Título: A Luz Miserável
Autor: David Soares
Sinopse: O horror está de volta. Nestas três histórias, David Soares (O Evangelho do Enforcado, Lisboa Triunfante, A Conspiração dos Antepassados) apresenta imagens de luz e trevas que não deixarão ninguém indiferente. Do ambiente exótico de A Sombra Sem Ninguém, passando pelos interiores claustrofóbicos de A Luz Miserável, até à extravagância macabra de Rei Assobio, prepare-se para conhecer personagens inesquecíveis, como um homem "quase" invisível, três soldados amaldiçoados e um velhote mutilado e vingativo. Do suspense ao splatterpunk, A Luz Miserável é um livro de contos provocadores, diabólicos e literários. Uma viagem vertiginosa ao lado negríssimo da imaginação.
Opinião: De vez em quando encontram-se livros que se destacam logo à partida pelo seu aspecto. Sejam edições de luxo de alguma coisa, ou edições normais particularmente bem feitas e cuidadosamente concebidas, volta e meia saltam-nos à vista. A Luz Miserável é um espécime fenomenal desse segundo caso: se a capa praticamente perfeita não for suficiente para vos deixar rendidos, abram o livro e reparem nas páginas pretas e letras brancas. Diferente, espectacular e a encaixar na perfeição no estilo e universo autoral de David Soares.
Depois de assimilar a componente gráfica, que não dificulta em nada a leitura, comecei a ler o primeiro conto ansioso pelo que vinha aí. A primeira coisa que li deste escritor foram exactamente contos, as 3 excepcionais histórias que fazem parte de Os Ossos do Arco-Íris, e entretanto já li mais 2 livros de contos seus (Mostra-me a tua espinha e As Trevas Fantásticas), e embora tenha adorado o primeiro, fiquei um bocado decepcionado com os segundos. Estava ansioso para estes, os mais recentes, e que se estivessem de acordo com a edição, não seriam nada menos do que fenomenais.
Infelizmente, e pela terceira vez, decepcionei-me um pouco. A escrita é fantástica, e comparativamente com outros livros em geral tenho que dizer que gostei deste livro, mas dentro daquilo que são as obras de David Soares... Esperava melhor.
Em A Sombra Sem Ninguém acompanhamos um homem quase-invisível e uma rapariga que ganha poderes estranhos após uma queda num curral. A história está relativamente interessante, mas a tentativa de explicação minimamente científica para a quase-invisibilidade do homem foi fraca, ou pareceu-me, talvez por causa de eu praticamente viver no meio científico. E não consegui ter qualquer empatia com nenhuma das personagens principais, já para não falar que esperava um fim com mais, digamos, esfolamentos, e acabou por ser muito mais soft.
De seguida veio o conto que menos gostei, A Luz Miserável, que me pareceu essencialmente confuso. A história de 3 veteranos de guerra amaldiçoados tinha potencial para ser bem desenvolvida, mas perdeu-se em tiradas desconexas cujo propósito me passou ao lado. Além de que o fim é estranho. Normalmente acharia isso bom, mas não foi um estranho agradável, foi um estranho de "o quê? o que raio acabou de acontecer?".
Por fim aparece O Rei Assobio, para salvar minimamente o dia, mas ainda muito aquém da qualidade que esperava dum conto escrito por David Soares. Os saltos temporais não baralham, como temi quando apareceu o primeiro, mas tudo o resto tem um ar um bocado aleatório. Um homem mutilado, que foi uma criança infeliz, arranja 3 rapazolas para o ajudarem a fazer algo, e bem, corre tudo mal, como seria de esperar. Ainda foi, no entanto, o meu favorito.
Ora bem, como podem ver, gostei, mas achei mediano. Para David Soares está bastante mediano. E tenho uma teoria para explicar isso: a sensação com que fiquei após ler estes contos, especialmente o segundo, é que estava a ler uma colectânea de excertos de um romance. Aquilo que eu acho é que David Soares tem pura e simplesmente demasiadas coisas para contar, e acaba por atafulhar os contos com demasiada coisa. Isso raramente resulta, numa coisa tão curta. Os contos querem-se pequenos e compactos, tanto em tamanho como em história, tempo, personagens e cenário, e os escritos deste autor costumam ser tudo menos compactos em termos de história.. David Soares precisa de espaço para escrever.
Portanto é isso. É um autor de que gosto bastante e que admiro ainda mais, e já li obras suas que figuram na minha lista dos melhores livros que já li na vida, mas cada vez mais me convenço que é muito superior a escrever romances do que a escrever contos, e que por mais que aprecie as suas obras mais extensas, não sou tão fã das suas histórias mais curtas.
2 comentários:
Mas mesmo mais fraco do que muita coisa que já lemos dele continua a ser um trabalho genial. A quantidade de autores que deviam saber escrever pelo menos assim.
Não diria genial, mas bom, sim...
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