Cá estou eu, cinco anos depois de tudo ter começado. Uma ideia simples da Alice que se tornou num projecto de grande envergadura pessoal. Podia até dizer que escrever para o Que a Estante nos Caia em Cima se tornou no meu primeiro emprego.
Pois é. Quando penso nisso mais a sério, vejo que gasto uma quantidade absurda de horas com isto. Entre escrever, planear, pensar, pesquisar, arrumar, limpar, gerir e sei lá mais o quê, aqui fica um pedaço da minha semana.
Às vezes arrependo-me um pouco. Isto ainda dá trabalho. E já há algum tempo que sinto uma certa responsabilidade para com quem vem visitar. No início era fácil, as opiniões mal passavam de resumos com um "gostei muito!!" no fim, e publicava quando me apetecia.
Mas depois comecei a ter mais visitas e mais seguidores (e poucos comentários, mas já lá vou). A partir de certa altura começaram a haver pessoas que vinham cá com regularidade, que acompanhavam o que eu escrevia, as minhas opiniões e as minhas crónicas. Comecei a sentir, cada vez mais, que além de ser para mim, isto também era para outras pessoas. Principalmente para outras pessoas.
O meu objectivo nunca foi o de ter um sítio para me gabar das minhas leituras, mas sim, tal como ficou acordado com a Alice há meia década, o de ter um sítio para discussão e incentivo à leitura. Como tal, era importante que me passasse a esforçar como deve ser para escrever textos decentes.
Ninguém quer cá vir ler resumos. Ou melhor, eu não quero que isto se torne num repositório de resumos, para que a juventude que é obrigada a ler livros na escola não tenha de os ler. Quero ter opiniões e crónicas interessantes, cativantes e que transmitam aquilo que me vai na cabeça.
E durante uns tempos andei bastante satisfeito. Consegui criar ritmo e actualizar regularmente. Por menos tempo que tivesse, um problema que ainda me aflige, arranjava sempre forma de escrever qualquer coisa para ser publicado quando era suposto. Como tem acontecido nestes últimos tempos.
Só que isto nem sempre foi espectacular para mim. Já tive momentos em que me apeteceu largar o blog e remeter-me à minha vidinha, nariz enfiado nos livros sem me preocupar com ter que escrever uma opinião no espaço de uma semana, para não me esquecer de nada. E sim, já pensei seriamente em fechar o blog e fazer isso.
Ainda agora, que isto anda relativamente encaminhado, me sinto assim. Seja por não conseguir aumentar o número de visitantes diários, seja por ter poucos comentários, seja por achar que perco demasiado tempo com isto, seja por não estar a gostar de como as opiniões andam a ficar, a verdade é que penso em parar, de vez em quando.
Também não me posso queixar muito do número de visitantes, mas confesso que quando passam meses e anos e os números não evoluem de forma positiva, fico um bocado desanimado. A questão dos comentários é mais grave, pois isso aborrece-me mesmo, e não só por aqui mas em toda a blogosfera. A sensação que tenho é a de que há muita gente a ver, mas muito pouca a comentar. E não percebo porquê. Os blogs servem (de uma forma geral) exactamente para a discussão e para a interacção! Onde é que ela anda?
E por aqui gostava realmente de ter mais comentários. É sinal de que as pessoas leram de facto as coisas e que se está a discutir o assunto, seja ele qual for, e isso é importante. Só espero que isso melhore.
Já a questão do tempo, não tenho que lhe fazer. Já consegui arranjar um sistema que funciona mais ou menos bem, que é simplesmente ter coisas escritas armazenadas, que posso publicar em casos de aperto. Agendo com alguma antecedência e não tenho problemas de maior. Perco na mesma tempo a escrever, mas se num estiver lançado e escrever dois textos, já fico com meia semana garantida.
O último ponto é capaz de ser o mais crítico. Não ando a gostar muito das opiniões e crónicas que escrevo. Também não ando inteiramente satisfeito com as outras coisas que escrevo. Sinto que conseguia fazer melhor e que só não faço porque não me empenho como deve ser, e que não me empenho porque "ando desencantado" com o blog.
A questão de desistir levanta-se nessas alturas: quando isto já não me dá o prazer e a satisfação que deu durante anos. E nunca sei muito bem se os grandes blogs literários que por aí andam, com várias publicações por dia, cheios de passatempos e parcerias e publicidades e seguidores me motivam ou me desmotivam. Se por um lado acho que os devo combater, por serem banais e efectivamente desnecessários na sua grande maioria, pois limitam-se a repetirem-se uns aos outros, por outro não consigo evitar sentir-me sufocado no meio disto. Quem é que me vai ler?
Essa pergunta insiste em aparecer-me em frente, e tenho sempre respondido que "há aí pessoal interessado e que se mantém activo e presta atenção". E também penso sempre em outros bloggers que sigo e admiro, os que se mantêm fiéis aos seus objectivos simples de divulgação e discussão literária, pouco interessados em terem um número suficiente de seguidores para começarem a receber livros de borla. Enquanto houver pessoas assim, vale a pena.
É assim que após cinco anos, cá ando, mais ou menos motivado. Se tiveram paciência para lerem o texto todo (coisa que também rareia, pessoas com paciência para lerem mais do três ou quatro parágrafos magrinhos), já sabem o que penso. Se quiserem um resumo que vos poupe a coisas como "sentimentos", o essencial é que me vou esforçar activamente para escrever melhores opiniões e melhores crónicas, e que gostava mesmo muito de ter mais visitantes e, acima de tudo, mais comentários.
A quem me segue, quem me lê e quem comenta, obrigado. Por tudo.