sábado, 25 de abril de 2015

Estantes Emprestadas [16] - Universos Partilhados


O Joel é um tipo fantástico. É mais um amigo/colega da Oficina de Escrita que recruto para esta rubrica, e mais um que de certeza me vai responder de forma espectacular. Dono de um humor peculiar, mas fantástico, e de uma imaginação sem limites, podem segui-lo principalmente pelo seu site e restantes links que por lá encontrarem. Acreditem que vale a pena. Já o entrevistei, já lhe li algumas coisas mais pequenas, e outras assim a dar para o maiorzito, além de todos os contos que submeteu para a Oficina, e sou fã. Vocês preparem-se!


Tenho um fraquinho por Universos partilhados. Nem vale a pena tentar esconder. Há qualquer coisa no conceito de algo maior onde todas as histórias cabem, que me fascina. Aquela sensação de continuidade ao longo de vários livros independentes, ou que atravessa vários episódios de várias séries diferentes... É qualquer coisa.

Já tentei muitas vezes tentar perceber o porquê, e ainda não tenho a certeza. Mas em parte só pode estar relacionado com a forma como esses Universos me deixam mergulhar mais completamente nas histórias. Mais que não seja porque o autor teve que pensar em muito mais do que apenas aquele livro e aquela história, tornando-a assim mais coerente e mais forte.

Por outro lado tem a ver com fascínio puro. É quase como uma mitologia. Uma história muito maior do que aquela que estiver a ler naquela momento, e que de certa maneira tem influência em tudo. Já para não falar dos pormenores que vão surgindo aqui e ali, por vezes de tal forma subtis que passam completamente ao lado até sabermos da história toda.

E nessa altura, tudo faz sentido. Pode ser uma explicação dada pelo autor numa entrevista, ou uma situação demasiado óbvia noutro livro, mas dá-se aquele click e todo um novo mundo universo se abre diante de nós!

Querem um exemplo simples e porreiro? A Middle-Earth de Tolkien. Não exemplos muito melhores de um enorme Universo dentro do qual o autor inseriu (quase) todas as suas histórias. Funciona? E de que maneira! Tolkien é um caso particular, que o mundo que ele criou é particularmente detalhado e ele foi particularmente meticuloso nos seus livros, mas não deixa de ser representativo por causa disso.

Aqui está um bom exemplo de um autor que cria um universo e depois escreve histórias sobre o que se passa nesse mundo. Adopta diferentes (mais ou menos, vá) pontos de vista, aborda diferentes (mais ou menos, vá) histórias e consegue realmente construir toda uma mitologia, digamos, funcional.

Outro caso completamente diferente é o de Stephen King, que não só é um dos meus autores favoritos, como foi um dos primeiros de cujo Universo partilhado me apercebi. Isso acontece porque ainda não li nada de Dark Tower, saga na qual já me prometeram existir todas as ligações/explicações e mais algumas; e também porque King o faz de forma extremamente subtil. Pelo menos nos livros que li.

Para começar, nem todos os livros precisam de estar inseridos nesse Universo. Depois a forma como o faz é com a introdução das mesmas personagens uma e outra vez em vários livros diferentes, muitas vezes sem qualquer relevância para o enredo. Ou então um vilão que nunca é bem explicado num livro mas que faz todo o sentido para quem tiver lido o segundo.

Mas isto não fica por aqui, que continua a existir muita gente a insistir neste fenómeno, que é de facto extraordinário. E difícil de cumprir. Mas há mais um autor que faz isto muito bem (acho eu, que ainda não lhe li assim tanto quanto isso): Brandon Sanderson. Este tipo sim, é subtil. Uns nomes largados aqui, uns nomes largados acolá, países e cidades e raças estranhas, sempre no tom simples, calmo e divertido que usa sempre.

Quando descobri, depois de ler a trilogia Mistborn, que todos os seus livros estavam de alguma forma relacionados uns com os outros. Não imaginam a minha excitação!

Fora da literatura também há coisas interessantes, embora alguns casos tenham que ser abordados com uma mente aberta, pois não são bem Universos partilhados, ainda que o sejam. Como por exemplo, Doctor Who, que eu consigo sempre, de alguma forma, usar para explicar ou falar sobre alguma coisa. É incrível. Mas bem, Doctor Who, a série?

Errado. Doctor Who, a série, o filme, os livros, as bandas-desenhadas, os jogos, etc, ok? A grande diferença é qual a abrangência da partilha. Tolkien partilhava o seu Universo pelas várias histórias que escrevia; Doctor Who, por outro lado, partilha a sua história por uma série de meios, desde a série original até às bandas-desenhadas que ainda não saíram, existe de tudo um pouco!

E não nos podemos esquecer dos grandes Universos dos pesos pesados das BD's americanas: Marvel e DC. É fácil de esquecer que sejam realmente Universos partilhados, mas são, e dos bons! Bem, pelo menos dos mais completos, ainda que também dos mais incongruentes.

O mais incrível ainda consegue ser o que se faz por cá. Milagre, não? Um bocado. Mas a Imaginauta esforça-se, em parte, exactamente para contrariar esse preconceito: histórias são boas, ficção especulativa é boa, universos partilhados são bons. Deixai-os andar!

Tudo isto para vos mostrar que estes Universos andam por aí, muitas vezes escondidos nos detalhes, de tal forma que até passam despercebidos. E também que valem a pena. De certa forma, este tipo de Universos, depois de descobertos, quase que obrigam a um certo investimento da parte dos leitores, que começam a sentir que fazem parte. Pelo menos é o que me acontece a mim.

E além disso, esses Universos partilhados servem como base para muita coisa, e acabam, de vez em quando, por sustentar completamente várias histórias. Ou então dão uma nova profundidade a determinado livro. Como por exemplo, ao Hobbit, que é porreiro por si só, mas que quando lido sabendo tudo o que sabemos sobre a Middle Earth se torna muito melhor.

Mas ainda falta falar de uma coisa: os Universos partilhados que não o são realmente. Ou se preferirem, os Universos partilhados que são feitos à força pelos fãs. Aquelas ligações estranhas que se fazem entre as coisas, seja por coincidência seja por vontade deliberada de alguém. Já vos aconteceu? E a ti Joel?

Por favor digam de vossa justiça, e fiquem à espera da resposta do Joel, que será de certeza bastante interessante!

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