quarta-feira, 8 de abril de 2015

O Círculo de Pedra (A Idade das Trevas #3)


Autora: A.J.Lake
Tradutora: Maria de Fátima St. Aubyn


Opinião: É uma pena que uma trilogia com algum potencial tenha sido completamente desperdiçada. Os conflitos das personagens são interessantes, a premissa é bem lançada (ainda que pouco original), e o ambiente/cenário está bem construído. Mas tudo isso cai aos pés da inexperiência da escritora e dos erros na construção da própria narrativa, assim como na forma como caracteriza as personagens.

Para começar, nunca há uma caracterização minimamente bem feita. Ou são coisas óbvias e explícitas, como uma personagem dizer que a outra é teimosa, ou simplesmente não existe. De tal forma que as personagens têm acções contraditórias e reacções despropositadas e imprevisíveis a todo o momento. Porque nunca as chegamos a conhecer como deve ser.

Também existem várias linhas narrativas, ainda que na realidade redundem todas na mesma, de uma forma ou de outra. Se não o fazem, são completamente irrelevantes para a história. Mas é que completamente. Aliás, uma das personagens mais interessantes de toda a trilogia aparece num total de meia dúzia de capítulos durante os três livros. E quem diz pessoas, diz dragões, que são tão mal usados que até dá dó.

E os plot twists que são óbvios? Para não estragar eventuais leituras, vou fazer uma comparação que estraga na mesma a leitura para quem tiver dois dedos de testa: imaginem que o tipo que vos bateu na primária e que usava sempre o mesmo colar ao pescoço desapareceu depois de lhe darem um olho negro; agora imaginem que esse tipo é um deus nórdico antigo; e agora que no dia a seguir encontram um miúdo chamado Lobo (em pele de cordeiro? até o simbolismo é óbvio) com um colar estranho e um olho negro? Desconfiam de alguma coisa? Não pois não? Bem me parecia.

Então e o capitão de navio, veterano experiente, que naufraga, quase morre afogado, é resgatado e passa a viver como servente do seu salvador, e que quando confrontado com um deus nórdico antigo quase omnipotente com três metros de altura e envolto em chamas a atacar-lhe a filha, diz "Magoaste a minha menina, seu bruto?" ? Demasiado bom para ser verdade? Concordo. Mas não deixa de ser verdade.

Enfim, estão a compreender o meu sofrimento, não estão? Este livro nem sequer é uma boa conclusão para a trilogia. Segue as regras todas da demanda heróica, mas não existem realmente consequências. A protagonista quase ficou sem braços num incêndio? Que tal água mágica do povo mágico que se recusa a envolver na luta contra o inimigo mágico? O quê, afinal foi outra personagem que teve de se sacrificar? Mas não faz mal, pois não, afinal, ficou para sempre unido à sua amada que julgava perdida! Calma, o outro protagonista ficou cego? Não há problema, que ele tem um dom que devia ter desaparecido, mas afinal não, e que o deixa ver pelos olhos dos outros seres vivos.

No meio disto tudo, quanto tempo é que demora o clímax? Dez páginas. O total das batalhas épicas é cerca de trinta páginas espalhadas por três livros. E isso não seria completamente desagradável, se fizesse sentido... Mas não faz. A autora é capaz de perder capítulos inteiros a descrever as demandas por comida das personagens, mas é incapaz de descrever uma batalha épica como deve ser.

Ou seja, não há salvação possível. Suportei os dois primeiros livros, com a esperança de que o terceiro talvez melhorasse a coisa e desse um final digno à história, mas não. Até me custou a acabar o livro, tive mesmo que me obrigar a fazê-lo, o que não é bom sinal. Eu só gostava que uma autora que vem descrita nas três contracapas como sendo interessada "pelo período da história inglesa conhecido como a Idade das Trevas" tivesse retratado a Idade das Trevas britânica como algo mais do que um sítio onde os nomes soavam meio alemães, havia desentendimentos com dinamarqueses e os deuses nórdicos davam uma ajudinha...

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