sexta-feira, 29 de maio de 2015

The Lifecyle of Software Objects

Autor: Ted Chiang



Opinião: Ted Chiang, sempre a surpreender. Conto atrás de conto, novela atrás de novela, aquilo que este tipo escreve consegue deixar-me arrebatado de todas as vezes. Nem sequer estou a exagerar! O meu conhecimento de autores de ficção científica actuais é relativamente escasso (pelo menos em termos de leituras), mas Chiang é sem dúvida um dos melhores, capaz de rivalizar facilmente com alguns nomes mais clássicos.

Isto porque a sua escrita é simples e descomplexada, mas extremamente eficaz. Tem momentos directos e momentos bonitos, e prima pela simplicidade propositada, que sai tão bem a este autor. Já para não falar de que é uma escrita que encaixa na perfeição no tipo de histórias que Chiang conta, ficção científica centrada em ideias, que aborda temas complexos com abordagens simples.

Nesta novela em particular, o tema é a vida artificial. Mais concretamente, a vida digital, e a nossa reacção à sua existência. A protagonista é uma especialista em treinar animais que é contratada por uma empresa de software para treinar uma espécie de animais digitais com características curiosas.

O ponto de partida, como sempre, é tremendamente básico. Simples. Mas Chiang consegue construir a partir daqui com uma habilidade extraordinária. E a melhor parte é que expõe vários pontos de vista sobre a questão, não deixando bem claro qual é a sua posição sobre o assunto, mas como que deixando à escolha de quem lê.

Em suma, isto é boa ficção de ideias. Tem certas inclinações, é certo, a ideologia de cada um é difícil de esconder quando se escreve, mas Chiang faz um trabalho notável a deixar várias alternativas em aberto.

E no fundo, esta história acaba por se tornar numa experiência de acontecimento. "O que aconteceria se...", sem tirar nem pôr. O boom de novidade que a criação destas formas de vida digitais é, seguido do inevitável apogeu e descalabro, modernizações e criaturas que se tornam obsoletas, os níveis de consciência a aumentar, estranhas experiências sociais que obrigam a delimitar muito bem a ética e a moral da situação, desde uma espécie de prostituição ao isolamento total.

Enfim, ler The Lifecycle of Software Objects é encontrar Ted Chiang no seu melhor, a criar, desenvolver ou reutilizar conceitos que aplica muito bem na sua história, que vai evoluindo de forma bastante orgânica e natural, não se focando apenas nos protagonistas, mas também naquilo que os rodeia. Desta forma, acaba por contar uma história muito maior do que a de duas pessoas envolvidas no assunto.

Confiem em mim, vale a pena, vale mesmo muito a pena. Editoras portuguesas, publiquem Chiang por cá que vão ver-me a comprar que é um doce!

3 comentários:

SMP disse...

Só por causa disso, pega lá: The Great Silence pelo Ted Chiang.

Anónimo disse...

Também adorei o livro - achei todas as histórias bastante "neat" - limpinhas e direitinhas, excepcionais, com boa caracterização de personagens, mas sem detalhes excessivos, não se perde em narrações, conciso, mas não alienante :)

Rui Bastos disse...

Sandra, hei-de ler nas proximidades ;)

acrisalves, Ted Chiang é isso mesmo. Muito bom :)