quinta-feira, 14 de abril de 2011

Divina Comédia: Purgatório

Da última vez que falei da "Divina Comédia", disse que provavelmente iria demorar mais um mês a ler o livro todo. Pois bem, cá estamos, praticamente 1 mês depois, e ainda não acabei o Purgatório. Estou mesmo quase, faltam-me 5 cantos, ainda quero acabar hoje e começar a minha viagem pelo Paraíso, mas pronto, ainda não está.

Esta demora prende-se com várias coisas, a começar pelo carácter difícil da obra, e a acabar com a monstruosa falta de tempo livre, causada pela escola. Só agora que entrei de férias é que me consegui dedicar como deve ser à leitura calma e extremamente atenta que este épico merece, pois só assim consigo capturar minimamente a essência de todas as alegorias (embora haja muito que me escapa por completo, até depois de alguma pesquisa, são coisas que exigem um trabalho muito mais aprofundado do que aquele que eu consigo fazer) e apreciar verdadeiramente todos os pormenores desta obra.

Uma coisa que eu já tinha reparado ao ler o Inferno, e que se volta a repetir no Purgatório, é que todas as almas, salvo raras excepções, têm apenas um desejo em comum: que a sua memória se perpetue no mundo dos vivos. São várias as almas que se dirigem a Dante e que, ao despedirem-se, lhe pedem que fale delas, quando voltar a caminhar entre os vivos. Ou então dizem que só partilham a sua história com Dante se ele falar delas, no mundo dos vivos. Só mesmo os pecadores mais gravosos não o querem, por terem vergonha dos seus pecados.

Chegados ao Purgatório, vira o disco e toca o mesmo, mas desta vez com uma pequena nuance: as almas penitentes pedem a Dante para rezar por elas e para pedir às respectivas famílias que rezem por elas, além de lhe pedirem para avisar as famílias que se encontram no Purgatório, a redimirem-se dos seus pecados, e não no Inferno, onde provavelmente mereciam estar, não fosse o seu arrependimento.

Algo de que ainda não falei, embora talvez seja demasiado óbvio, é da religiosidade da obra. O Inferno é apresentado como um lugar absolutamente tenebroso, e fica bem claro o nível de macabro das penas a que cada tipo de pecador é condenado. O Purgatório, por sua vez, já é mais amigável, e mais focado nas almas que por lá andam, não dando tantas indicações do ambiente que as rodeia como acontecia no Inferno, onde o próprio sítio era descrito como insuportável e aterrador. E, como é óbvio, desde o princípio do livro que todo este caminho se faz com um objectivo em mente: Beatriz. A mensagem entra pelos olhos dentro, só se alcança a paz e a graça de Deus, depois de se sofrer no Inferno e de se penar no Purgatório. Traduzindo, não há paz eterna de graça, só com muito sofrimento e sacrifício se atinge o bem supremo. Enfim, coisas daquela tempo, imagino que uma obra deste género tenha dado jeito a muitos padres e bispos e afins.

Como única nota negativa, tenho que me chatear com as notas do tradutor. Já começam a ser absolutamente execráveis, estou a este (neste momento estou com o polegar e o indicador direito bastante próximos, quase a tocarem-se) bocadinho de simplesmente desistir das notas, até a leitura era mais rápida. Já são mais as vezes em que as notas me dizem quem está a dizer determinada fala, ou a quem se refere determinado pronome, do que as vezes em que me dão um contexto histórico, ou algo que seja apenas útil. É irritante e ligeiramente estupidificante ler algo deste género: "E Virgílio disse: Eu..." e depois uma fala qualquer, com uma  notazinha no eu, a indicar que é Virgílio que está a falar. Por amor ao Pateta, quem fez estas notas deve pensar que quem lê isto não sabe interpretar coisas básicas ao nível de uma criança de 3 anos...

Mas pronto, no geral estou a adorar, uma excelente obra e uma excelente experiência!

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