segunda-feira, 26 de maio de 2014

The Hero of Ages (Mistborn #3)

Autor: Brandon Sanderson


Opinião: Para alguém tão prolífico como Brandon Sanderson, seria de esperar que nem tudo o que escreve é absolutamente fantástico. Mas a verdade é que desde que comecei a ler esta trilogia que a qualidade tem vindo a aumentar (o primeiro foi muito bom, e o segundo foi melhor ainda), culminando nestas 700 páginas de quase-perfeição e que são impossíveis de largar.

Precisei de toda a minha força de vontade para parar de ler e estudar ou fazer o que quer que fosse. Especialmente na segunda metade do livro, embora todo o livro tenha um ritmo alucinante. De desenvolvimento atrás de desenvolvimento, o autor consegue guiar-nos pela sua história e pelo seu mundo de forma magistral.

Sanderson conta a história que quer, como quer. E se haviam dúvidas vindas dos outros livros, este livro esclareceu-as. Todas (ou quase)! Torna-se até um ligeiro lugar-comum, mas é daquelas coisas que só lendo até ao fim é que se percebe a magnitude tremenda daquilo que o autor criou.

O meu problema agora vai ser falar-vos deste livro sem revelar demasiado. Como já disse, neste livro tudo se junta, todas as peças acabam por se organizar e encaixar num todo maior do que a trilogia, por vezes de forma surpreendente, outras de forma mais ou menos esperada, mas sempre, sempre!, de forma pensada e bem contada.

A maior qualidade que vejo em Sanderson é exactamente essa. Sim, as suas personagens são normalmente bastante boas, o sistema de magia é primoroso e as cenas de acção são bem pensadas e ritmadas, mas... A história. O background. Cativantes, interessantes, a primeira é bem contada, o segundo é bem explorado. Dificilmente poderia pedir mais.

E não há grandes artifícios literários nem construções frásicas complicadas. Sanderson marca com a intensidade da narrativa, em vez da intensidade da linguagem, preferindo mostrar do que contar. Consegue fazê-lo mais e melhor do que a maior parte dos outros autores que já li! Os conceitos complicadas e emoções complexas que consegue fazer passar através de um gesto subtil ou de uma expressão facial momentânea ou até de uma hesitação na fala de uma personagem... Muito bom.

Outro aspecto fascinante é a diversidade que Sanderson conseguiu pôr nestes três livros, que ainda são formam um trilogia coesa. Final Empire transmite uma certa sensação de heist movie, mas em grande escala; The Well of Ascension soa a fantasia de política medieval, à là Martin; e este The Hero of Ages é apocalíptico. Ou melhor, uma história de sobrevivência: dos protagonistas, do mundo, dos deuses e da felicidade e esperança.

Com o mundo a acabar, de forma bastante literal, Vin tem que descobrir o que se passa sem que uma força praticamente omnipotente dê por ela, ao mesmo tempo que Elend, recém-tornado Mistborn, tem que governar um império. Acho que a personagem de Vin estagnou um pouco, mas Elend teve uma boa evolução, de chato académico mimado para rei-guerreiro capaz de tomar decisões duras e complicadas.

O resto das personagens também teve uma boa evolução, de uma maneira geral. Sazed e as suas dúvidas, Spook (o antigo nome de Lestibournes era mais fixe) com uma mudança mais radical, para melhorar, a confirmação da personalidade benevolente e complexa de Breeze, as informações sobre a mente dos koloss e dos Inquisitors e dos kandra e e e...

Como já devem ter percebido, fiquei fã. Completamente rendido. Está mais do que aconselhada, esta trilogia, e este autor, embora não lhe tenha lido mais nada. O primeiro livro de Mistborn vai sair em português, pela Saída de Emergência, e o tipo tem mais alguns que me andam a chamar a atenção, nomeadamente The Way of Kings, o primeiro de dez livros de fantasia épica que me parecem ser o tipo de coisa que se vão tornar clássicos, da mesma forma que The Wheel of Time de Robert Jordan, por exemplo (e que o Sanderson, por acaso, acabou de escrever, depois da morte do autor).

Acho que o pior vai ser estar muito tempo sem ler Sanderson. Ainda por cima descobri na sua wiki que a maior parte dos seus livros se passa num mesmo universo partilhado, com personagens em comum e uma história em pano de fundo, subtil, da qual já vi sinais nesta trilogia. Rendo-me!

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