terça-feira, 31 de março de 2015

Nova rubrica: Muito poucos dedos de conversa sobre cinema de forma quase nada informada

Ora bem, quem é que se lembra da Alice? A co-fundadora aqui do blog, e uma das minhas amigas loucas (a de Artes). Aqui há uns anos saiu do blog, e desde essa altura que a queria ter cá de volta, de alguma forma. Finalmente consegui!

Como é que a convenci? Foi uma coisa mútua. Convidei-a a escrever qualquer coisa, ela teve logo interesse e ideias, daí até chegarmos a acordo para uma rubrica (espaçada) foi um saltinho.

Se ainda não perceberam pelo título, é uma rubrica de cinema, colmatando assim a minha falha no que toca a conhecimento cinematográfico, e diversificando mais um pouco as vossas leituras.

Outra coisa que devem ter reparado, é que o título é enorme. Mas fica no ouvido.

O primeiro texto sai amanhã, e é sobre distopias. Fantástico, hã? Parece que me rodeio de fãs de distopias.

Da minha parte, é tudo. O texto é muito bom, e fiquei logo entusiasmado para publicar mais textos, mas infelizmente vamos ter que esperar um pouco, que ela tem pouco tempo (como a compreendo) e quer-se esforçar para escrever coisas com pés e cabeça.

O de amanhã é certamente mais completo do que qualquer coisa que eu pudesse escrever sobre cinema... Já sabem, é só passarem por cá, que o texto espera-vos. E depois fazerem pressão para ela escrever mais!

segunda-feira, 30 de março de 2015

O Livro da Espada (A Idade das Trevas #2)


Autora: A.J.Lake
Tradutora: Maria de Fátima St. Aubyn


Opinião: Como disse depois de ler o primeiro livro, só peguei nisto por uma questão de acabar a história. Não é uma má leitura, mas acentuaram-se as falhas de O Regresso dos Dragões: ligeiras incoerências, personagens pouco desenvolvidas, linhas narrativas praticamente arbitrárias, revelações atrás de revelações que não fazem qualquer sentido...

A forma como a história evoluiu desde o outro livro é honestamente palerma. Ok, tinha ficado num cliffhanger, e aqui continuou bem a partir daí, mas não foi mais do que uma forma de fazer avançar o enredo sem parecer idiota. Ou pelo menos foi isso que a autora tentou, porque pareceu idiota na mesma.

Nem vou falar da quantidade de revelações sem sentido que só foram feitas para chocar e tentar que o leitor fique mais agarrado à história. Só que falhou. Outra vez.

No fim, depois de uma viagem pela neve e pelo frio e por lagos assombradas e montanhas malditas, ficam alguns pontos em aberto que até se podem tornar interessantes, mas... A estupidez dos protagonistas em simplesmente acreditarem e confiarem em toda a gente que lhes aparece à frente espanta-me.

Ou seja, não tenho propriamente boas expectativas para o próximo livro, que ainda por cima é maior que os dois primeiros. Felizmente é o último e tem dois dragões na capa, o que pode ser bom sinal. Se este livro teve alguma parte emocionante, foi quando dois dragões (tecnicamente um deles era uma dragoa, como a narração e os diálogos estão sempre a dizer) andaram às turras. Logo se vê.

sábado, 28 de março de 2015

A "Terceira Realidade" de Joel Puga

Contactado pelo próprio autor, decidi espreitar o blog ficcional Terceira Realidade. Esse autor é Joel Puga, e o que encontrei foi uma iniciativa que gostava de ver repetida por aí fora. Bem, não literalmente, como é óbvio, mas esta vontade de fazer algo diferente dentro da Literatura do Fantástico português é de aplaudir!

Qual é a premissa? Podem perceber melhor nas FAQ do próprio blog, mas em termos muito simples, é o relato das aventuras e desventuras, invariavelmente Fantásticas, de alguém que encontrou um caderno com informações que normalmente não estão acessíveis ao comum dos mortais.

Como por exemplo a localização de um bar de seres sobrenaturais. Ou detalhes sobre grandes ajuntamentos de fantasmas.

Porque é que eu gostei? Porque isto, caros leitores, é a criação de um universo próprio, com vasto potencial para se tornar vasto, detalhado, e ainda ser usado para o autor desenvolver histórias maiores.

E tudo isto feito em textos curtos, publicados por segmentos, que abrem o apetite, não contam demasiado, e são pequenos o suficiente para serem lidos durante uma pausa no trabalho, no estudo, ou no que quer que seja.

Ainda por cima são boas leituras. Há ali muito espaço para evoluir, e muita coisa para polir na escrita, que parece demasiado impessoal e mecânica, mas gostei de ler e vou seguir, definitivamente. A vocês, aconselho que façam o mesmo! No entretanto podem acompanhar o outro blog do autor, Journeys of the Sorcerer, bem como procurar alguns dos seus muito contos que por aí andam espalhados.


sexta-feira, 27 de março de 2015

SPADS (XIII #4)


Argumento: Jean Van Hamme
Arte: William Vance
Tradução: Rui Freire


Opinião: Não gostei tanto deste volume. Quer dizer, é complicado. Em SPADS, a torrente infindável de desgraças continua a cair em cima de XIII e de todas as pessoas com ele associadas (mas principalmente nele), e das duas uma: ou já se está envolvido o suficiente com o enredo e com as personagens para se achar isto emocionante e fantástico, ou parece simplesmente ridículo.

Eu estou na fronteira.

Se por um lado gostei de ver XIII atirado para uma situação completamente diferente, muito mais rígida, em que não está fisicamente preso, mas sim psicologicamente, de certa forma, ao mesmo tempo que a sua história avança sem ele, por outro achei que muito do que se passou foi completamente desnecessário e que acabei por perder tempo.

E também há o facto de o protagonista, XIII, ser uma boa personagem, mas ficar muito atrás de outras personagens como o General Carrington, a Major Jones, o Mangusto, o Coronel Amos, enfim, uma série de personagens mais ou menos secundárias que me agradam muito mais e que prefiro acompanhar.

Tendo isso em conta, é fácil de perceber que me tenha desinteressado, por vezes, daquilo que estava a acontecer ao protagonista: queria era concentrar-me no que se estava a passar com todas as outras personagens!

Mas verdade seja dita, Jean Van Hamme fez um bom trabalho de argumento. Mesmo quando sou obrigado a acompanhar XIII e as suas milhentas identidades, sinto-me interessado. Quero pelo menos saber qual vai ser a próxima identidade que ele vai descobrir. E o argumento está a conseguir ligar todas as pecinhas de forma exemplar.

A arte de William Vance, por seu lado, é sempre agradável de acompanhar. Às vezes até parece imperfeita, com muito detalhe, mas mais rabiscado do que outra coisa, só que nunca perde o interesse. Nem falo dos cenários e de tudo o que estiver em pano de fundo, porque é sempre tudo um autêntico regalo visual.

Confesso é que se não tivesse já os livros todos, talvez desistisse de acompanhar. De certa forma, não compensa, e os livros parecem mais longos do que são, devido ao grande formato que deixa ter muito texto e muita imagem detalhada na mesma página. BD já leva muito tempo a ler, tendo em conta que é noventa por cento imagens, mas esta ainda demora mais. Mas pronto, eu continuarei a dar o benefício de dúvida, que já ouvi que o arranque é lento, mas depois quando começa realmente é sempre a abrir.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Agent Carter [T1]



Esta série tinha a tarefa ingrata de distrair os fãs de Agents of S.H.I.E.L.D. durante a sua pausa, mesmo depois de ter começado a ficar interessante. A sorte de Agent Carter foi a protagonista, há muito acarinhada pelos fãs.

Essa protagonista é Peggy Carter, a paixão do Capitão América durante o seu primeiro filme, e que aqui vemos a sofrer por essa mesma perda. Mas Carter não é simplesmente uma espécie de viúva, não, ela é uma excelente agente, melhor do que todos os seus colegas homens, e rapidamente se vê envolvida numa série de trapalhadas ao mesmo tempo perigosas, engraçadas e interessantes.

A maior parte dessas desventuras são culpa de Howard Stark, pai de Tony Stark/Iron Man, um engatatão de primeira, um génio de primeira, mas também um azarado/aselha de primeira. Parece que tudo o que inventa acaba por se transformar numa arma mortífera e altamente instável. Chega a tornar-se ridículo.


Logo no início da temporada (que é curta, com apenas oito episódios), Howard pede a Peggy para encontrar o que lhe roubaram do cofre: várias dessas experiências bem-intencionadas que deram para o torto. Nalguns casos, muito para o torto.

Peggy aceita, meio contrariada, mas tem que trabalhar às escondidas. É que Howard passa a ser procurado pela SSR (a agência de que Peggy faz parte). Felizmente tem alguma, Jarvis, o mordomo de Howard, mais uma personagem fantástica no meio desta série, sempre muito britânico, com uma mulher que nunca aparece no ecrã, capaz de safar o patrão de todas as situações possíveis e imaginárias, a maior parte delas... românticas.

Uma coisa que gostei muito nesta temporada foi ver tanta coisa comprimida em tão poucos episódios, de forma tão coerente. Muito pouco é apressado ou abordado da forma errada. Está tudo razoavelmente interligado, e acaba por ser explorado, de uma forma ou de outra, num episódio ou noutro, desde a aparição dos Howling Comandos às ligações ao passado da Black Widow.



Os episódios, esses, oscilaram um pouco entre fazer avançar a história e desenvolver as personagens. Não é um balanço fácil, e foi uma das maiores falhas da série, mas não correu demasiado mal. Apenas quebra um pouco o ritmo. Se em alguns episódios a velocidade é alucinante, com revelações (e desgraças) ao virar de cada esquina, outros são mais calmos e pausados, completamente focados numa personagem ou num conflito em específico.

De vez em quando também aconteceu durante os episódios. Momentos quase parados entre momentos extremamente movimentados. Mas isso nem me pareceu mal, permitiu avançar a história e também explicá-la com tempo. Ou seja, de forma individual, cada episódio conseguiu lidar bem com as duas coisas, só no geral, quando penso na temporada como um todo, é que vejo isso a falhar ligeiramente.

Algo extremamente positivo é a personagem principal, Peggy Carter, a justificar plenamente o apreço dos fãs do Universo Cinemático da Marvel. Peggy tem o ar típico de uma mulher dos anos 40, é tratada tal e qual como as mulheres eram tratadas - constantemente desprezada no seu trabalho, que é dominado por homens - mas tem uma personalidade extremamente atípica. É desenrascada, lutadora, confiante, e encara o clima de machismo com o maior desprezo possível.



A química entre Peggy e Jarvis? Sensacional! O duo funciona muito bem como equipa, e é sempre interessante vê-los a discutir um com o outro nos seus sotaques britânicos. Ou simplesmente ver Peggy a gozar forte e feio com o Jarvis, que se mantém sempre calmo e educado. Um verdadeiro gentleman.

Por outro lado, nem todas intrigas em que TODAS as personagens acabam por se ver envolvidas são interessantes. E algumas são secundárias o suficiente para me ter esquecido delas e não ter perdido nada com isso. Num programa com tão poucos episódios e com tanta coisa condensada, desperdiçar assim tempo de ecrã pareceu-me um desperdício.

No entanto, e depois de ter visto tudo, fiquei bastante satisfeito. Os colegas e o chefe de Peggy - todos eles boas personagens a vários níveis - acabam por lhe reconhecer o valor, com uma boa evolução ao longo dos episódios, e o enredo consegue desenvolver-se de forma suficientemente agradável para o meu gosto. Nem tudo foi perfeito, mas funcionou dentro daquele estilo da Marvel a que já me habituei. Foi bom ver as ligações com o resto do Universo Marvel.

Agora fico curioso para como será uma segunda temporada (se ela aparecer), e as portas que esta série abriu para outras séries e filmes... Eu sei que a Marvel já anunciou os próximos filmes, mas quem sabe se não decidem ter mais coisas sobre personagens sem poderes? Ou filmes inteiros como prequelas distantes que fazem sentido dentro da linha narrativa que estão a seguir?

Não sei! Mas tenho a certeza de que não foi a última vez que vimos a fantástica Peggy Carter, nem o fantástico Jarvis. E ainda bem!

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Regresso dos Dragões (A Idade das Trevas #1)


Autora: A.J.Lake
Tradutora: Maria de Fátima St. Aubyn


Opinião: Comprei esta trilogia há uma série de anos, ao preço da chuva, juntamente um jornal qualquer. Eram livros, baratos, com dragões na capa. Raramente é preciso mais do que isso para me convencer.

Na altura li e lembro-me que gostei. Fiquei com saudades e voltei a pegar neles, que ainda por cima são pequenos e de leitura rápida. Conclusão? Também estou a gostar, mas consideravelmente menos. Agora tenho a noção de que são bastante juvenis e apenas moderadamente bem escritos. Possivelmente com alguns problemas de tradução.

É que é assim, por muita Idade Medieval que isto seja, os diálogos estão escritos de forma actual. Não cabe na cabeça de ninguém que as personagens digam "Não consigo lobrigar nada!". Poupem-me!

Mas tirando a linguagem simples, os diálogos fracos, a escrita básica e a história juvenil e básica, até é uma leitura agradável. Pelo menos é uma boa mudança das coisas mais densas que vou lendo. E nem começa mal: um príncipe incógnito num barco que é afundado por um dragão, e que sobrevive juntamente com a filha do capitão.

Juntos vão-se ver envolvidos numa bela quantidade de alhadas, ao mesmo tempo que o príncipe, Edmund, descobre que tem um dom que é muito mal visto, e a rapariga, Elspeth, se vê aprisionada a outro dom que lhe dá mais problemas do que outra coisa.

Pelo meio, dragões! Intrigas medievais! Disfarces! Um menestrel misterioso! Um velhote misterioso! Uma demanda! Reis! Traições! Plot twists! Desgraças familiares!

Enfim, parece um bolo de literatura juvenil, foi só seguir a receita e juntar, sem mexer muito para ser relativamente óbvio. Não é uma má leitura, mas não é grande coisa. Vou acabar de ler a trilogia só para ficar a saber como a história acaba e pronto...

sábado, 21 de março de 2015

6 anos depois e ainda não caiu

Acho que a duração deste blog já se começa a tornar ridícula. Quando o criei, juntamente com a Alice, não esperava que isto fosse coisa para durar. Ou melhor dizendo, não pensei nessa hipótese. Foi algo de que falámos e que criámos e para o qual começámos a escrever e assim nos mantivemos.

Durante muito tempo, não tinha perspectivas. Escrever porque era novidade, escrever porque era giro, escrever porque lhe tinha tomado o gosto, escrever porque era uma obrigação, escrever porque era uma responsabilidade, escrever porque redescobri o prazer de o fazer... Mas recentemente penso cada vez mais no futuro do blog. Isto parece ser coisa para durar.

Isso deixa-me bastante satisfeito. Já ameacei, tanto publicamente como dentro da minha cabeça, que acabava com isto. Tive momentos em que me fartei, por vários motivos, um deles aquele sentimento de obrigação que mencionei ali acima, outro deles o florescer de blogs vazios de conteúdos mas recheados de publicações e passatempos e o camandro que juntavam muito mais atenção cada um do que o resto da comunidade.

Mas no fim, cá continuo. As mudanças vão acontecendo, devagar, e de momento tenho um modelo mais ou menos estável, capaz de evoluir e de se modificar, lentamente, para se adaptar ao que melhor funciona. É claro que as modificações estéticas, há muito (muito mesmo) prometidas, demoram a chegar, mas é das coisas que menos me preocupa. Devia-me preocupar mais um bocado, mas enfim... Hei-de lá chegar.

No entanto noto que cada vez tenho mais liberdade para escrever. Livros, filmes, séries, coisas aleatórias... Estou a gostar. E a rubrica Estantes Emprestadas é o meu orgulho. Só gostava de conseguir fazer mais pela blogosfera, que parece estar nos seus últimos estertores, por causa de coisas como o Facebook, que as pessoas preferem acompanhar.

Em especial, gostava de fazer mais pela blogosfera literária. Mas somos poucos, os que lutamos por uma comunidade crítica, interessante e interessada.

Nada que me impeça de continuar, como é óbvio. Continuo a perder algumas horas de sono, e outras tantas de trabalho, por causa disto, mas como já cheguei a dizer, este blog foi o meu primeiro emprego. E pelo andar da carruagem, será o meu último emprego, daqui a umas décadas. Já imaginaram o QAENCEC de bengala, ainda a debitar opiniões? Rio-me só de pensar na ideia.

No fim o que me interessa é o orgulho imenso que tenho deste canto da internet que raptei e modelei à minha vontade ao longo dos anos. E acho que um dia hei-de fazer isto algo ainda melhor. Vocês sabem, quando "tiver tempo" e conseguir "arranjar paciência".

*cough* mitos *cough* tempo livre, o que é isso? *cough*

Até lá, espero continuar a contar com o pessoal que comenta, o que lê, o que critica e o que lê regularmente (ou não) os meus devaneios pessoais e os que peço emprestados. E um obrigado à Alice, a co-fundadora, pessoa de quem originou a ideia, e alguém que se revelou como uma amiga e pêras. Louca, como é óbvio, mas fantástica. Sem ela, o QAENCEC não existiria, e nunca é demais lembrar isso mesmo.

E para vocês todos também, claro: obrigado!

sexta-feira, 20 de março de 2015

Todas as lágrimas do Inferno (XIII #3)


Argumento: Jean Van Hamme
Arte: William Vance
Tradução: Rui Freire


Opinião: O início deste volume é o mais interessante até agora. XIII está num manicómio no meio de nenhures, onde é submetido a terapia de choque para recuperar a memória. Está bem feito, bem descrito e tem um bom ritmo. Acho que a história só teve a ganhar por de repente ficar confinada a um local, em vez de andar a deambular por todo o lado.

Claro que nada corre bem dentro do manicómio: XIII quer fugir, e não é o único. Os médicos que cuidam dele e dos seus companheiros loucos são cruéis e desvairados, como não podiam deixar de ser. O costume.

A representação das personagens loucas está muito bem feita, tanto a nível gráfico como a nível de diálogo e de papel na história. E há uma cena em particular, da fuga de XIII pelos esgotos, com vinhetas pequenas e claustrofóbicas, que está espectacular.

Em termos gerais, é uma ligeira pausa no enredo alucinante dos livros anteriores, com pequenas pistas para o que vem a seguir, como o facto de XIII ter sinais de ter sido submetido a uma cirurgia plástica, revelando assim que não é de facto quem se achava que ele era. Outra vez.

Pelo meio aparece a Tenente Jones, sempre esbelta e segura de si própria, a meter o bedelho onde não era chamada, e a precisar de ser salva antes de salvar o dia. Também o costume. O que é interessante é ver como no meio de tudo isto, o mistério em torno de XIII e da sua identidade se adensa consideravelmente, mesmo com o enredo a um ritmo mais lento.

Acho que isso é algo muito bem conseguido pelo argumento, e faz-me querer continuar a ler para saber mais, sem sombra de dúvida. A arte de William Vance continua realista e detalhada, com uma especial atenção aos cenários e uma infeliz incapacidade em dar expressão às personagens (excepto aos loucos, de tão exageradas que são). Vamos ver o que me espera nos próximos livros.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Torchwood [T4] - Miracle Day




É um bocado injusto só falar desta temporada da série. Vi-as todas, mas as primeiras três ainda marcharam o ano passado, quando não escrevia opiniões sobre séries. Portanto vou fazer uma introdução alargada.

Depois do sucesso que foi trazer Doctor Who de volta, Russel T. Davies e companhia pegaram numa personagem mais ou menos secundária, Captain Jack Harkness, e deram-lhe a sua própria série. O actor, John Barrowman (que é fantástico) ficou bastante feliz, pois adora a personagem, e os fãs ainda mais felizes ficaram, pois ainda gostam mais da personagem.

O Captain Jack foi daquelas personagens que passou por Doctor Who e se tornou praticamente universalmente apreciado. São poucos os fãs da série que não ficaram fãs dele. O que é que há para não gostar num tipo vindo do futuro, omnisexual (homens, mulheres, humanos, não-humanos...), com o carisma de Barrowman? Eu digo-vos: nada.


A série que protagonizou, Torchwood, foi sendo introduzida em Doctor Who, com referências aqui e ali, mais ou menos directas, mas quando ganhou o seu espaço, ganhou a sua própria identidade. Até chegou a cruzar-se com a série original, mas tornou-se num spin-off com vida própria, um cantinho do universo de Doctor Who com histórias e conceitos mais maduros, mais violência e enredos mais pesados e dramáticos.

Quase um Doctor Who para adultos. Mas muito mais do que isso! Torchwood foi uma série original desde o início, muito criativa e na qual o argumento não tinha que se preocupar demasiado com limites, sobre uma organização secreta com o objectivo de combater as ameaças alienígenas à Terra.

As primeiras duas temporadas são relativamente normais. São interessantes e introduzem uma série de personagens fascinantes, ainda que apareçam de vez em quando personagens como a protagonista, Gwen Cooper, altamente sobrevalorizada dentro e fora da série, e que eu não consegui suportar durante um único episódio das quatro temporadas.


Mas a verdade é que a qualidade esteve um pouco aquém daquilo que seria expectável. Conclusões palermas, resoluções apressadas, conflitos de personagens que não faziam muito sentido, enfim, uma série de falhas que não estava à espera de encontrar. Pequenos defeitos, mas que fizeram a diferença.

Tudo mudou, no entanto, com a terceira temporada, em formato mini-série de apenas cinco episódios alargados, e que ultrapassou largamente as minhas expectativas. Havia esperança para o programa!

E depois veio a quarta temporada, também ela uma espécie de mini-série, com dez episódios co-produzidos com um canal americano. Sim, isso mesmo. Eu fico espantado que os fãs não se tenham revoltado e deitado abaixo a BBC, que tudo o que esteja relacionado com Doctor Who costuma ser religiosamente britânico e ai de quem sugerir o contrário. E eu aqui até apoiava, pois o resultado foi... fraco.

Quer dizer, a ideia é excelente. Estilo Intermitências da Morte, um dia as pessoas deixam de morrer, sem mais nem menos. Só que aqui a trama descamba numa conspiração super complexa de farmacêuticas e grupos criminosos semi-secretos. E até aqui, tudo bem. Era uma história interessante de se seguir.

Mas realmente, a americanização do programa fez-lhe mal. Explosões só porque sim, maus actores, a insistência em dar tanto protagonismo à Gwen, juntamente com a insistência em dar quase zero de protagonismo ao marido dela, Rhys, uma personagem infinitamente mais interessante... E um enredo de desenvolvimento confuso, com muita, mas mesmo muita coisa a não fazer muito sentido.

Apesar de ter alguns bons momentos...
Foi uma pena. O orçamento foi claramente elevado, e a conclusão até é interessante, especialmente aquilo que deixa em aberto para futuras séries (que ainda não aconteceram, apesar da série não ter sido oficialmente cancelada), mas o miolo da coisa, meh.

Tenho alguma esperança que Torchwood eventualmente volte, e que seja realmente bom, mas depois de conseguirem fazer uma má temporada logo a seguir a uma excelente temporada... Enfim.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Os Apontamentos de Leonardo


Autor: Leonardo da Vinci
Editora: H. Anna Suh
Tradutores: Manuel Cordeiro, Vítor Antunes, Leonardo Lorena, Maria José Figueiredo

Opinião: Já li muita coisa sobre Leonardo da Vinci, mas nunca tinha visto os apontamentos dele de forma tão extensa. O homem foi mais do que um génio, isso é óbvio, mas só ao ler as coisas que ele realmente escreveu e pensou é que se percebe a grandiosidade do seu intelecto.

Os tempos eram outros, mas estamos a falar de alguém que tanto falava sobre qual a melhor forma de representar pregas de tecido numa pintura, como sobre qual a melhor forma de projectar um determinado tipo de edifício. Da Vinci era verdadeiramente multifacetado, e era bom em tudo o que fazia!

Encontrei este livro já há uns anos, ao preço da chuva, e não hesitei em comprar, como é óbvio. Devido ao tamanho e à paciência que queria ter para o ler, fui adiando, adiando, adiando, até que este ano decidi que tinha de ser. E foi.

Conclusão? É uma leitura fascinante, acompanhada pelos esboços, desenhos e páginas dos seus manuscritos, cada folha mais interessante do que a outra. Chega a tornar-se ridículo, a sério. A aparente facilidade com que ele discursava sobre todos os assuntos, desenhava um cavalo em detalhe ou os músculos da perna de uma pessoa, projectava uma catedral, enfim... Só vendo.

Mas também é uma leitura complicada. Densa. Muita informação, raramente com grande preocupação em ser perceptível para outra pessoa que não o próprio autor. A escrita de Da Vinci não é má, mas é seca. Isto eram só apontamentos seus, que ele tencionava passar a livro, eventualmente. Como tal, custa um bocado a ler e a acompanhar tudo o que é dito, especialmente quando se passam várias páginas a descrever em pormenor como desenhar uma prega de tecido.

Interessante, sim, mas vamos ter calma. Saltei algumas partes de texto à frente, porque eram simplesmente demasiado técnicas para serem interessantes. Enquanto estivermos a falar de Ciência ou Literatura, por exemplo, aguento-me bem, agora começar a detalhar diferentes formas de perspectiva para pintar... Já sai fora da minha zona de conforto.

Mas é uma leitura fascinante, como é óbvio. Não me canso de dizer isto! Acho que toda a gente devia conhecer um bocadinho melhor esta mente assombrosa. E aprender qualquer coisa com ele, mais que não seja a curiosidade quase infantil para com o mundo que nos rodeia, e que o fez investigar e estudar um bocadinho por todo o lado, um bocadinho por todas as áreas.

sábado, 14 de março de 2015

Estantes Emprestadas [15] - Gostar e não gostar


Sejam bem-vindos ao retomar da primeira versão das crónicas convidadas aqui do sítio. Vi-me confrontado com uma maior dificuldade em arranjar vítimas participantes para a segunda versão, que é ligeiramente mais complicada. Valeu-me o Francisco, também conhecido como asesereis, comentador mais do que assíduo aqui do blog, a quem já queria pedir uma crónica há algum tempo. Aproveitei, e o resultado é o que podem ver a seguir.

Vou ter é que reler o 1984, porque acho que em 15, esta é a quarta crónica convidada em que o livro aparece mencionado! Mas vale a pena, que o livro é bom, e as crónicas também têm sido. Esta não é excepção: assertiva, interessante e muito revelador da forma como o Francisco/asesereis usa a literatura. Para ver o mundo. Quer seja intencional, quer não, é algo que claramente faz, de forma muito mais acentuada do que um leitor normal. E por isso, obrigado.

Agora, sem mais demoras, leiam!


Queria começar por agradecer ao magnânimo Rui Bastos pelo convite que me fez para escrever umas coisinhas que, sendo só palavras, têm sempre o valor de quem as lê e não o valor de quem as escreve, infelizmente para muitos autores.
Esperando que estes pensamentos tenham algum valor, aqui vai:

O Rui desafiou-me da seguinte maneira:
“Então a minha sugestão era falares de dois livros: um que tenhas gostado, de um autor que não gostes, e um que não tenhas gostado, de um autor de que gostes. Ou só um desses casos, ou algo parecido, ou algo mais geral, como por exemplo falares de gostar ou não de tudo o que um autor escreve, ou só porque se gosta ou não do autor.”

Deste modo, e seguindo o desafio de sentimentos contraditório que me foi feito, importa primeiro esclarecer que não existe um único escritor que odeio e que pura e simplesmente não consiga ler aquilo que ele escreveu (Escritor a sério! Não entram aqui nem os aspirantes nem os meros escreventes de contos e bibliografias pornográficas…). O único autor com que não simpatizo muito é Herman Melville. Todavia, só li ainda metade da sua magna obra, Moby Dick. Ou seja, mesmo que toda a enciclopédia relativa à diversidade de baleias, instrumentos de navegação e demais armas dos antigos baleeiros me encham de sono, não posso ainda afirmar que não gosto de nada daquilo que o homem escreveu.

Isto não quer dizer que seja daqueles sujeitos que diz: “Eu gosto de tudo”; o que seria equivalente a dizer que também não gosto de nada.

Não sou assim.

Tenho os meus gostos. Só que, ao contrário de filmes em que pagamos cinco euros para perder “apenas” duas horas de vida com um filme medíocre, com livros paga-se em média 15/20 euros para perdermos muitas horinhas de vida mais. Assim tento ser um tipo selectivo quanto a livros, para poder ganhar horinhas de vida em vez de as perder. Acho que isso me leva a ter cuidado com aquilo que quero ler e tal é o motivo para que o desafio feito pelo Rui se me afigure de alguma extrema dificuldade.

Acabando aqui com o longo intróito, parto então para a exposição do livro que gostei de um escritor a quem reconheço pouco mérito literário:
José Rodrigues dos Santos dispensa apresentações. Todos sabem quem é, muita gente sabe que o homem tem gostos esquisitos quanto ao desenvolvimento pessoal das personagens ao ponto de conjugar mulheres, mamas e sopas de leite no mesmo parágrafo e reticências e mais reticências quanto aos devaneios sexuais do Noronha, Tomás Noronha… reconhecidíssimo herói português do presente século. Reconheço, no entanto, o contributo importantíssimo do JRS quanto à divulgação de informação cuidada. Maior parte dos livros dele são obras de serviço público e enche-me de pena os lobbies políticos que o tentam atacar uma e outra vez.

Importa também reconhecer que, como todos os escritores, o homem tem vindo a melhorar a sua escrita. Só que, ainda que nunca tenha falta de inspiração, como ele próprio diz, não tem o génio de muitos outros escritores, infelizmente…

Portanto, foi com espanto que gostei do livro Fúria Divina depois do tédio que tinha sido ler O Códex 632 e a Fórmula de Deus. Naquele livro o autor chama à atenção para o facto do Islão viver um paradoxo (Nem de propósito Rui) entre aquilo que o coração lhes diz que é certo e a interpretação lógica e sequencial do que resulta do Alcorão. Lendo atentamente este livro, e sendo para mais eu um jurista, percebi com rigor muitos dos problemas que afligem os crentes em Alá. Percebi que Maomé, para além de ser o Profeta (Já devo ter os americanos em cima de mim só por escrever isto…), foi também um líder político e militar. Como tal, Maomé não se deixou prender a nenhuma cruz. Lutou e mandou matar quem se lhe opunha como um líder político e militar por vezes faz. Mal sabia ele da barbárie que os seus futuros sequazes seriam capazes. Acredito hoje que, assim como Karl Marx, se Maomé renascesse amaldiçoaria cada palavra do que escreveu e cada frase que proferiu ao ver o fanatismo de minorias, financiadas pelos wahabitas que por sua vez são financiados por cada um de nós ao enchermos o depósito de combustível do carro…

É meu dever aconselhar o livro Fúria Divina e a restante bibliografia presente na obra assim como é meu conselho ler com olhos de perceber o que está lá escrito. Se tivermos os olhos de um totó, vamos acabar por fechar o livro e continuar a dizer que os árabes são apenas malucos… e portanto não vale a pena lê-lo.

Quanto ao livro que não gostei, do autor que gosto:
1984 é o livro mais arrepiante que alguma vez tive a oportunidade de ler e de não gostar nadinha do que lá vem escrito. George Orwell foi sem dúvida um batalhador da liberdade, mas – como todas as pessoas que já lutaram em algum momento pela liberdade sabem – a luta em nome da liberdade é sempre o lema de proa quando estamos perante uma mudança da ordem e dos poderes vigentes. (Revolução Francesa, 25 de Abril…) Nestas situações, quem luta pela liberdade está sempre a lutar por alguém que deseja o poder e não pela verdadeira liberdade. Orwell apercebeu-se disso mesmo e tratou de dedicar a última parte da sua vida a escrever muitas obras e muitos ensaios políticos; todos de qualidade. Assim escreveu também algo que nos chamasse a atenção para os poderes de um Estado Totalitarista, e não apenas de uma sociedade comunista (Como fez na fábula Quinta dos Animais).

1984 tem o vilão mais poderoso de todos os tempos literários.

O Big Brother ou Grande Irmão, vulgo figura absoluta de um Estado absolutista, é uma figura quase divina dada a sua omnipresença em todos os aspectos da vida dos seus cidadãos. O poder que essa mesma figura tem é tal que, para além de controlar as rotinas, os corpos e os pensamentos dos seus cidadãos, consegue controlar os sentimentos da sua população! Mais!!! O seu poder é tal que até o passado, o presente e o futuro ele controla. Já imaginaram vilão mais poderoso? (Rui, o Seltor cometeu deicídio, é forte, mas o Big Brother também o consegue fazer, de uma maneira bem mais cruel ainda… que ninguém duvide disso.)

Claro está, à vista de todos, que eu não odiei o livro. Pelo contrário, adorei odiar este livro genial de um escritor ainda mais genial por conseguir por em tão poucas páginas aquilo que outros politólogos não conseguem pôr em verdadeiros tratados sobre política.
O problema deste livro é que ainda hoje me dá pesadelos quando vejo o estado do ensino mundial, o consumo de merda cultural na televisão e até no mundo livreiro; quando vejo Putins e Obamas deificados e Snowdens e Bradley Manning condenados por serem corajosos; e cristãos decapitados pelos Soldados do Estado Islâmico e crianças palestinianas islamitas (que não são terroristas) serem presas e torturadas pelas tropas semitas israelitas apenas com o intuito de recolherem informações e de sedimentarem os seus colonatos na Cisjordânia…Tantos aspirantes à figura do Big Brother, tanta facilidade em caminhar para um mundo tão perigoso…

Aconselho vivamente que percam dois ou três dias da vossa vida a ler esta obra-prima; mas aviso já: No final vão odiar saber a lição, o aviso, a ameaça presente… que Orwell nos deixou.

E pronto…
Espero que tenham gostado.
Mais um obrigado ao Rui.
Abraço
E boas leituras

Francisco Barão Fernandes

sexta-feira, 13 de março de 2015

Hannibal Rising


Mais do que dos filmes (ou dos livros, que não li) sou um fã da personagem: Hannibal Lecter. Especialmente quando este sociopata é brilhantemente interpretado por Anthony Hopkins, mas também quando é Mads Mikkelsen a dar a cara. Ambos conseguiram um balanço perfeito entre classe, carisma e loucura, tudo concentrado num psiquiatra canibal com requintes de crueldade... E do qual é quase impossível não gostar.

Eu sei que isto até nem parece estranho hoje dia - os vilões estão claramente na moda - mas suspeito que na altura em que Silence of the Lambs apareceu não era bem assim. Valeu Hopkins e tudo o resto que fez desse um filme impecável.

Mas depois, entre sequelas e prequelas lá foram aparecendo mais filmes, incluindo este Hannibal Rising, que data de 2007 e se predispôs a contar a origem do Dr. Lecter. O resultado é um filme com estrutura de filme de super-heróis: há vilões, há um evento traumático, há um underdog e há uma evolução e um amadurecimento.


A diferença é que aqui o protagonista não é um super-herói, mas sim um vilão, dos perturbadores. E aqui dou a mão à palmatória: Gaspard Ulliel não me convenceu ao início, e durante alguns momentos mais para o fim do filme, mas consegue fazer bem o seu papel, de uma forma geral. De vez quando parece que está a tentar demasiado fazer de Hopkins a fazer de Hannibal, em vez de simplesmente fazer de Hannibal, mas é compreensível. Eventualmente encarna verdadeiramente a personagem e faz o que tem a fazer muito bem feito.

Mas o filme causa-me sentimentos contraditórios. Se por lado acabei de o ver e fiquei satisfeito, por outro não foi difícil apontar várias falhas que me desagradaram bastante, incluindo uma que muito me chateou: a humanização do Mal. É algo que também está na moda e que se traduz em fazer com que os vilões tenham motivos razoáveis para se tornarem vilões.

Na prática não são vilões, são incompreendidos. E isso, caríssimos, é uma seca. A maior parte do fascínio que existe com Lecter é causada exactamente pela sua total ausência de Humanidade. Mesmo quando parece uma pessoa normal e está a conversar com a maior das calmas, emana perigo. Parece que está sempre em posição de atacar a qualquer momento, e olhos não mentem: ali não há réstia de algo humano.


E o filme destrói isso por completo, ao dar-lhe uma razão para ser o sociopata que é. Não sei como é que ninguém encarregue daquele filme não percebeu que estavam a fazer asneira. No fundo, irrita-me que o Mal seja representado como sair do caminho certo. Porque é que o Bem há-de ser o caminho certo? Porque é não podem haver mais caminhos? Porque é que tem que haver alguma justificação? A personagem perde muito interesse e profundidade com esta "explicação", o que é uma pena daquelas monumentais.

Tirando essa falha flagrante, há algumas que eram escusadas e que caem no facilitismo, como ter o jovem Hannibal a experimentar uma antiga máscara japonesa que só lhe cobre a metade inferior da cara. Como o Hannibal adulto depois usa na prisão. Enfim. Compreendo a ideia, mas acho que é um simbolismo bacoco que não acrescenta nada à história, mas que apenas a ridiculariza.


O que vale é que o filme está bem feito, e é interessante acompanhar a evolução de Hannibal desde criança a jovem adulto. A sua lenta descida numa espécie muito peculiar de loucura, o seu quase completo vazio sentimental, a forma como a criança inocente que conhecemos no início se torna no perigoso psiquiatra canibal que conhecemos de outros filmes.

É isso que me confunde. Não sei, muito sinceramente, o que achar. É claramente um filme que só serviu para arranjar mais uns trocos, mas acabou por ficar razoável. Tem coisas que não fazem sentido, e coisas que entram na pura especulação, e consegue falhar na questão fundamental da sua origem. Mas é um filme agradável. Raios o partam, Dr. Lecter!

quarta-feira, 11 de março de 2015

Para onde vai o índio (XIII #2)


Argumento: Jean Van Hamme
Arte: William Vance
Tradução: Rui Freire


Opinião: Para começar, eu tinha razão. O primeiro volume desta colecção funciona como apresentação, e é a partir deste segundo volume que o enredo arranca a sério e tudo fica mais interessante.

O mais notável é a forma como o tipo, o XIII, não consegue ter descanso. Faça ele o que faça, acaba sempre envolvido nas piores desgraças e conspirações. Tudo feito de forma a que o enredo avance a um bom ritmo e, melhor ainda, se vá complicando de forma praticamente exponencial.

Revelação atrás de revelação, XIII tenta navegar pelo mundo em que se vê caído, incapaz de perceber totalmente o que se passa, devido à sua amnésia. Pormenor esse que é incrivelmente bem explorado, com XIII a gostar cada vez menos daquilo que vai descobrindo sobre a sua identidade.

É uma perspectiva bastante curiosa e que me agradou. A arte continua refrescante, para ser honesto, com um traço firme e detalhado, e uma enorme atenção aos pormenores e aos cenários.

Aquilo que retiro deste livro é que mal posso esperar para pegar em mais, porque isto de facto começa a ficar emocionante. A história relativamente banal evoluiu muito bem para algo que ameaça tornar-se fascinante, com várias voltas e reviravoltas que nunca deixam o leitor ficar demasiado confortável com aquilo que sabe. As personagens estão muito bem caracterizadas, nunca revelando quem sabe mais do que demonstra, simplesmente por lhes dar, a todas, um ar e acções levemente suspeito e misterioso.

A desgraça de XIII é isso mesmo: todos parecem esconder alguma coisa e saber mais do que ele, sobre ele próprio. A amnésia dificulta-lhe imenso a vida, mas ele lá se vai safando das encrencas em que se vê envolvido. Não sei é se conseguem aguentar esta história por muito tempo, mas não quero fazer julgamentos precipitados. Depois deste livro, tenho alguma confiança!

segunda-feira, 9 de março de 2015

The Sign of Four


Autor: Arthur Conan Doyle


Opinião: Embora este livro tenha claramente a qualidade que se espera de Conan Doyle, não me encheu as medidas. Até já o tinha lido em português, e gostado bastante, mas desta vez não chegou.

Não sei se será de já conhecer demasiado bem as histórias, e portanto já saber com o que contar, mas a verdade é que não gostei tanto como estava à espera. Gostei, claro, Conan Doyle a escrever Sherlock Holmes é sempre qualquer coisa digna de se ver, mas pronto.

A história até é interessante e misteriosa, como sempre, com intrigas que remontam às ocupações britânicas da Índia, um tesouro misterioso e uma jovem mulher que deixa o Dr. Watson completamente encantado.

Mas até as deduções de Holmes me soaram demasiado secas. O crime parecia impossível de cometer, mas estava-se mesmo a ver o que se passava, e de certa forma até foi demasiado fácil. Eu sei que são as capacidades de Sherlock que fazem tudo parecer demasiado fácil, mas confiem em mim.

A forma de resolução é bastante típica do detective, e até recorre aos seus Baker Street Irregulars, a rede de miúdos vagabundos que tem Londres inteira debaixo de olho, de uma forma praticamente invisível. A estrutura do livro é a mesma da de A Study in Scarlet: depois de apanhado o criminoso, dá-se-lhe oportunidade para se alongar a contar a sua história, num não tão pequeno quando isso desvio do policial que se estava a ler antes.

Enfim, já perceberam a minha opinião. Sinceramente, esperava mais. Não sei o que se passou, eu lembro-me perfeitamente de gostar desta história! Mas pronto, mesmo assim, não achei nada má, e foi uma boa leitura, de qualquer forma.

sábado, 7 de março de 2015

Mais fácil do que uma crónica [4]



Vamos falar de novidades? Há coisas muito interessantes a acontecer um bocadinho por todo o lado (nem consigo falar de todas), e desta vez venho um bocadinho mais focado em filmes e séries.

No entanto, deixem-me começar pelas novidades aqui do cantinho. A tão prometida mudança de visual está demorada, e ainda é capaz de demorar um bocado, mas eu juro que me estou a esforçar para arranjar tempo! Também tenho mais algumas coisas planeadas, principalmente para aumentar a visibilidade do blog, mas tem que ser tudo com calma e paciência.

O que teve sucesso foram os meus pedidos desesperados por mais comentários, que andam em alta, alguns até por mail, e sempre muito interessantes. As minhas tentativas de socialização entre blogs também andam a ter resultados agradáveis, mas ainda é cedo e está-se a revelar mais complicado do que eu esperava.

Mas nada impede de já ter respondido ao desafio proposto pela minha namorada e ao (muito) estranho desafio proposto pela Alexandra Rolo. Espreitem que vale bem a pena!

No campo dos filmes, há algumas novidades importantes. De um lado tenho o Russel T. Davies a dizer que teria todo o interesse em escrever o argumento para um filme de Doctor Who, o que já me deixa excitadíssimo. Davies não só foi o responsável pelo regresso da série, quase vinte anos depois de ter sido cancelada, como esteve ao leme do programa durante umas fantásticas quatro séries que em muito contribuíram para a actual popularidade e qualidade de Doctor Who. Que o homem não se fique pela vontade!

Outra notícia que também me surpreendeu e que passou por todas as fases desde "estranhar" até "entranhar", foi a do novo filme sobre Sherlock Holmes, Mr. Holmes, com Ian McKellen no principal papel. A minha primeira reacção foi obviamente "deixem-no sossegado!", depois vi quem era o actor e "tão velho? mas o tipo é fantástico, por favor não me estraguem isto, deviam era ter ficado quietos, isto pode só pode dar asneira", e finalmente li a premissa e fiquei extremamente interessado.

Baseado em A Slight Trick of the Mind, de Mitch Cullin, o filme promete mostrar um Holmes envelhecido, já reformado, satisfeito a cuidar das suas abelhas, e a combater a velhice. O grande detective, em fim de vida, com problemas de memória? Se explorarem bem a angústia e a forma como o carácter frio e quase mecânico dele evoluiu durante os muitos anos que separam as suas histórias e a sua reforma, ainda por cima com Ian McKellen a fazer de Holmes... Vai ser um filme para me encher as medidas!

Por outro lado, esta era uma notícia de que eu já estava à espera. Era inevitável que a Marvel voltasse a ter alguns direitos sobre o Homem-Aranha, tendo em conta o sucesso dantesco dos seus filmes e a falta de sucesso dos filmes que a Sony fez com a personagem. Mas não deixa de ser interessante! Diria até que isto abre muitas possibilidades, e cada vez fico mais interessado na nova fase da Marvel, com as suas notícias de Black Panther, Ms. Marvel, Civil War, Ragnarok, Inhumans (que já estão a ser introduzidos na série Agents of S.H.I.E.L.D.!), Benedic Cumberbatch como Doctor Strange... Venham daí esses filmes!

Tirando filmes, estou a acompanhar várias séries, e uma em particular deixou-me muito viciado, muito rapidamente. Orphan Black. Clones atrás de clones, plot twist atrás de plot twist, momentos fantásticos atrás de momentos fantásticos... Uma autêntica montanha-russa que vale a pena acompanhar de perto. Podem ver o trailer da terceira temporada (estreia a 18 de Abril) ali em cima.

Para terminar, deixem-me só fazer um bocadinho de publicidade. É que uma das minhas colegas da Oficina de Escrita reuniu coragem para aprender a lidar com o Smashwords, publicou três contos e tornou-se oficialmente numa autora do Goodreads. É a Elsa Leal, também conhecida como Elsa "sou incapaz de escrever pouco" Leal. Leiam os contos que ela disponibiliza gratuitamente, que vale a pena!

Pelo caminho visitem também o Joel G. Gomes, também ele membro da Oficina, e também ele escritor de coisas muito interessantes, como podem ver aqui e também aqui. Além disso já o entrevistei. Acompanhem, leiam e comprem-lhe os livros, que vale a pena, também. Eu tenho ambos, assinados!

E para terminar em beleza, passem pelo meu perfil e gozem com a minha foto. Se ainda sobrar paciência, espreitem o meu conto na Antologia Fénix III. E mantenham-se atentos, que não há-de falar muito tempo para aparecer mais qualquer coisa!

Por hoje em tudo, espero que se sintam curiosos em relação a tudo o que vos mostrei. Daqui a uns tempos há mais.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Vingadores vs X-Men #2: E então restou um (Universo Marvel #20)


Argumento: Matt Fraction, Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker
Arte: Olivier Coipel, Mark Morales, Laura Martin, Adam Kubert, John Dell, Larry Molinar, Justin Ponsor
Tradução: Paulo Moreira, Filipe Faria


Opinião: Tal como eu me lembrava, esta segunda parte é um bocadinho pior do que a primeira em muita coisa, principalmente por causa das tretas místicas. Não tenho muita paciência para a magia no universo Marvel, de tão mal explicadinha que é. O Dr. Strange é dos poucos heróis envolvidos nisso que suporto, porque ainda faz algum sentido, mas tirando isso...

E foi exactamente isso que apareceu nesta segunda parte. Até conseguiram obrigar o Iron Man a render-se à magia, como último recurso para derrotar a Fénix. Enfim.

Mas é nesta parte que há uma melhor evolução das personagens. O Iron Man sente-se mais culpado do que nunca, depois da sua tentativa de derrotar a Fénix ter resultado em fazer ainda pior, ao dividi-la por cinco mutantes que agora controlam, basicamente, o mundo. Esse sentimento é reforçado pela sua incapacidade em chegar a uma solução para resolver o assunto.

A forma como os cinco mutantes possuídos pela Fénix (Ciclope, Colossus, Namor, Emma Frost e Magik) evolui, caíndo cada vez mais rapidamente numa espécie de loucura e de alienamento de tudo o que os rodeia, também é muito interessante. São praticamente deuses, podem fazer o que muito bem lhes apetecer e modelar o mundo às suas vontades, portanto o que fazer mais? E como lidar com os Vingadores, agora pouco mais do que formigas para eles, que cada vez oferecem mais resistência?

Tudo piora quando estes cinco mutantes se começam a virar uns contra os outros, e as coisas descambam da pior forma possível. O final é interessante, e relativamente provocador. Deixa claramente em aberto o que vai acontecer a seguir, de tal forma este evento mudou a dinâmica das relações no universo Marvel, principalmente entre os X-Men e os Vingadores, e isso é bem visível nas histórias que se seguem (já li alguma coisa).

No geral, no entanto, este Vingadores vs X-Men fica um pouco aquém daquilo que eu esperava, por muito que a leitura me tenha entretido. Mas é também uma boa forma de terminar esta colecção, que me deixou com vontade de comprar as colecções anteriores a esta!

quinta-feira, 5 de março de 2015

Resposta a "Estantes Emprestadas [14]"


Depois de escrever a crónica mais estranha de sempre, por causa do desafio mais estranho de sempre da Alexandra, ela respondeu-me! E de forma cobarde!

Espero que estejas a ler, para saberes que não escolheste nenhuma personagem, foste apenas perfeitamente genérica!

Mas por outro lado, ela a Alexandra também pensou bem. Nada mais fácil do que uma carne picada, e é importante ter em atenção os vários constrangimentos, que há muitas, mas mesmo muitas personagens, que são certamente intragáveis e pouco saudáveis...

quarta-feira, 4 de março de 2015

Vingadores vs X-Men #1: O Dia da Fénix (Universo Marvel #19)


Argumento: Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman, Matt Fraction
Arte: John Romita Jr., Scott Hanna, Laura Martin, Olivier Coipel, Mark Morales
Tradução: Paulo Furtado, Paulo Moreira


Opinião: Já tinha lido esta história em inglês, e ficado fã. O plantel de argumentistas e de artistas é honestamente impressionante e mais do que razão suficiente para alguém se sentir minimamente curioso relativamente a este Vingadores vs X-Men. Ainda por cima com uma premissa com tanto potencial como ter as duas maiores equipas de super-heróis da Marvel a lutarem uma contra a outra, por causa da entidade cósmica conhecida como Fénix que já deu tantos problemas a tanta gente.

O início é exactamente esse. A Fénix vem aí. Os X-Men sabem-no e os Vingadores descobrem-no rapidamente, e não demora muito até estarem frente a frente, numa situação muito tensa que culmina no início das hostilidades entre o Capitão América e o Ciclope.

E o problema do livro começa aqui. Eu compreendo que é algo massivo que está aqui a acontecer, mas tudo se tinha resolvido se as personagens tivessem conversado como adultos para tentar resolver as coisas, em vez de se armarem em macho men e desatarem logo à porra. Além de que o papel da Fénix, como eu já tinha dito antes, é estranhamente acessório e secundário, para algo tão importante no Universo Marvel, especialmente quando se fala de mutantes.

Mas nada disto estraga as excelentes cenas de pancadaria, sem grandes rodeios. Claro que cai sempre naquela lógica estúpida de "vamos atacar, mas um de cada vez e contra alguém capaz de aguentar connosco" em vez de atirarem o Magneto para estraçalhar o Wolverine, ou algo parecido. Já o disse na opinião anterior e continuo a dizê-lo!

A arte, essa, oscila entre o bom e o mediano, portanto não me chateou muito. Sempre que a Fénix aparece, fizeram disso algo grandioso e espectacular, o que é bom, mas de vez em quando há uns momentos mais fracos que deixam muito a desejar.

Toda a evolução do enredo é feita a um bom ritmo, e este livro termina num ponto crucial, com o Ciclope, já depois de semi-possuído pela Fénix, a dizer "Chega de Vingadores.", ecoando o "No more mutants." da Scarlet Witch, no final do evento "Dinastia M". É um bom final e um óptimo ponto para parar e esperar pela leitura do livro seguinte. Se bem me lembro, há algumas coisas que pioram, com a introdução de umas balelas místicas e tal, mas vai continuar a ser interessante, isso sem dúvida!