segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Siddartha

Título: Siddartha
Autor: Hermann Hesse
Tradutora: Hilda Rosner


Opinião: Já há algum tempo que tenho bastante curiosidade relativamente a este autor, um prémio Nobel, alemão (li pouco de alemães) e com boa fama. Este livro, pequenito, pareceu-me o ideal para servir de introdução à sua obra.

A verdade é que é mesmo pequeno, Siddartha consegue ser bastante pesado, à sua maneira. Siddartha é o filho de um Brahman, uma espécie de sacerdote hindu, que é criado com o intuito de se tornar, ele próprio um Brahman.

Mas Siddartha tem uma mente pensante bastante activa e começa a magicar umas ideias e umas conclusões sobre a sua religiosidade e o que significa atingir de facto a santidade e a liberdade e paz de espírito, e conclui que aquele não é o caminho certo.

Segue então para os Samanas, uns eremitas ascéticos que tentam atingir a paz e a superioridade espiritual através da renúncia total a toda e qualquer posse. Siddartha é acompanhado nesta viagem por Govinda, um amigo de infância que muito o admira e à sua mentalidade.

Aqui é que tudo começa a ficar interessante. Depois de algum tempo entre os Samanas, o protagonista apercebe-se de que já ouviu tudo o que havia para ouvir e que aquilo não é para ele. Nem devia ser para ninguém. Ah! A conclusão dele é que não se pode simplesmente aprender a ser santo e elevado através dos ensinamentos de ninguém, por mais místicos e iluminados que os ensinamentos e os próprios professores sejam.

O ciclo volta a repetir-se e Siddartha parte outra vez, acompanhado de Govinda, e prossegue numa viagem espiritual e de crescimento pessoal em que se dedica a atingir a plena paz de espírito através da única maneira que acha possível: vivendo.

É interessante ver Siddartha a encontrar Gotama, o Buda, e a recusar os seus ensinamentos, ainda que reconheça alguém que atingiu o que ele quer atingir, para depois passar uma temporada a viver como uma "pessoa normal", sem renunciar a nada, tornando-se inclusivamente rico e cedendo às tentações da carne com bastante frequência.

A evolução de Siddartha é fascinante. Evolução e constante retrocesso, como se cada passo que desse o fizessem perceber de que estava apenas a voltar atrás. O que é transmitido ao longo da história é uma abordagem surpreendentemente sensata à vida: nem renunciar a tentações nem a prazeres, mas antes vivendo os dois, só assim é que alguém cresce, aprende e pode almejar atingir a paz de espírito.

Pelo meio há uns meandros filosóficos relativamente intricados, especialmente na sua estadia com um velhote simpático e sábio, mas que se revelam profundamente simples, no fim. O truque é exactamente não pensar demasiado nas coisas. Uma conclusão interessante para o protagonista, que tem um fim condigno.

No meio disto, a história em si não me conseguiu cativar por aí além, e muito menos a escrita, mas o livro é antigo e traduzido, portanto dou-lhe o benefício da dúvida. É uma leitura interessante, isso sem dúvida, mas que peca pela falta de características que permitam a identificação com o leitor, algo que acho que seria essencial numa obra deste género.

Mas também acho que é daqueles livros que cada pessoa lê de forma completamente diferente, portanto aventurem-se!

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