Publiquei ontem o texto em que defendo a minha tese pessoal de que ter um e-reader é do caraças, e esqueci-me dum grande ponto a favor que, parecendo que não, foi importante na minha decisão de comprar o aparelho.
Falo dos contos. Sou fã confesso. Tenho uma paixão enorme pela literatura em geral, mais nalgumas áreas que noutras, mas os contos ocupam um cantinho especial no meu coração literário.
Para começar, porque tenho a mania que escrevo contos. Escrever, escrevo muita coisa, este blog é prova disso mesmo, e já tentei, obviamente, escrever um livro. Vários, até. Tarefa sempre em vão, nunca me dou por satisfeito com o que está a sair e decido não avançar mais, ou acabo por esquecer o projecto ou por me desinteressar dele.
Com os contos não acontece a mesma coisa. A sua estrutura mais curta é perfeita para aspirantes a escritores: não é tão longa como uma romance e permite toda uma série de malabarismos completamente impossíveis, ou pelo menos muito mais complicados, de executar com a estrutura longa de um romance.
Um conto não exige muito detalhe, apenas o suficiente para situar o leitor dentro da história, nem muitas personagens, o ideal até é ter poucas. E é muito mais susceptível a experimentalismos que levam frequentemente a autênticas obras-primas da literatura.
Obras-primas essa que passam despercebidas, porque o conto é visto como uma classe menor da literatura. "Ah escreves contos? Então e um livro, quando é?". Escrever romances é que é ser um escritor, os contos são para publicar em jornais e revistas underground, meras brincadeiras de preparação para algo maior e mais sério!
A pessoas que pensam assim chamo eu idiotas, sem pensar duas vezes. Basta pensar em H.P.Lovecraft e Edgar Allan Poe, dois dos autores mais geniais de sempre e cuja obra é maioritariamente constituída por contos. Mas enfim, nem quero entrar muito por aí, para não limitar o resto deste post a uma grande e populosa lista de escritores que foram brilhantes contistas, além de, ou em vez de, excelentes romancistas.
E sim, eu sei que a definição de conto pode ser discutível, e que a coisa só fica pior quando se consideram noveletas e novelas, pois a linha entre conto e noveleta e entre noveleta e novela, e consequentemente entre conto e novela, é bastante ténue. Há quem imponha limites de tamanho, mas isso é sempre muito relativo, portanto prefiro, sinceramente, manter-me na indefinição. Contrariamente a todos os meus instintos de encontrar uma série de critérios objectivos que permita categorizar, etiquetar e arrumar cada pedaço de texto escrito, quanto a este assunto peço apenas que me deixem ler o pedaço em questão, e logo vos digo o que é.
Mas tudo isto para dizer algo que acabei por não dizer. A tal vantagem é a leitura de contos. Um conto normalmente vem numa antologia, ou algo parecido, mas raramente são de facto publicados assim. Muitas vezes encontram-se contos aleatórios espalhados pela internet, seja de autores mais recentes, que tentam entrar no mundo da literatura, ou cimentar o seu lugar, seja de autores mais estabelecidos, que os disponibilizam de forma gratuita, ou que estão disponibilizados de forma gratuita, no Gutenberg.
Com um e-reader torna-se fácil simplesmente descarregar um conto e lê-lo normalmente, sem ter que estar preso ao ecrã do meu computador, nem a agarrar num calhamaço com outros tantos contos que nem sequer me interessam, na altura. É exactamente isso que ando a fazer com os contos do DN, uma iniciativa que juntou uma autêntica resma de autores portugueses dos mais variados estilos, e disponibilizou gratuitamente um pequeno conto de cada um, em forma digital.
Portanto, o que vou fazer é o seguinte, vou passar a dar mais destaque aos contos. Parece-me apenas justo que passe a referir com mais frequência este tipo de obra literária que tanto aprecio, e o e-reader é a ferramenta ideal para que leia mais contos isolados.
A acompanhar isso vou criar uma nova página para os contos, com direito a separador ao lado daqueles quatro ali em cima, que nos primeiros tempos será apenas uma lista de autor-conto-autor-conto-autor-conto, mas que de certeza que irá crescer e tornar-se muito mais interessante que isso.
4 comentários:
Também gosto imenso de contos, mas em papel. Adoro o cheiro do papel, manias...
É um dos sacrifícios com uma coisa destas...
Também gosto imenso de contos, tanto de ler como de os escrever. No entanto, continuo a preferir a versão em papel. Parabéns pelo Blog!
Já somos dois quanto à primeira parte :) Mas confesso que já me rendi ao formato electrónico... Obrigado!
Enviar um comentário