É que nem consigo imaginar a situação. Quer dizer, até consigo, mas dói-me um pouco. Ainda por cima a primeira imagem que me vem à cabeça é a de uma biblioteca com milhares e milhares de cópias do mesmo livro.
Um único livro, que toda a gente acharia a obra-prima suprema e que acabaria com a necessidade de outros livros. Um único livro que toda a gente leria várias vezes, cada pessoa sempre completamente enamorada de cada palavra que lá estivesse escrita, por mais decorada que já estivesse.
Arrepia-me todo. Mas dá que pensar. Afinal, entre pessoas que lêem, e que criticam, e que têm blogs e companhia limitada, o gosto pessoal dá azo a lutas intermináveis. Imaginem um mundo em que essas batalhas não existissem.
"Este livro é claramente o melhor de sempre!" é uma daquelas expressões que gera invariavelmente respostas na onda de "És um idiota chapado.", "Não fazes a mínima ideia do que é literatura.", "Toma lá a minha lista dos 580 defeitos desse mesmo livro, mais o resumo da minha dissertação sobre como este outro livro é ziliões de vezes melhor que esse." e, claro, aquela que deve ser a minha favorita, "Epah, eu não acho, mas enfim, gostos não se discutem."
Agora imaginem que as respostas eram todas "É sim senhor.", "Tens toda a razão.", "Que análise brilhante, pessoa com um gosto absolutamente impecável!"
Brrr.
Logo para começar, acho que tornava a existência de blogs como este ligeiramente redundante. Ou então passaríamos a comentar as edições novas do dito livro. Eu sei lá!
Mas não consigo evitar em tentar pensar mais um pouco sobre o assunto, em tentar perceber melhor como é que seria essa situação. Muito provavelmente seria como falar com alguém sobre um livro que ambos idolatramos. Ou passaríamos 3 horas a despejar comentários inconsequentes, praticamente vazios de conteúdo, apenas vagamente perceptíveis a pessoas que não tivessem lido, ou então seria uma conversa de 5 segundos: "Esse livro é mesmo bom!", "Pois é!"
É por isso que raramente falei com alguém sobre o 1984. Acho que toda a gente que conheço e que o leu, o achou um livro excepcional. Não há grande coisa para falar. A sério, é horrível. Não o livro, esse é genial, mas a falta de conversa sobre ele.
Já se o assunto for um livro (ou sei lá, dois assim aleatórios de que me lembro do nada) mau, a conversa nunca mais acaba! E se for um livro que adorei e a outra pessoa odiou, ou vice-versa, vai lá vai... Mas acho que o melhor caso que me acontece é quando se gosta de um livro, mas não se fica tão excitado e emocionado com ele quanto a pessoa que o aconselhou.
Talvez até fosse melhor se todos gostássemos da mesma coisa, eu pelo menos tinha menos chatices, mas qual era a piada? Giro giro é ter longos debates filosóficos sobre as acções de uma personagem (mas nunca, nunca, sobre uma galinha), e mostrar a um amigo como a personagem que ele adora não é nada de especial.
A conclusão parece um bocado óbvia, e já dita por toda a gente, mas se todos gostássemos da mesma coisa... Bem, era uma seca de primeira.
5 comentários:
Olha logo o exemplo escolhido para livro que toda a gente adora :P
Jorge
Paz mundial.
É tudo.
Jorge, não há hipótese, com aquele!
Pedro, talvez, mas mesmo assim acho que não :p
Concordo com o que dizes...Tenho uma amiga que como eu gosta de ler e passamos a vida a discutir por que eu gostei de certo livro e ela odiou e vice versa. É sempre interessante escutar outros pontos de vista. Quando concordamos é tipo eu digo que o livro é giro e ela acena afirmativamente...End of story. Já nos blogs as pessoas têm tendência para se esticar e partir para o insulto...Antes cada vez que uma opinião me desagradava comentava (sem insultos claro...), agora estou me nas tintas: gostas de Tolkien? porreiro. Gostas das 50 sombras? porreiro também...Contanto que não me obriguem a ler nada a mim...
cumps
Pois que é isso... E bem sei como é fácil partir para aí, eu próprio já escrevi umas opiniões em que não sou muito simpático...
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