sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Conde de Monte Cristo (Volume I)

Título: O Conde de Monte Cristo (Volume I)
Autor: Alexandre Dumas
Tradutora: Alexandra Maria Matos de Amaral Maria Ribeiro

Opinião: Depois de muito me azucrinarem para que lesse este livro, cedi e lancei-me na tarefa hercúlea de tentar entender-me no meio da (bastante) intricada história de vingança de Edmond Dantès, ou Sinbad, ou Abade Busoni, ou Conde de Monte Cristo, ou sei lá mais quantos nomes.

Muito à semelhança do típico épico de Fantasia, este livro está pejado de personagens, cada uma com meia dúzia de nomes diferentes e outros tantos títulos nobiliárquicos e afins.

Curiosamente, no entanto, não senti a necessidade de um glossário de 50 páginas a identificar todas as personagens, embora apareça uma passagem confusa de vez em quando. Dumas conseguiu tornar a leitura muito fluida, o que só pode ser fruto de uma capacidade de escrita e de organização mental tremenda, tendo em conta a complexidade do enredo e a trama complicadíssima que liga todas as personagens umas às outras.

O que se passa é que tudo o que acontece, com toda e qualquer personagem, está de alguma forma ligada a Dantès, seja ao seu passado, ao seu futuro, ao seu suplício, às suas memórias apaixonadas, ou, o que é mais provável, à sua demanda vingativa.

Acho que já ninguém se deixa enganar: O Conde de Monte Cristo é um livro sobre vingança. Alguns podem até dizer, não completamente desprovidos de razão, que é O livro de vingança.

Parte da culpa é da história, uma trama brilhantemente urdida e delineada, que nada fica a dever aos esquemas políticos e conspiracionais do nosso governo dos normalmente encontrados na Fantasia medieval. Mas é preciso fazer justiça ao fulcro de toda a história, uma personagem tão carismática e bem construída que quase me parece real: Edmond Dantès.

A sua história até começa por ser simples, e pode-se resumir em poucas palavras: tinha uma vida perfeita e foi completamente lixado. O jovem Edmond via a sua carreira a singrar, tinha algum dinheiro para viver confortavelmente, preparava-se para casar com o amor da sua vida, enfim, tudo o que possam imaginar e, de repente, tudo lhe é tirado. Até a liberdade.

Este homem traído é uma personagem genial e que realmente faz avançar a história, seja como Edmond Dantès, o jovem promissor tornado prisioneiro, ou Conde de Monte Cristo, o milionário excêntrico e quase idolatrado por todos o que o conhecem.

Mas o livro não é perfeito. Tem alguma palha, confesso que achei que tinha demasiadas páginas. Podia perfeitamente ter menos uma ou duas centenas de páginas, mas nada muito grave. E o resto das personagens passaram-me um bocado ao lado. Dantès é literalmente um sugador de atenção, um autêntico pólo de interesse, e todas as outras personagens, menos detalhadas e realçadas, parecem aborrecidas e sem vida.

Mesmo assim, o que mais me chateou foram os salamaleques típico dos clássicos, todo aquele protocolo social absurdamente ridículo (mas que pronto, é de época), pessoas a desmaiarem por dá cá aquela palha, uma intensidade e um dramatismo exagerado... O habitual.

O que vale é que estes pequenos defeitos podem facilmente ser ignorados quando se olha para a forma lenta e fria como Dantès planeia, prepara e executa a sua vingança. É uma força da natureza em câmara lenta, a dar a sensação, a cada passo, que podia esmagar todos os seus inimigos com um leve gesto de mão, mas que mesmo assim se controla e se contém, esperando pelo momento ideal, juntando pedacinho a pedacinho daquilo que precisa. Verdadeiramente aterrorizadora é a única forma de que me consigo lembrar para descrever esta vingança.

Em suma, e apesar de isto ser apenas meio livro, afirmo já com toda a certeza que O Conde de Monte Cristo merece ser lido, e é um livro épico, tremendo e muito bem escrito.

7 comentários:

Sara disse...

Típico de alguns clássicos queres tu dizer...



Rui Bastos disse...

Dizer que é típico não implica que aconteça em todos, mas sim em muitos... O que me parece que é indiscutível, aquele estilo de personagens inocentes e diálogos formais, esse tipo de coisas :)

Sara disse...

Naturalmente nos que foram escritos nessa época...Felizmente nos que vieram a seguir já não há tanto disso. Farto-me de rir com esses exacerbamentos...Quando dei o Frei Luiz de Sousa nas aulas estava sempre com vontade de rir até nas partes dramáticas....

João Campos disse...

Tens um "Conde de Monte Cristo" na FC: "The Stars My Destination", de Alfred Bester. Se ainda não leste, fica a sugestão (é excelente).

Rui Bastos disse...

Sara, mesmo assim há algumas coisas que só dão é para rir! O "Frei Luís de Sousa" é um caso especial, eu fiquei apaixonado por um "Faredes como mandado vos é!" que por lá foi atirado a alguém :)

João, um "Conde de Monte Cristo" versão FC, you say... Ainda por cima dizes que é excelente... É que vou já procurar!

Sara disse...

Acho que quem diz isso é a Maria para o Telmo que é o escudeiro...eu gosto da parte do quem sois vós espectros fatais...E dos desmaios. Muito desmaiava aquela gente!

Rui Bastos disse...

Excelentes exemplos daquilo que provavelmente mais gosto nos clássicos: a linguagem!

Confirmam-se é os desmaios xD