Sejam bem-vindos à primeira parte da primeira crónica convidada, escrita pelo meu amigo, colega, e habitual parceiro no crime, Jorge Martins, do Metáfora de Refúgio. O que vos posso dizer sobre este tipo, é que é tão louco como eu, embora de maneira diferente. A ideia para esta crónica surgiu de forma bastante simples: tanto a música como a literatura são duas das coisas que fazem o Jorge delirar, e dentro da música tem uma paixão enorme pelo grunge e uma admiração ligeiramente obsessiva pelo Kurt Cobain. Ou talvez seja ao contrário, nunca sei.
O importante é que misturar as duas coisas é o mais óbvio. E portanto pedi-lhe para investigar/pensar um pouco sobre literatura grunge, ou seja, um movimento ou estilo literário que tenha algum tipo de paralelo com o movimento grunge na música. Ele aceitou o desafio com entusiasmo (e foi o primeiro das pessoas a quem convidei a despachar o assunto) e o resultado, bastante interessante, é o que podem ler a seguir. A segunda parte aparece daqui a uma semana!
P.S.: as imagens fui eu que escolhi, que o Jorge é demasiado preguiçoso.
Livros e cd’s na mesma
prateleira
Se há uma coisa no mundo que seja
realmente imprescindível para toda e qualquer vida humana, será a
música: pela sua capacidade de despertar emoções que nem
julgávamos possuir, pelo seu poder de “intelectualização”,
pela sua variedade e riqueza nos géneros e sub-géneros e
sub-sub-géneros e etc que apresenta, pelo carisma de alguns dos seus
maiores protagonistas, entre muitas outras coisas.
Por outro lado, se há uma coisa no
mundo que seja realmente imprescindível para toda e qualquer vida
humana, será a Literatura: pelas ligações estabelecidas com aquela
personagem em especial, pela capacidade de transporte para mundos
maravilhosos, pelas mensagens importantes e reflexivas que
transbordam por páginas sem fim, entre muitas outras coisas.
Assim sendo, tanto o poder que tem
origem nas notas tocadas ao de leve numa corda de nylon como
aquele que resulta do incessante martelar num teclado gasto são
essenciais para o conceito supremo de arte, de cultura e, acima de
tudo, de Vida como deve ser; mas à partida não parecem capazes de
co-existir, e não seria isso um problema?
Pois vejam, caso se substituísse
Literatura ou Música por outra actividade artística, como Cinema,
por exemplo, não teríamos essa questão; inúmeros filmes que são
acompanhados por uma banda-sonora tremenda (ou os videoclips,
que servem para dar vida a “milhentas” melodias), ou que revelam
uma devoção obsessiva no argumento que resulta numa história
exemplar, que poderia ter saído da pena de um qualquer escritor de
referência.
Tudo isso mostra que duas formas de
arte não têm de ser obrigatoriamente exclusivas entre si; mas como
relacionar notas com palavras? Compassos com parágrafos? Ou,
simplesmente, música com livros?
Este é um tema que daria pano para
mangas, sobretudo pela riqueza e diversidade existente quer nos
diversos géneros literários, quer nos musicais, daí que eu me vá
cingir a falar de um caso que me é mais familiar e do qual sei mais,
que é o caso do grunge.
E que é isso do grunge? Pois
bem, mesmo que não reconheçam o nome, se já ouviram falar de punk,
de Geração X, ou pura e simplesmente, de Nirvana, já
ouviram falar de grunge.
História do Grunge
Este foi um movimento originado nos
EUA no final da década de 80, mais concretamente em Seattle, onde
miúdos na casa dos 20 anos estavam ocupados a serem... Bem, a serem
adolescentes, ou seja, a exprimirem-se através de libertações
intermitentes de raiva, melacolia e hormonas.
Só que eles tinham um problema; o
movimento normalmente associado à angústia adolescente, o punk,
estava agora longe da agressividade dos anos 70, que deu origem a
porta-estandartes da revolução como Johnny Rotten. A verdade é
que, nos anos 80, o punk estava “corporatizado”, ou seja,
vendido ao eterno inimigo do povo, o “Sistema” sem cara e sem
nome.
Depois de aparecerem os Joy
Division, o punk deixou de ser sobre gritos de raiva e de
contestação e passou a ser sobre depressão minimalista e fumos
agridoces de erva queimada e fumada (dando origem ao movimento gótico
e deixando raízes para o emo despontar).
Assim sendo, os miúdos do final dos
anos 80/início dos anos 90 não tinham um escape para os seus
sentimentos de adolescente, visto que o movimento principal da
altura, para além do omnipotente disco sound, era o
glam, território do louro oxigenado, permanentes e licra.
Desta forma, pelo “amolecimento”
do punk, mas influenciado por este (e pela cultura do Metal,
que nesta altura também parecia eternamente estagnada), forjou-se o
grunge, movimento mais importante dos anos 90, que atingiu o
seu apogeu em 1991 e começou o declínio a partir de 1994, após o
suicídio do seu mártir/líder, Kurt Cobain, vocalista e guitarrista
dos Nirvana.
(continua)
2 comentários:
Wooooooooooo published author :P
Jorge
Oh oh, calm down man xD
Enviar um comentário