É demasiado fácil, não é verdade? Só têm que ler o título para me imaginarem a refilar por causa dos vampiros sensuais, dos anjos sensuais, dos zombies sensuais, dos livros sensuais, e de outras coisas não necessariamente sensuais que por aí andam e que chateiam toda a gente.
É. Demasiado. Fácil. Vampiros que brilham e se tornam vegetarianos, no mesmo mundo em que os "lobisomens" são gajos com alergia a roupa da cintura para cima, e que se podem transformar quando lhes apetece... Aborrecem-me.
A onda de vampiros sensuais que por aí apareceu a seguir tornou-se num autêntico tsunami que entretanto começou a arrastar água de outros mares: anjos de físicos impecáveis armados em Romeu, por exemplo.
Ou zombies com um ligeiro vislumbre de consciência e armados em Romeu. E já nem falo da literatura porno para donas de casa que também anda a despontar que nem cogumelos num canto húmido.
A sério, o que raio é que andam a pensar? Eu sei que isto de seguir modas é a coisa mais comum de sempre, e que raramente dá bom resultado, mas as pessoas que lêem é suposto serem espertas.
Não quero ofender ninguém, a sério que não. Mas caras pessoas que só lêem essas sagas ranhosas sobre o-que-quer-que-seja sensual, claramente direccionadas para raparigas com as hormonas aos saltos, não vos posso dar muito crédito.
E quanto às donas de casa que lêem porno à paisana com o chicote de fora, até me aborrece menos que leiam isso do que histórias com vampiros que brilham ao Sol. Mas se há algo que me chateia é que lancem os vossos ares do mais profundo nojo quando alguém fala de porno, e que se sintam genuinamente ofendidas quando alguém diz que o que estão a ler é porno.
Se tem pessoas nuas a fazerem coisas para maiores de 18 como tema central da história, garanto-vos, mesmo não sendo especialista, que isso é porno. Escondam a capa o que quiserem, mas estão a ler porno. Porno. Porno.
E isto são as pragas mais visíveis hoje em dia... Eu nem sei bem, mas tenho medo de pensar nisso muito para trás no tempo, e ainda mais medo se estivermos a falar de andar para a frente.
No passado não sei bem quais foram as pragas, tirando uma que ainda vigora hoje em dia, que é a de escrever coisas profundas, como poesia ou prosa muito poética, mas sem que faça qualquer sentido. Escrita moderna. Demasiado avançada para que as nossas mentes mortais a captem.
O melhor é não me pôr a pensar muito nisso, ou ainda deparo com alguma moda que só gerou obras de alto calibre, e toda a minha resmunguice vai por água abaixo. Pensemos no futuro.
Tenho, por exemplo, medo que daqui a uns anos, não muitos, a expressão "o livro com o Big Brother" deixe de se referir ao 1984 de George Orwell para se passar a referir a uma novelização qualquer de um desses programas estúpidos, ou algo parecido. Nem sei como é que ainda ninguém se lembrou disso. Vou riscar este parágrafo, para dissuadir as pessoas de o lerem, just in case.
Gostava de vos poder dizer que tenho esperança de no futuro começarem a haver pragas boas. Que escrever histórias de terror vai estar na moda. Que a ficção científica vai estar tão na berra que os fãs hardcore vão deixar de gostar, porque toda a gente gosta.
(Eu talvez esteja a misturar fãs hardcore de FC com indies, mas às vezes parecem ter os mesmos ideias, assim como os fãs hardcore de livros do género Fantástico em geral. Contra mim falo.)
Mas infelizmente não sou uma pessoa com grande fé em quase nada. Este tipo de esperanças está praticamente condenada à partida, para sempre. A boa literatura Fantástica parece pré-destinada a ser uma literatura de nicho. Um nicho que tem vindo a crescer, mas um nicho.
Quer dizer, com tantas sagas juvenis que por aí andam, acredito que mais uns anos e o Fantástico se comece a disseminar. Mas se for a seguir o caminho que está a seguir actualmente... Enfim.
Com tanta coisa dita sem dizer grande coisa, o melhor é calar-me enquanto não digo algum disparate muito grande. Esta é apenas a minha opinião, ligeiramente arrogante, ligeiramente elitista, ligeiramente pessimista, mas quando se é ligeiramente arrogante, ligeiramente elitista e ligeiramente pessimista, não se pode pedir muito mais não é?
Acho que mesmo assim há mais leitores, nada como eu, nem ligeiramente nem extremamente, que acham o mesmo. Pessoalmente digo: "parabéns, estão certos, porque concordam comigo". Em termos racionais digo algo mais: "não estou sozinho, o que significa que não posso estar muito errado, ou que pelo menos tenho companhia na minha palermice!".
Sintam-se à vontade para discordar, preparem-se é para eu refilar de volta.