segunda-feira, 29 de junho de 2015

Matiné



Argumento: Magno Costa
Arte: Magno Costa, Marcelo Costa, Márcio Moreno, Magenta King, Dalts


Opinião: Depois de Cidade de Vidro, este Matiné é o segundo livro que leio dos quatro que o meu primo André me emprestou. As expectativas estavam altas, que Cidade de Vidro foi uma leitura fenomenal, e embora Matiné não tenha conseguido estar à altura (era muito, muito difícil), aguentou-se bem e também acabou por ser uma leitura bem interessante.

A capa fantástica é o prenúncio da hiper-violência espalhada pelas páginas do livro, agressão pura e dura, sem rodeios nem receios. E todas as três histórias têm uma opção a nível da arte que muito me agradou: há a arte normal, e depois as sequências de drogas/flashbacks seja o que for, que têm uma arte diferente, por um dos convidados especiais (Márcio Moreno, Magenta King, Dalts).

É uma diferenciação explícita e que funciona muito bem, em grande parte porque todos os artistas envolvidos têm um traço muito adequado às histórias e fizeram muito bem o seu trabalho.

A primeira história é O Estranho Sem Nome, uma história curta, mas intensa, com toda a aparência de violência gratuita e sem grande sentido, mas com um final incrível, muito forte, que pega nas nossas expectativas, as agarra pelos tornozelos e as vira ao contrário.

Depois vem O Velho, esta sim com uma boa história, novamente centrada num personagem badass, e que desde o início parece ter uma demanda relevante que não está a esconder, mas que não está a revelar de forma explícita. Ao contrário da história anterior, aqui nunca há a sensação de violência gratuita, já que existe sempre, muito claramente, um propósito para as acções do velho, com a vantagem de um final surpreendente, a afastar-se completamente daquilo que eu estava à espera ao ler a história, e que muito me agradou.

A última história é A Mariposa, que é provavelmente a mais dura de todas as histórias, já que envolve violações e vinganças, mas que também tem a pancadaria habitual das outras duas histórias muito bem feita. O narrador é o melhor das três histórias, mas o final, infelizmente, é o pior. Nem é mau, é apenas estranho. Esta história começa logo com algumas pistas de que as três histórias estão ligadas (ou talvez se limitem a passar no mesmo universo), e acaba com o que parecem ser mais pistas, só que... Não se percebe. E isso estraga muito a leitura.

No fim, são três boas histórias, num bom livro, que vale a pena ler. Não conhecia nenhum dos autores envolvidos e fiquei fã. Foi uma boa revelação!

sábado, 27 de junho de 2015

Estantes Emprestadas [18] - Literatura e Cinema


Caríssimos, apresento-vos um inédito na minha "carreira" por este mundo dos blogs: uma professora minha do Secundário escreveu uma crónica para esta rubrica! Isto é um marco! Uma vitória! Ainda por cima foi uma das minhas professoras favoritas, Maria de Lurdes Sanches, professora de Português, aturou-me no meu 12º ano e tivemos variadas e produtivas discussões, invariavelmente sobre Pessoa e/ou Saramago. Foi uma excelente professora, que sempre teve mais interesse em cativar a turma para os assuntos do que propriamente em debitar matéria e análises pré-feitas. Preferia que discutíssemos, mesmo que fossem sempre os mesmos, sempre com as mesmas conversas ("a poesia do Pessoa não presta, outro tipo qualquer que escrevesse aquilo não era levado a sério, Saramago é que era, bla bla bla", conseguem adivinhar quem era o chato?)

E pronto, desafiei-a a escrever sobre cinema. Podem ver o resultado ali em baixo: uma cróinca curta, mas interessante, que mostra bem o que é gostar de Cinema, e como é que se lida com as adaptações que se fazem de livros. À professora, muito obrigado (embora eu já soubesse que me ia encher o texto de Pessoa, e por isso ainda me vingarei de alguma forma)!!

“Cuidado, Macacoi, que o gajo 'tá na esquina!”, gritava Sagui, em Esteiros de Soeiro Pereira Gomes, numa passagem deliciosa de um dos livros que marcou a minha adolescência. E ainda hoje, embrenhada na leitura ou perdida no enredo de um filme, me apetece imitá-lo e avisar os meus heróis do perigo iminente. E é isto a literatura ou o cinema: o transporte para um mundo mágico em que deixamos o que somos atrás da capa ou do grande écran.

Desde que o cinema nasceu, enquanto a Sétima Arte que se juntou às outras “clássicas” seis, o seu caminho foi feito a par dos livros e da escrita revelando um outro olhar ou ficando perto ou alterando o original ou até decepcionando-nos quando nos adultera a nossa impressão de leitor. Ora, creio que o cinema tem mesmo que recriar, que nos alterar a história que tínhamos arrumada e arranjadinha na memória, que fazer jus ao célebre verso “Sentir, sinta quem lê!” que, neste caso, será quem realiza. Confesso que nem sempre é fácil assistir à destruição - ou ao que julgamos ser uma destruição - de uma obra que consideramos intocável. Foi o caso do filme “Amor nos Tempos de Cólera”, de Mike Newell, adaptação de um dos livros da minha vida, perante a qual me senti revoltada ao ver o meu Gabriel reduzido a uns diálogos dignos da pior telenovela mexicana. É que nem a presença de Javier Bardem me aplacou a ira! Mas acredito que terá agradado a muitos e terá levado alguns à descoberta de um autor e originou, certamente, muitas discussões. Porque, indiscutivelmente, livros e fitas são socializadores.

No contexto português, temos inúmeros casos de adaptações de obras de vulto da nossa literatura tanto por realizadores portugueses como estrangeiros, como “Amor de Perdição”, com a primeira adaptação ainda em filme mudo por um realizador estrangeiro, e, mais tarde, por Manoel de Oliveira. Eis um caso singular: um Camilo em registo alucinante, a deixar o leitor cansado de tanto correr atrás daquelas personagens envolvidas constantemente em peripécias, adaptado com a técnica do nosso querido Manoel em planos fixos, de câmara imóvel e em cenários quase exclusivamente interiores. Aqui, ao contrário do exemplo que dei atrás, impera a palavra, ao invés da acção rápida, sobressai o interior das personagens que se mantém as de Camilo. Um outro olhar, portanto. E válido!

Mais recentemente, “O Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa, e “Os Maias”, de Eça de Queiroz, foram sucessos de João Botelho. Em ambos os casos, há uma fidelidade distante às obras. Pelo menos, foi o que eu senti enquanto leitora e espectadora. Se, por um lado, respiramos Pessoa e Eça, por outro, é muito forte a presença da recriação do realizador tanto nos cenários, surpreendentes nos dois filmes, como na opção de fazer sobressair apenas alguns aspectos das duas obras literárias. E não podemos esquecer o “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago, adaptado e realizado por Fernando Meirelles, brasileiro, e que contou com um elenco internacional. Poderia continuar a dar aqui exemplos deste permanente diálogo entre a escrita e a imagem mas, por agora, apetece-me ir ver um filme, ler um livro ou ambas as coisas.

Literatura e Cinema: uma forma de arte a proporcionar uma outra e que sorte temos por podermos sentir lendo ou vendo… Mas adoptemos a atitude do Sagui e gritemos aos nossos heróis “Cuidado, Macacoi, que o gajo 'tá na esquina!”

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O monstro dos exames e dos projectos conseguiu

Amanhã retomo a programação habitual. Aguentem só mais um bocadinho que isto está quase, pode ser?

quarta-feira, 24 de junho de 2015

The Big Bang Theory [T8]



A comédia desta série é geek, é nerd e é particularmente exagerada, mas pronto, cai bem. A ciência não é um monte de balelas, é tão certa quanto possível, e as piadas matemáticas, físicas e afins aparecem a rodos.

Os engenheiros não saem muito bem vistos, que o único do grupo, Howard, é gozado e gozado por ser apenas um engenheiro. Mas pronto, eu não levo a mal.

Toda a gente conhece isto, não é? Sheldon Cooper, o físico teórico ligeiramente autista, extremamente peculiar, a tender para Mr. Spock, cheio de particularidades estranhas e um nível de parvoíce que lhe garantiriam muita pancada na vida real, vive com o físico experimental, Leonard Hofstadter, um tótózinho minimamente consciente do mundo real.

Os amigos são o Howard e o Raj, o engenheiro judeu de líbido activa e calças justas, e o astrofísico indiano, mais ou menos secretamente podre de rico, com tendências ligeiramente homossexuais e que é um pouco desfasado da realidade normal e da realidade dos seus amigos.

Parte importante do programa é também Penny, a vizinha boazona e burrinha (mas esperta em termos práticos) de Leonard e Sheldon, que serve como namorada, e agora noiva, de Leonard, e como excelente contraponto para toda a inteligência (e burrice em termos práticos) destes nerdzinhos todos.

Já mais tarde apareceu a Bernardette, que se tornou mulher do Howard, e a Amy, que parece uma versão feminina do Sheldon, excepto a parte de ser irritante e completamente alheado da realidade, e que se tornou, obviamente, na sua namorada.

A dinâmica nesta temporada, tal como nas últimas, já é bastante diferente das primeiras, em que eram basicamente os quatro da vida airada (Leonard, Sheldon, Raj e Howard) acompanhados de Penny que estavam no centro da narrativa e a dominar por completo o tempo de antena, o elenco principal está agora mais alargado, e estão todos casados, prometidos, enamorados ou de alguma forma comprometidos. Sim, até o Sheldon.

Isto leva a que o humor seja ligeiramente diferente do habitual "estamos a falar de física e a Penny não percebe nada". O que é bom. Era a única forma que a série tinha de continuar minimamente interessante após tanta temporada. Algo que, diga-se de passagem, mal consegue fazer.

A temporada foi boa, ou melhor, não foi má. Teve vários momentos importantes, desde a morte da mãe do Howard (por causa da morte da actriz) a vários avanços e recuos nas várias relações existentes entre os rapazes e as respectivas caras-metades. O próprio Sheldon, claramente o protagonista desde o primeiro dia, teve algum desenvolvimento e aprendeu a lidar melhor com algumas coisas, ao mesmo tempo que, infelizmente, se manteve péssima pessoa para outras tantas.

Acho que a série consegue é que as pessoas façam o que se faz ao Sheldon: um tipo habitua-se. E é verdade. O humor e a dinâmica mudaram, mas há muita coisa que se manteve exactamente igual, o que é ao mesmo tempo bom e mau. Bom porque já sabemos com o que contar, e são coisas que gostamos e pronto; mau porque o programa não evolui. As temporadas parecem todas iguais umas às outras, e não fosse o aparecimento de novas personagens, que obrigam a novas situações, e ainda seria mais difícil distinguir umas coisas das outras.

Uma prova disso mesmo é que se me perguntarem "em que temporada é que se deu determinado acontecimento?", eu não faço a mais pálida ideia. Talvez consiga dizer "foi numa das primeiras" ou "foi numa das últimas", mas mais específico que isso nem pensar. Exactamente porque as temporadas são todas muito iguais!

Mas podia ser pior. A verdade é que me continua a cativar, porque gosto das piadas, gosto dos gostinhos nerd e geek que o argumento consegue introduzir, até nos pormenores, desde o jarro das bolachas que é o Batman à quantidade enorme de camisolas geek. É bom e sabe bem. Podia ser melhor? Sim. Podiam aproveitar melhor as personagens? Sim. Já tenho pena da Amy e vontade de chapadear o Sheldon? Sem dúvida. Mas a coisa continua e o final desta temporada promete mudanças suficientes na próxima para a coisa se voltar a tornar mais emocionante... O que espero sinceramente que aconteça, porque já está prometida não só a nona, ainda este ano, como uma décima temporada para 2016! Vamos lá malta, portem-se bem!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Cidade de Vidro


Argumento: Paul Auster
Adaptação: Paul Karasik e David Mazzucchelli
Tradução: Paula Caetano


Opinião: Nunca li nada de Paul Auster, portanto não conheço o livro Cidade de Vidro sem ser de nome. Mas o meu primo André emprestou-me esta adaptação, juntamente com outras três BDs que serão comentadas eventualmente.

Este foi o primeiro dos quatro que li, porque tenho uma certa aversão a este tipo de adaptações e queria já despachar aquele que me parecia menos interessante. Pois bem, nunca devia ter duvidado do gosto literário do meu primo.

Esta adaptação de Cidade de Vidro é um livro notável, surrealista e simbólico, com uma qualidade excepcional. A "meta-viagem" do protagonista é confusa, mas interessante, a sua vida desde que se vê preso no enredo deste livro é cativante e encontra-se bem descrita (a vários níveis).

A história em si, que imagino que deva o seu mérito a Paul Auster, é bizarra e joga bem com vários temas e estilos diferentes. Sem hesitar misturar o que muito bem lhe apetece, a narrativa parece quase divertir-se com a forma como guia o leitor pelos caminhos mais tortuosos do entendimento.

Uma sensação brilhantemente transposta para os desenhos, que não aparentam ser nada de especial mas que explodem de vez em quando em fantásticos jogos de sombras e outros de significados e simbolismos capazes de orgulhar Jorge Luís Borges.

Muito, muito bom, é aquilo que eu posso dizer sobre isto. Não sei quão bem feita está a adaptação, em termos de adaptar o livro original, mas pelo menos é uma boa, aliás, excelente, BD! Tinha alguma curiosidade para ler alguma coisa de Paul Auster, e agora já sei definitivamente por onde começar.

sábado, 20 de junho de 2015

Mais fácil do que uma crónica [6]

Novidades há muitas, e o texto de hoje não tenciona, de forma nenhuma, estar dentro das mais recentes. Como alguém muito sábio disse, fui "engolido pelo monstro dos exames do Técnico", o que infelizmente é mais verdade do que aquilo que eu gostaria.

O que vale é que o de hoje (sim, um exame às 15h de um Sábado) é de uma temática que me agrada. A parte chata é que é uma das cadeiras mais difíceis e também uma das mais odiadas. Eu cá gosto, mas concordo com a parte do ser difícil.

De qualquer forma, o que interessa é que vos vou falar de coisas, digamos, antigas. Que não são bem novidade, vá, são daquelas coisas que eu vou descobrindo e acumulando para depois mostrar. E muitas das vezes esqueço de qual era a importância de determinada coisa. Portanto vamos lá!

Primeiro o Literary Hub, um novo site dedicado à leitura com conteúdo interessante e variado praticamente todos os dias. Tem-me dado algumas leituras agradáveis, algumas a dar para o estranho, e muitas sinceramente desinteressantes. Para mim, pelo menos! Mas sei que é site para agradar a muita gente e apoio totalmente, que a coisa está bem feitinha.

Depois outro site muito interessante e que me grita aos ouvidos o quão espectacular é: Library of Babel, que recorre às maravilhas da informática e da internet para produzir uma versão virtual da biblioteca infinita de Borges.

Este barulho que estão a ouvir sou eu a guinchar que nem uma adolescente. Dá para ver todos os livros, em todas as prateleiras de todas as paredes em todas as salas. Estão aqui todas as combinações possíveis e imaginárias! QUERO.

Já passou. Distraiam-se com esta história alternativa do Harry Potter, que divaga sobre o que teria acontecido se a tia Petúnia fosse uma pessoa mais agradável. Está tudo muito bem pensado e muito bem esgalhado, e vale a pena perderem uma meia horita a passar os olhos por uma história bem diferente e, de certa forma, bem mais agradável (e até mais realista).

Quase a terminar deixo-vos uma explicação do grande João Campos sobre a suposta infantilização da FC. Não há muitas mentes tão claras e honestas no panorama do Fantástico português como a deste (antigo?) colega da Oficina Escrita, que consegue sempre dizer tudo o que é preciso dizer, da melhor forma possível. Sigam os textos dele!

Por fim, fiquem com uma entrevista da Sofia Teixeira, do Morrighan, a Afonso Cruz, com mais de dois anos e que constitui uma primeira etapa no meu estudo deste autor, que me tem deixado intrigado, antes de pegar no recém-comprado A Boneca de Kokoschka. Bem interessante!

E é tudo, desta vez. Eu sei que isto anda pouco dinâmico, mas perdoem-me, que a vida não anda fácil. Eu prometo que este Verão há mudanças a sério!

P.S.: espero eu, e peço desde já desculpa se a coisa não se cumprir!

P.P.S.: mas ai de mim que não cumpra!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

El Cascador (XIII #10)


Argumento: Jean Van Hamme
Arte: William Vance
Tradução: Rui Freire


Opinião: Pronto, lá tiveram a decência de melhorar consideravelmente a saga. Com mais acção, mais intrigas e mais mistérios do que nunca, este volume de XIII consegue ultrapassar as minhas baixas expectativas e revelar-se uma leitura agradável.

Claro que isto é feito à custa de cliché atrás de cliché, mas isso são pormenores, não é?

A trama cubana adensa-se ainda mais do que no último livro, e as coisas começam a ficar realmente interessantes quando XIII dá de caras, de forma completamente aleatória, tenho a certeza, com o seu pai biológico, um irlandês que dá pistas para um passado ainda desconhecido de XIII.

Tudo o resto presente neste livro é, muito sinceramente, acessório. Sim, há momentos de acção fantásticos, um apanágio desta saga, que pelo menos faz isso bem, mas alguns até eram evitáveis se algumas personagens pensassem mais um bocadinho antes de agirem.

Se acho que isto redime a série? Nem pensar. Se acho que isto é um bom começo para isso mesmo? Confirma-se!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

The Curious Case of Benjamin Button (2008)



O livro está lido. Ou melhor dizendo, o conto, que este filme com mais de duas horas é adaptado de um conto de F. Scott Fitzgerald, e um que nem achei nada de especial. Foi porreiro, sim, mas nada muito grandioso.

Ao contrário deste filme, que ultrapassa o material original e de que maneira. Ainda há pouco tempo falei de adaptações de livros e de como era possível que ultrapassem o texto, e este filme é um exemplo perfeito disso mesmo.

E nem sequer é pela intensidade da actuação de Brad Pitt, que parece que a única coisa que sabe fazer é debitar frases que sejam citáveis, nem do bom papel que Cate Blanchett faz, também ela a fazer um esforço consciente e visível para ser intensa, mas o próprio filme é excelente. A construção da narrativa, os jogos visuais e todos aqueles detalhes técnicos ligados à imagem dos quais eu não percebo nada.


Parece estar tudo afinadinho ao máximo para proporcionar a melhor experiência possível a contar esta história em específico. E consegue fazê-lo mesmo, mesmo bem.

Já toda a gente conhece o enredo, e a premissa é realmente muito, muito simples: Benjamin Button nasce velho e vai ficando mais novo com o passar dos anos. Não há mais do que isto. Espanta-me como normalmente são as ideias mais simples as que dão origem às melhores obras, seja em que meio for.

O que o filme faz é levar esta ideia ao extremo e acompanhar a vida de Benjamin Button desde que nasce velho até que morre bebé. Sim, morre bebé, numa cena que é, obviamente, triste, muito triste, mas que também consegue ser feliz. Isto porque é duro ver Benjamin a crescer. Abandonado pelo pai às portas de um lar, educado num lar de idosos, que sempre foram os seus amigos e foram morrendo um a um, enquanto ele crescia e rejuvenescia.


A sua entrada na adolescência é invertida, pois toda a gente acha que ele é um velho de setenta anos, quando na realidade nem perto dos vinte anda. É óbvio que depois é enternecedor, e também chocante, vê-lo a reverter ao estado de criança, uma criança velha, a ficar demente. Uma mente de oitenta anos num corpo de oito meses. A parte enternecedora é ver alguém que sempre o amou a cuidar dele, porque não podia fazer outra coisa.

Aquilo que mais me fascinou foi a personalidade de Benjamin. Uma verdadeira alma inocente quando é novo e parece velho, torna-se em alguém muito sábio e decidido, mas com cara de puto. As decisões que toma nem sempre são fáceis, e não tem pudor em viver a vida, assim que a descobre a sério, mas vive quase sempre isolado e afastado de todos, de forma natural. Só perto da meia-idade é que se sente bem, pois a mente que tem corresponde ao corpo que tem, mas tirando isso é fácil de perceber que tenha tido uma vida conturbada.


As personagens secundárias brilham todas à sua vez, desde o pai de Benjamin, que o abandona, ao casal de negros que cuida dele, a cada um dos velhos do lar, ao velho lobo-do-mar que se torna um dos seus melhores amigos e todos os outros que vão aparecendo.

O filme acaba por se tornar num conjunto de histórias de amor, algumas com mais sucesso do que outras, mas nunca se esquece da viagem pessoal de Benjamin, esse sim o ponto importante e que torna todos os outros quase irrelevantes, apesar de os usar como afluentes do seu fluxo narrativo.

("Afluentes do seu fluxo narrativo", tão adulto)

No fim o que vos posso dizer é que este filme vale bem a pena, e se ainda não o viram, já o deviam estar a ver. Há poucas formas de ilustrar tão bem os conceitos de ternura e de tristeza como este filme.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Coração, Cabeça e Estômago


Autor: Camilo Castelo Branco


Opinião: Já há algum tempo que ando para ler alguma coisa deste autor. Famoso, estudado e reconhecido, os juízos contraditórios que ouvi de "excelente escritor" e "bah, escritor de cordel" deixaram-me intrigado. Esta edição fenomenal (fac-símiles são a melhor coisa de sempre) foi a desculpa ideal.

Infelizmente, não valeu muito a pena. Sim, o tipo escrevia bem, mas nota-se claramente que isto foi escrito ao metro. Não é que isso seja mau só por si, mas é um facto que, digamos, falta aqui suminho. Conteúdo.

É que a escrita tem momentos hilariantes. O narrador, que ainda não tenho a certeza se era inteiramente de confiança, tem um ponto de vista muito engraçado, dandy desesperado por engatar miúdas que era. Na realidade é um pseudo-galã arrogante mas completamente desesperado, e isso nota-se a milhas, mas ele faz sempre de conta que nunca é nada com ele.

Só que pronto, embora hajam alguns pontos de interesse, como a divisão da história em três partes chamadas Coração (quando ele é estouvado), Cabeça (quando ele ganha algum juízo), e Estômago (quando ele assenta), e que até podiam ser motivo de um estudo mais aprofundado... Se o livro me tivesse conseguido cativar.

Porque não conseguiu, e de forma estúpida. A gritante ausência de história poderia ter sido propositada, um mecanismo para passar uma mensagem, mas o resultado são duzentas páginas da vida de um dandy, sem qualquer interesse nem consequências de maior. E portanto, com envolvimento basicamente nulo.

E é uma pena, porque a escrita é realmente boa. Acho que nunca tinha visto sarcasmo num autor tão "clássico"! Gostava realmente que tivesse passado disso, mas enfim. Há livros com mais fama deste autor (por entre os quase 300 que escreveu) que ainda quero ler, e que espero não sejam apenas "tipo persegue tipa, tipa dá-lhe com os pés, repetir mais seis vezes, tipo desiste da vida amorosa e vira emo, sempre de preto, escreve poemas e quer ser revolucionário, tipo apaixona-se, fica gordo e pronto".

Não, não há muito mais, em termos de história. Sim, até é interessante de vez em quando. Mas muito de vez em quando!

sábado, 13 de junho de 2015

Feira do Livro 2015 e os Impérios do Mal


Bem-vindos! Os mais distraídos ficam a saber que não só a Feira do Livro já começou, como está prestes a acabar! Há anos em que até costumo avisar e fazer publicidade e isso tudo, mas isto está cada vez mais complicado... Portanto ficam com este aviso para lá passarem entre hoje e amanhã, que já não é mau.

Vamos agora às queixas. Isto da Feira do Livro é uma coisa muito engraçada, com cada vez mais editoras (e a Chiado, também), e gosto de lá ir comprar livros e tudo, mas aquilo é uma desgraça autêntica. Um tipo olha para o mapa e fica com vontade de chorar: bastam três grupos editoriais para preencher quase metade da Feira. Porto Editora, Presença, e o Império do Mal por excelência, a Leya.

Análise de mercado não é propriamente uma das minhas especialidades, mas parece-me óbvio que isto não é bom. Ainda por cima quando é fácil de perceber a falta de escrúpulos destes grupos. São autênticos Golias empresariais que sugam pobres Davids para dentro da sua estrutura livreira e os reconvertem às suas práticas. Uma espécie de Romanos ao contrário.

"Bah, estás a exagerar!"

Ai estou? Digam-me onde anda a colecção azul de FC da Caminho? E os Saramagos sem capas ridículas? E os Argonautas? Onde? Nos alfarrabistas?

Pois é.

E estes são só os casos de que me lembro. E não serão os últimos. Acreditem em mim, isto só vai piorar. Os afluentes editoriais destes Impérios do Mal parecem continuar relativamente independentes, mas não se deixem enganar. Mais dia menos dia e tornam-se indistinguíveis uns dos outros.

(e vou ignorar completamente o facto da Chiado ter uma das maiores zonas da Feira, nem sequer ter na ideia que alguém considera aqui alguma coisa, eu não a deixava ir para lá, ainda para mais para ter aquela caixa ridícula de "deixe aqui o seu manuscrito")

Enfim. Vamos deixar estas coisas para outra altura e passar a falar de livros. Reparem outra vez na foto lá de cima e observem as minhas fantásticas compras. Quero que comecem por notar nos três volumes de História das Ciências que comprei por dois euros cada, e que validam o meu certificado de nerd até ao próximo ano. Depois reparem no King Kong, que me custou outros dois euros, e que valida o meu certificado de geek até ao próximo ano.

Agora o bicho que mais se destaca: A Voz do Fogo, de Alan Moore, que só me custou cinco euros e para o qual me ando a babar há anos. Nem vou comentar, venha ele!

O que sobra? Algo que me deixa muito orgulhoso: quatro livros de autores portugueses, sendo que dois são BD's! Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa vai-se tornar um clássico, não tenho dúvida alguma, e portanto não podia deixar de o ter nas minhas estantes. O Batalha, do David Soares, era olhado com expectativas altíssimas, e agora com umas expectativas mais baixas, mas ainda é um livro deste autor que sempre me deixou interessado. Fábula cuja protagonista é uma ratazana ateia? É que falamos bem.

Por fim, Cidade Suspensa, de Penim Loureiro, e O Baile, de Nuno Duarte e Joana Afonso. O primeiro livro tem um ar fantástico e promete recorrer ao imaginário Fantástico português de uma forma que me deixa muito curioso, e o segundo, enfim, vem das mãos de um dos meus argumentistas portugueses preferidos, e é ilustrado por uma das minhas artistas portuguesas preferidas. É que mal posso esperar!

E com isto tudo, não comprei um único livro que tenha custado mais de dez euros. O total nem chega aos cinquenta! Provavelmente ainda vou comprar mais qualquer coisa (Afonso Cruz, estou a olhar para ti), mas não gasto muito mais.

Da vossa parte, não se deixem intimidar pelas Impérios do Mal e ataquem. Passem na Feira do Livro e percam tempo a procurar e a folhear, que encontram-se coisas muito, muito boas.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O Negócio do Diabo (Fatale #2)


Argumento: Ed Brubaker
Arte: Sean Phillips, Dave Stewart
Tradução: José Hartvig de Freitas


Opinião: Arte fantástica e história interessante. Bons diálogos, bons monstros, boa continuação do livro anterior. Bom ritmo, enfim, um livro cativante, no geral. E no entanto, sinto que lhe falta qualquer coisa.

Já foi o que senti com o volume anterior: é bom, sim senhor, mas ainda não me convenceu, por algum motivo. E não só é bom como é melhor do que aquilo que eu esperava. Mas!, falta qualquer coisa.

O quê exactamente, não sei. Acompanhar uma femme fatale ao longo dos anos é uma premissa interessante o suficiente, mas mantê-la misteriosa e com ligações estranhas a monstros lovecraftianos é agarrar nas pessoas e mantê-las presas à espera de saber o que aconteceu e o que ainda vai acontecer.

Só que durante a leitura, por mais cativado e interessado que me tenha sentido, especialmente por alguns momentos que são mesmo muito bons, nunca fiquei completamente rendido. Acabei o livro e pensei "epah, sim senhor, um bom livro, uma boa saga, mas...".

E não consigo muito bem ver qual é o problema. Talvez as personagens, já que apenas uma ou duas têm um verdadeiro desenvolvimento e profundidade suficiente para serem interessantes, com todas as outras a serem relativamente superficiais, ou talvez a história dê demasiadas pistas sobre coisas que não explica (especialmente o passado da femme fatale).

Sinceramente não sei. Mas tirando essa estranha sensação, isto é de facto um bom livro, e uma saga que vou continuar a acompanhar. O ambiente noir misturado com os horrores lovecraftianos é uma mistura curiosa e que funciona muito bem, e a narrativa que Brubaker vai traçando é consistente e caminha a passos curtos para algo em grande. Fica a curiosidade para ver como tudo se vai desenvolver, e a esperança de que o próximo livro já me consiga deixar rendido.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Tudo por Maria (XIII #9)


Argumento: Jean Van Hamme
Arte: William Vance
Tradução: Rui Freire


Opinião: Depois de tudo parecer estar mais ou menos acabado, esta saga arranja forma de continuar. Como, perguntam vocês? De maneira idiota.

XIII continua a sua demanda para descobrir o seu passado, e este livro é mais uma etapa desse processo: desta vez foi um revolucionário em Cuba.

*facepalm*

Eu já não sei o que fazer com tanta parvoíce junta na mesma linha narrativa. Dou a desculpa de que isto já são livros relativamente antigos, mas santa paciência, o pessoal engolia isto, há uns anos atrás?

É que as personagens, a maior parte pelo menos, são bastante interessantes, mas nada do que acontece faz grande sentido nem me deixa com grande vontade de saber o que vai acontecer a seguir. É o que sucede quando se tem acontecimento aleatório atrás de acontecimento aleatória, sem grande motivação para além de "isto era giro".

Claro que XIII continua a ser um íman de desgraças, e que a Major Jones o salva uma e outra vez, e claro que XIII se vê envolvido com mais uma mulher. A fórmula é sempre a mesma, até ao "tudo acaba bem e continua no próximo livro".

Confesso que já está a ser demais, e que se a história não melhora consideravelmente, vou ter sérios problemas em acabar de ler a saga completa...

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Falling Skies [T2]


Malta... Há esperança. Pouca, ténue e periclitante, mas ela existe. Depois de uma primeira temporada muito, mas muito mediana (e a tender para fraca), Falling Skies conseguiu arranjar uma segunda temporada mais interessante, mais bem feita, com uma narrativa melhor, grandes desenvolvimentos das personagens e uma abordagem melhor, de uma forma geral!

A sério, fiquei impressionado. Não se excitem demasiado, que continua a ser uma série mediana, só que esta temporada conseguiu tender para o "bom". Muitas personagens continuam a tomar decisões questionáveis, e os acontecimentos têm uma sequência algo... peculiar. Quase como se fossem programados de forma óbvia para aparecerem nos momentos em que vão causar mais impacto.

Sim, eu sei que é o que acontece com tudo, só que aqui é tão explícito que dói.


Mas vá, a verdade é que esta temporada foi consideravelmente melhor do que a anterior, com a maior parte das falhas a serem problemas que já vinham de trás. As personagens estão muito mais coerentes, se ignorarmos os últimos episódios e em especial as novas personagens, e a narrativa é muito mais sólida (e interessante, diga-se de passagem).

Só é pena que os diálogos continuem a ser péssimos. Das más decisões que as personagens fazem, enfim, já nem vale a pena e isso até melhorou um pouco. Mas os diálogos são, sinceramente, dolorosos.

Felizmente a trama adensou-se e teve direito a um momento final (relativamente) inesperado, ainda que não seja grande cliffhanger, como era suposto, mas que teve pelo menos a capacidade de me pôr a pensar "sim senhor, quero ver no que isto vai dar".

A grande força desta segunda temporada, no entanto, não está em nada daquilo que falei até agora. Não, esse papel fica para os skitters, aqueles aliens verdes e couraçados de muitas pernas que andavam pela primeira temporada a raptar crianças e a efectuarem o belo do mind control via centopeias gigantes e cintilantes.


A evolução deste grupo de personagens, especialmente as revelações que são feitas, são dignas de uma boa série, e fiquei com muita pena que se tenham perdido no meio de tantos dramas adolescentes vividos por adultos traumatizados. É que o argumento quer forçar o espectador a prestar atenção ao Tom, e à sua luta com os filhos, ou à sua luta com a médica que o tem apanhadinho, ou à sua luta com as patentes superiores, ou à sua luta consigo próprio, enfim, Tom, o grande, Tom, o importante, Tom, o protagonista.

Tretas. Mais tempo de antena para os aliens, se faz favor, que são tão mais interessantes que os humanos que até me sinto envergonhado.

Agora falta ver como é que tudo evoluiu. A série tinha tudo, neste ponto, para se tornar verdadeiramente boa, só não sei se aproveitaram ou não, mas nesta altura do campeonato já torço para que sim!

sábado, 6 de junho de 2015

Resposta a "Estantes Emprestadas [17] - Comunicado"


Consegui! Desafiei a malta da Imaginauta, e correu bem! Vejam aqui o meu desafio, desta vez sob a forma de um comunicado ficcional dentro do Universo do Comandante Serralves (deviam arranjar-lhe um nome) e, mais importante ainda, vejam aqui a resposta.

Estou imensamente orgulhoso e fico-lhes imensamente agradecido. Só acho é que agora deviam lidar com terem incluído o Luís Filipe Silva e o João Barreiros no Universo deles, eheh. Se calhar andam por lá, crio-preservados, à espera de serem descobertos!

sexta-feira, 5 de junho de 2015

The Colour of Magic (Discworld #1)


Autor: Terry Pratchett


Opinião: The Colour of Magic é uma introdução. Mas melhor ainda, soou-me a um livro daqueles que se vendiam em panfletos, episódio a episódio. É que embora haja um fio condutor (e já lá vou) a sucessão de acontecimentos quase que parece aleatória. Se bem que o motivo é outro, e eu sei.

A fama de Pratchett precede-o. Especialmente agora, depois de morrer e andar nas bocas do mundo (mais ou menos). Toda a gente sabe que ele escrevia paródias autênticas. Críticas disfarçadas de humor. Autênticas sátiras. E que o fazia bem.

Este livro não engana. Se algum dia alguém disser "epah, vou escrever um livro a gozar com todos os clichés possíveis e imaginários da literatura de Fantasia", vamos ter todos que lhe dizer "esquece, já foi feito". E a melhor parte? Duvido que alguém o consiga fazer melhor.

O mundo criado por Pratchett é extremamente completo, caótico e realista, à sua própria maneira. Esta minha opinião é ligeiramente influenciada por já conhecer alguma coisa (mas não tanta como seria de esperar) de Discworld, mas isso não me impediu de ficar seriamente fascinado. Reparem na simplicidade da premissa: imaginem o vosso típico mundo de Fantasia. Agora imaginem que lá chega um turista, vindo de terras distantes, que mal percebe a língua e que acha tudo o que acontece muito "engraçado" e "típico".

É isso, tal e qual, o que acontece em The Colour of Magic. Tudo fica ainda melhor quando esse turista é um vendedor de seguros (o que origina uns trocadilhos para lá de hilariantes), se chama Twoflower, tem uma mala com perninhas e mau feitio, encontra um feiticeiro falhado e insiste em "viver aventuras".

A sério, é qualquer coisa de fantástico. O tal feiticeiro de que falei é o Rincewind, sabe apenas um feitiço e nem sabe qual. E é um cobarde de primeira, semi-perseguido pela Morte, que FALA ASSIM, porque não?, e tem um sentido de humor peculiar.

Pelo meio há de tudo. Viagens cósmicas (não estou a brincar), o melhor conceito de dragões que alguma vez vi na vida, uma montanha virada ao contrário, um conjunto de deuses que assumem como o que todos os deuses são: brincalhões, e uma série de aventuras como não há igual.

Já mencionei que o mundo de Pratchett, Discworld, é literalmente um disco empoleirado em quatro elefantes apoiados na carapaça de uma tartaruga gigante? E que há toda uma sociedade que quer viajar para o espaço de forma a saber o sexo dessa mesma tartaruga?

Só lendo. O que aconselho vivamente que façam. Pratchett era (infelizmente isto já tem de ser dito no passado) dono de um humor mordaz e assertivo que não insultava, mas dizia o que era preciso. A escrita é boa, embora estivesse à espera de melhor, mas nada muda o facto de que Terry Pratchett, ao escrever uma paródia aos livros de Fantasia, escreveu um fantástico livro de Fantasia!

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crumbs - An anthology of delicious comics by portuguese toast makers


Argumento: André Oliveira, Fernando Dordio, David Soares, Mário Freitas, Pedro Cruz, Francisco Sousa Lobo, Nuno Duarte, Joana Afonso, Ana Matias, Zé Burnay
Arte: André Pereira, Afonso Ferreira, André Caetano, Bernardo Majer, Pedro Serpa, Sérgio Marques, Pedro Cruz, Francisco Sousa Lobo, Osvaldo Medina, Inês Galo, Joana Afonso, Ricardo Venâncio, Zé Burnay


Opinião: Este livro começa bem logo com esta capa (e contracapa) fantástica de André Pereira e Afonso Ferreira. O tamanho também é qualquer coisa, e se o objectivo era chamar a atenção, bem, sucesso!

Agora, o que já não começa tão bem é logo a premissa. Pelo menos à partida, quando soube que era um livro inteiramente de autores portugueses, mas em inglês, fiquei de pé atrás. Aquele sentido de patriotismo linguístico veio ao de cima e barafustei um bocado mentalmente contra a ideia.

Mas compreendo a escolha. Crumbs é um livro com um propósito muito específico, o de apresentar e representar lá fora o que de melhor se faz por cá. Faz sentido que seja inteiramente em inglês, portanto deixei passar essa resmunguice.

A única coisa que faltava era o livro convencer-me, com a sua qualidade, de que valia a pena. A citação de Cebulski que vem na contracapa, sobre a verdadeira identidade dos autores portugueses de banda-desenhada é verdade, e isso bem aplicado podia originar aqui um livro tremendo. Infelizmente, não é o caso. Já passo à opinião específica de cada uma das histórias, mas fiquem já com a ideia de que ficam aquém. Muito aquém, na generalidade.

E o problema que vejo é exactamente a diversidade de estilos que Cebulski louva. Não que isso seja intrinsecamente mau, mas não é fácil conjugá-los todos numa antologia, que pede o mínimo de coerência. Ainda por cima se o livro fosse em português, talvez não se notasse, mas não sendo, até esse elemento de "portugalidade" se perde, e o resultado são inúmeras histórias completamente diferentes umas das outras. O resultado final é um livro pouco coeso, um bocado all over the place.

Mas vamos lá ver cada uma das histórias. A primeira é Light Bearer, de André Oliveira e André Caetano, que sofre do mesmo mal que sofre Palmas para o Esquilo e que tanto me chateou: arte e argumento não contam exactamente a mesma história, pelo menos não da mesma maneira, e não estão interligadas de forma normal. É um problema pessoal, que não gosto mesmo nada disso, porque acho que se perde muito ao separar as duas coisas em vez de se fazer um esforço para as integrar e usar uma para reforçar a outra. No entanto, e focando-me principalmente na arte, conta uma história interessante e tem um final curioso e inesperado que me agradou.

Depois veio Tunnels, de Fernando Dordio e Bernardo Majer, que tem a premissa curiosa de ilustrar uma música, nomeadamente a Tunnels dos Arcade Fire, e os autores conseguem fazer com que funcione, de uma forma estranha, aleatória e abstracta. Mas não é o meu estilo, e portanto não apreciei devidamente. Já para não falar da arte, da qual não gostei, demasiado simplista e viciada (as caras são todas iguais...).

The Boar-man is getting married, or Leng T'che, de David Soares e Pedro Serpa, tem uma das melhores artes e uma das piores histórias (se é que havia uma) do livro. Volta a aparecer a separação entre escrita e desenhos que me aborrece de morte e tira todo o interesse à história. É uma boa leitura, mas apenas graças à arte de Pedro Serpa, ainda que confesse que a ideia, que deve ter sido 100% do David Soares, é bem porreira!

Em Orwell, the Soviet Cat, é a vez de Mário Freitas, o organizador da antologia, apresentar uma história desenhada por Sérgio Marques. E não tenho muito a dizer para além de "bom título, boa arte, história assim assim". Depois de ler esta história fiquei plenamente convencido que todas as histórias pecam por serem tão pequenas!

Young Enlil goes to Hell, de Pedro Cruz, é um grande cliché em forma de BD, com um final super estranho e que serve mais como "trailer" e publicidade do que outra coisa, e que, portanto, não me agradou minimamente.

A história seguinte, The Green Pool, de Francisco Sousa Lobo, conseguiu algo extraordinário: uma premissa interessante, uma história interessante, um bom argumento e uma arte porreira, que tudo junto dão origem a uma BD mediana. Não sei o que se passou, mas suspeito que, lá está, esta história precisasse de mais espaço para se desenvolver.

Uma das histórias mais interessantes foi definitivamente Low Battery, de Nuno Duarto e Osvaldo Medina, que tem uma boa ideia e uma arte muito boa. Peca um pouco pela forma ligeiramente idiota como se desenvolve, mas é uma boa história que consegue ter um final interessante, apesar do diálogo meio ranhoso, de vez em quando.

Depois há Hanging Garden, de André Oliveira e Inês Galo, com uma boa arte e uma boa história... Se ignorarmos completamente a narração. É outra BD moderna com uma separação entre escrita e desenhos, mas que consegue contar uma boa história. Aliás, uma história muito boa, que perde muito do seu peso por causa da péssima narração que a acompanha.

Um problema que não aflige Joana Afonso, em Ick!, que tem uma das melhores artes do livro, e um dos finais que menos me agradou, apesar de ter uma história bastante interessante. Foi das poucas histórias que conseguiu realmente adaptar-se ao formato e mostrar algo interessante sem cair em idiotices.

In Clouds, de Ana Matias e Bernardo Majer, tem uma certa inocência infantil na forma como conta a história. Os desenhos não são maus, embora sejam de um estilo que não me agrada particularmente, mas a vertente mais infantil dá-lhe outra graça.

Já quase no final, aquela que deve ter sido a minha BD favorita, Omega, de Nuno Duarte e Ricardo Venâncio, que tem bons desenhos, uma excelente história, e um final muito interessante. É uma boa abordagem à escrita, especialmente à escrita de BD, e à forma como é fácil um autor ficar preso a uma personagem, ou a um Universo. Muito bom.

Só tenho pena que para terminar tenha sido escolhido Walpurgis 77, de Zé Burnay. Ou melhor, que tenha aparecido de todo nesta antologia, porque isto não é BD, são desenhos semi-aleatórios, uma história à là Chilli com Carne sem interesse nenhum e que não me fascinou de nenhuma forma. Uma autêntica pena.

Como podem ver, não foi uma má leitura. Até foi bastante boa, tendo em conta que são portugueses a escrever em inglês para apresentar o que de melhor se faz por cá. Só que pronto, tem alguns pormenores que resultam dos autores se perderem, de certa forma. É fácil ficar preso no meio de "tenho de ser diferente!" e "preciso de impressionar" e "modernismo, modernismo, modernismo", e muitas destas pequenas BD's sofrem disso mesmo, o que é uma pena e faz desta uma leitura mediana.

Mas louvo o esforço, o trabalho, a concretização e o resultado final. Apesar da qualidade ficar aquém, é bom ver alguém a mexer-se e a apresentar iniciativas da forma que Mário Freitas e todos estes autores o fazem, e por isso, estão de parabéns.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

*Interrupção*



Caríssimos, gostava muito de ter mantido o meu recorde fantástico de não falhar um único dia, mas depois de um semestre complicado, precedido de 3 anos e meio de IST, acho que mereci um fim de semana de descanso antes de começar a época de exames. Sim, fui de mini-férias. Na realidade fui para uma sessão da Oficina de Escrita, mas isso já são pormenores.

A parte que vos interessa é que estou a escrever isto na Sexta-Feira passada, já é tarde e não me apetece elaborar muito mais, e como ontem cheguei (vou chegar?) tarde e más horas, não me vai apetecer elaborar mais.

Portanto, caríssimos, hoje não há nada para ninguém. Quarta-Feira retoma a programação habitual. Façam como eu: divirtam-se!