Quando se fala de dicas para escrever, uma que acaba por aparecer 95% das vezes é a famosa show, don't tell. É uma dica que é dada como se fosse algo básico e essencial para qualquer pedaço de escrita.
Mas isso nem sempre é verdade. O show, don't tell não é mais do que um dos vários "truques" literários que se podem e devem usar, mas sempre com moderação.
É útil para, por exemplo, envolver mais o leitor na história, ao optar por criar imagens e esforçar-se por causar impressões mais fortes, ao invés de simplesmente debitar a informação do que está a acontecer.
Pode ser algo tão simples como escrever "o suor brilhava-lhe na pele, e até a brisa que o rodeava era quente e abafada" em vez de "estava calor", o que já faz toda a diferença. No primeiro caso dá-se a entender que estava calor recorrendo a sensações que permitem ao leitor identificar-se mais facilmente do que ao ler o segundo caso, uma simples descrição.
Isto é particularmente relevante quando o assunto são planos manhosos, misteriosos, complexos, ou alguma combinação dos 3. Terminar um conto com uma explicação detalhada de tudo o que se passou, de qual era o plano do vilão desde o início, e de todos os passos que o bom da fita teve que tomar para vencer... Bem, é aborrecido.
Pelo menos costuma ser. É um erro que eu próprio já cometi e que compreendo: começa-se a sentir a história a chegar ao fim, sem grande possibilidade de ser esticada, e ainda há coisas por explicar. Ficaram claras? As pistas dadas serão suficientes para que se perceba? E é nesse pânico que surgem os massivos tells de fim de história.
A razão para isto parecer funcionar e ser tão apelativo é bastante simples: embora o show seja mais envolvente e dê mais liberdade à escrita, o tell ocupa consideravelmente menos espaço. É por isso que 3 parágrafos a explicar tudo no fim da história são tão apelativos, é mais fácil fazer isso do que incorporar tudo ao longo do texto ou, pior ainda, acabar por, se calhar, escrever mais uma página.
Ora, isto também pode ser útil. Nem sempre o objectivo é fazer com que o leitor se identifique fortemente com a personagem, ou perder algum tempo a dar qualquer coisa a entender que podia ser dita em meia dúzia de palavras.
O equilíbrio é difícil, mas é isso que se quer. Não é erradicar o tell e declarar a supremacia imperialista do show, é aplicar o que for preciso na melhor altura.
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