sábado, 14 de setembro de 2013

Citar ou não citar, eis a questão

As citações são algo complicado de gerir. Às vezes apetece pôr umas aspas no começo no livro, outras no fim, e declarar as 300 páginas como a nossa citação favorita.

Como controlar isto? Sei lá! Só sei que encontro frequentemente 2 tipos de livros que me causam dificuldades, no que toca a citações: os que estão tão, mas tão bem escritos que nem sei o que hei-de citar; e os livros que adorei, com uma história fantástica, mas sem nada de jeito para citar.

Acontece-me algumas vezes, em ambos os casos, acabar por não citar nada e ficar cheio de pena. Com o primeiro tipo de livros porque queria mostrar o quão espectacular foi a minha leitura, mas não me consigo decidir sobre o que exibir. No segundo tipo porque não encontro nada suficientemente bom para mostrar como prova da qualidade do livro.

E depois há ainda as citações que só fazem sentido dentro do contexto do livro. Durante a leitura chegamos a um certo pedaço e "eh lá... muito bom...", mas quando citamos isso e o vemos assim, descarnado, perde o seu encanto.

Também já me aconteceu estar tão embrenhado na leitura que nem sequer me lembro de tirar citações. Vocês sabem, agarrar num livro, cair completamente dentro dele, voltar ao mundo real algumas horas depois, estar completamente maravilhado, mas sem uma única citação, pela simples razão de que estava ligeiramente hipnotizado.

Um dos autores com quem isso me acontece é Saramago. Lá vou conseguindo tirar uma citação aqui e ali, mas é complicado. Normalmente quando pego num livro dele, basta-me ler as primeiras frases para ficar completamente envolvido. Chega a ser acolhedor, de certa forma, voltar àquela escrita, àquela voz.

Como exemplo de uma escrita demasiado espectacular para isolar citações, tenho Mia Couto. Ainda só lhe li 2 livros, é verdade, mas o meu fascínio é imenso. Acho que é verdadeiramente um dos melhores escritores que já encontrei, e fascina-me num campo diferente do que me fascina Saramago. A escrita de Mia Couto é linda, não há outra forma de o expressar.

Já o Stephen King volta e meia também me causa problemas. Acontece-me quase sempre ficar fascinado com os seus livros, com as histórias que conta, as personagens que cria, o universo semi-partilhado em que as suas histórias habitam, mas raramente encontro algo verdadeiramente digno de ser citado. Basta verem que das 1325 páginas do The Stand, tirei apenas uma citação (Segunda-feira já descobrem qual).

Não sei se alguém por aí está com vontade de partilhar, mas gostava de saber mais opiniões sobre isto. Eu acho que as citações são uma autêntica arma, quando se trata de mostrar a beleza e a qualidade de um livro ou de um autor, mas também acho que é um bocado uma arma alienígena. Sabemos para que serve, mas só sabemos usar mais ou menos, e é de vez em quando. O que é que vocês acham?

6 comentários:

N. Martins disse...

Sofro do mesmo problema. E neste momento debato-me com a dificuldade em tirar citações do "A Última Noite em Twisted River" - John Irving. Praticamente impossível... :)

Rui Bastos disse...

É um problema... Bem sei o que isso é...

Sara disse...

Também tenho problemas com citações...Ás vezes apetece-me sublinhar o livro inteiro. Acontece-me com Saramago e aconteceu-me recentemente com o Agualusa...O que mais irrita é quando quero marcar uma passagem e não encontro o lápis! Gosto de mais tarde reler o que marquei, mas sim há muitas citações que não fazem sentido fora do contexto e deixam indiferente quem não conhece o livro...Mas creio que o pior é quando as pessoas publicam tantas citações que acabam por revelar a história inteira. Aconteceu-me com o fault of our stars...Só há pala das citações já sei a história toda...É chato.

cumps

Jacqueline' disse...

Ahah sofro com o mesmo problema! Se bem que, quando há tantas citações, depois de acabar a leitura, tendo a só memorizar aquelas que o meu inconsciente preferiu :)

No caso dos livros com boa história, mas que não consigo citar nada em particular, isso sim se torna difícil. Normalmente, coloco um pormenor ou reflexão sobre a obra, mas é uma tentativa pouco conseguida na maioria das vezes.

Célia disse...

Já houve uma altura em que tentei anotar citações num caderno, depois pensei em ir anotando num word... mas percebi que não é mesmo a minha onda. Gosto de ler citações, mas anotá-las não é coisa que me surja naturalmente enquanto estou a ler. Para isso, tenho de me mentalizar em decidir que partes são mais interessantes de citar e acaba por estar mais focada nessa tarefa do que em apreciar a leitura de uma forma descontraída.

Rui Bastos disse...

Sara, isso deve ser tão chato... Assim só se estraga a leitura!

Jacqueline, memorizar é que não me acontece de certeza, anoto-as e de vez em quando releio :)

Célia, eu por acaso já há uns tempos que ando a anotar citações num caderno, a coisa vai funcionando bem, embora às vezes tenha destes problemas de não saber bem o que citar, seja por um motivo ou por outro, e acabo por não citar nada e pronto.