Autor: Harlan Ellison
Opinião: Com um título no mínimo curioso e boas recomendações, este conto foi uma leitura rápida e agradável. É apenas a segunda coisa que leio do autor, depois de um fantástico I Have no Mouth and I Must Scream, mas confesso-me ligeiramente rendido.
Harlan Ellison é um contador de histórias como eu gosto de ler, subversivas, interessantes e ligeiramente caóticas. Pelo menos tendo em conta estas duas, o que é pouco, claro.
Se querem que vos diga, por estes contos eu diria que Ellison é uma espécie de versão intelectual do Stephen King. O que escreve não é nenhum portento literário, embora seja bom em termos técnicos, gosta de fazer experiências a nível de estrutura, tem um certo dom para caracterizar personagens e é fantasticamente malévolo.
A diferença é que Ellison é mais intelectual, mais... brainy.
Esta história, por exemplo, é uma distopia contada de forma não linear. Eu repito. Distopia contada de forma não linear. O que é que pode haver para não gostar?
Estranho a todos os níveis e durante toda a leitura, "Repent, Harlequin!", said the Ticktockman tem um ditador chamado Ticktockman, de tal forma obcecado com o tempo que os atrasos são crime. Crime!
Para compensar, a certa altura surge o Harlequin, uma personagem que é quase o negativo do Ticktockman, um anarquista mascarado cujo objectivo de vida parece ser causar o caos quebrando e estraçalhando todas as regras impostas pelo ditador. Desde avisar que vai aparecer num certo dia a certa hora e atrasar-se, a causar uma onda massiva de atrasos por libertar toneladas de jelly beans pela cidade, o Harlequin luta contra a opressão.
É interessante ver o desenrolar desta luta, e a forma como o Harlequin lida com a sua vida dupla e o seu desejo de sair da norma e de lutar. Só que depois tudo acaba, num fim ligeiramente reminescente do 1984 de Orwell, mas sem deixar de lado um pequeno pormenor que de certa forma dá a vitória ao Harlequin, mesmo que ele seja completamente esquecido.
Por estas e por outras, podia usar "estranho" e "provocador" para descrever este conto. Faz-nos pensar sobre aquilo que andamos a aturar no nosso país, por exemplo. Juro que pagava para ver alguém a despejar camiões de gomas à porta do Parlamento, ou algo desse estilo.
O facto de ter sido escrito de rajada, numas míseras seis horas, apenas o torna mais impressionante. Tem uma história sólida e bem contada, com duas personagens centrais bastante boas e uma escrita agradável e poderosa em imagens. Um autor a seguir!
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