das outras capas bem mais interessantes.

Uma coisa que me chama a atenção é o facto de os autores estrangeiros merecerem sempre melhores capas do que os autores portugueses. Se virmos capas como as capas de Harry Potter ou capas como a Guerra dos Tronos percebemos facilmente a qualidade superior destas em termos de desenho, acabamentos e tudo o demais em comparação com os livros cheios de fotos de Filipes Farias, Agualusas, Peixotos e afins.
Porquê? Não sei.

Outro ponto apenas para fazer referência às edições de bolso. Eu não vejo mal, mas confesso que me canso a ler letrinhas das edições de bolso. São mais baratas é certo, mas aquelas letrinhas, aqueles espaçamentos mínimos entre linhas... Não consigo.

Acho que quem é um diletante como nós somos adora os livros na sua totalidade e não apenas parcialmente a obra escrita. Adora as palavras, as folhas e capa. Claro que preferimos boas obras com capas feias a obras medíocres com capas fenomenais que nos vendem a banha da cobra.

Assim, concluo dizendo: óbvio que todos gostamos de capas lindas, mas o que interessa é o conteúdo... como em tudo na vida...

Francisco Fernandes

Sara disse...

Isto fez lembrar um livro que li em tempos e que estava tão velho que quase acabei com uma metade em cada mão...tb tive um que assim que o abri as páginas do início caíram. Não gostei menos das histórias por isso...lol Acho que todos os bibliófilos gostam de edições bonitas, mas não havendo à mão se uma pessoa quer mesmo ler um certo livro arranja o que houver, ou seja o exterior é secundário em relação ao interior :) Não que em Portugal haja muita escolha a este nível de qualquer modo...

WhiteLady3 disse...

Não acho que seja mais simpática para um livro mau só por que a capa é mais bonita que outra de um livro igualmente mau. E se há um livro verdadeiramente bom numa edição mázinha (ou com ilustrações, porque adoro livros ilustrados) é claro que vou tentar... nem será substituí-la mas fazer uma espécie de upgrade, porque apesar de tudo gosto dos meus livros usados, com espinhas e capas dobradas. São livros que foram vividos. ;)

Mas sim, cada vez mais tenho tentado comprar belíssimos livros, tanto em termos de ficar bem na estante como em termos de prosa, história e personagens. E quando encontro tudo isso num livro, não há nada que se lhe compare. :)

pco69 disse...

Depende da quantidade de livros que se compra. Comprando muitos (como eu comprava), prefiro o mesmo livro numa versão mais barata. Oara mim, o importante é o conteúdo e não a forma. Mas ainda bem que há opiniões diferentes.

Rui Bastos disse...

Francisco, isso é verdade, autores estrangeiros quase sempre equivale a boas capas, enquanto os portugueses ficam renegados às ranhosas... Mas também já vi um livro do Bradbury com a pior capa de sempre.

Claro que essas novas capas dos livros do Saramago me dão ânsias! Eu espero que a Caminho tenha muitos dos outros livros em stock, porque eu não quero ter que recorrer às edições novas, de maneira nenhuma...

De resto, tenho de dizer que concordo basicamente com o que todos dizem, só que pronto, eu realmente sinto que uma edição fixe me deixa mais satisfeito e portanto menos cáustico para com o livro. Claro que uma edição perfeita nunca irá salvar um "Principezinho" ou um livro do André Amaral, mas uma má capa pode estragar um bom livro, como os Saramagos de que falo ali. Eu até posso querer ler, mas não os quero ter, de todo.