sexta-feira, 13 de setembro de 2013

The Stand

Título: The Stand
Autor: Stephen King

Sinopse: First come the days of the plague. Then come the dreams.
Dreams that warn of the coming of the dark man. The apostate of death, his worn-down boot heels tramping in the night roads. The warlord of the charnel house and Prince of Evil.
His time is at hand. His empire grows in the west and the Apocalypse looms.

Opinião: O início deste grande (literalmente, com as suas 1325 páginas) livro é típico de Stephen King, especialmente no que toca aos seus calhamaços: um primeiro capítulo pequenito que despoleta a acção, e centenas de páginas de uma história contada de forma lenta e detalhada.

Ok, tecnicamente falando ainda só lhe li mais um verdadeiro calhamaço, mas já li tantos livros seus e tanta coisa sobre ele, que sinto-me no direito de fazer esta generalização, não apressada, mas vá, medianamente fundamentada.

É uma fórmula que acho que funciona bem. Temos as primeiras páginas a abrir o apetite e a despertar-nos a curiosidade, e depois temos Stephen King a contar-nos uma história sentado na sua cadeira mais confortável: uma cadeira feita de detalhes pessoais de dezenas de personagens, e de uma história, ou histórias, de ritmo lento, mas invariavelmente cativantes.

Muita gente queixa-se desse aspecto dos seus livros. Que demora muito tempo a acontecer alguma coisa, e que ninguém quer saber tantos detalhes sobre tantas personagens, e que isso é completamente irrelevante para a história e bla bla bla.

Não penso dessa forma. Podiam ter razão de queixa se King fizesse isso tudo de forma aborrecida e o resultado fossem 500 páginas a encher chouriços, mas não... O que este escritor faz é envolver-nos completamente na história através desses detalhes, é tornar tudo mais realista e mais próximo.

Ao acompanharmos um número elevado de personagens de forma tão vívida, mesmo que não nos liguemos a nenhuma em particular (e acabamos por ligar, o homem faz isto mesmo bem), temos pelo menos uma visão mais abrangente do mundo partilhado por essas mesmas personagens. Não ficamos com uma visão unilateral dos acontecimentos, e isso é muito importante para nos envolver na história.

Mas isso é conversa para desenvolver noutra altura. Por agora vou tentar restringir-me ao livro em si. Os primeiros capítulos, como já disse, são interessantes. Diria até impressionantes. A estrutura usada é ter pessoas a morrer praticamente em todos os capítulos, com a doença a espalhar-se em pano de fundo de forma lenta, mas visível para nós, que estamos de fora; e depois aparece um capítulo a descrever como é que a infecção se propagou.

É uma abordagem interessante e bastante forte, que nos atira para a história com uma grande violência, ainda que o faça de forma lenta, e aparentemente dissimulada.

Por outras palavras, aquilo que de longe pode parecer palha pura e simples, acaba por estar bem encadeado na história e raramente aborrece. Mais que não seja porque volta e meia é a partir dessas informações "excessivas" que o autor lança pormenores com bastante relevância para a história e para as reacções das personagens.

Personagens essas que vai lá vai... Há com cada uma tão porreira que até dói. O dark man é de longe a mais intrigante: surge claramente como vilão, sem se perceber muito bem se aproveita a praga para fazer porcaria, ou se foi ele próprio o seu causador. Isso depois é clarificado, mas não durante o seu primeiro capítulo, que é tremendo.

E até tenho pena de falar tão pouco do trashcan man, um tipo completamente maluco, piromaníaco, que desde que aparece até ao fim do livro, só faz bodega. É o caos encarnado, de certeza. A sua mentalidade está bem construída, e os capítulos do seu ponto de vista foram de longe dos mais interessantes, graças à sua mente, digamos, peculiar.

De resto tenho que destacar ainda o Harold, uma personagem excepcional, um lobo rafeiro escondido entre os cordeirinhos; e ainda um par de personagens, que vale realmente a pena pela relação que estabelecem, Nick e Tom. Nick é um surdo-mudo e Tom uma criança no corpo de um homem a tender para o gigante. Sem outra forma de comunicarem que não seja por gestos, os momentos em que apareceram foram também dos pontos altos do livro.

Não posso é deixar de comparar este livro ao Cell, do mesmo autor. Enquanto que esse foi um apocalipse a mil à hora, este foi um apocalipse à velocidade de um caracol. E digo que gostei mais deste, em parte por causa de algo que já estou farto de dizer em várias opiniões sobre os livros de King: os seus livros são melhores quando são gigantes.

Para terminar falta-me dizer algumas palavras sobre o fim do The Stand. Não é que não tenha sido satisfatório, porque foi, a modos que atou todas as pontas soltas, foi convenientemente semi-épico, e relativamente feliz... Para toda a gente.

Mas faltou-lhe ali qualquer coisa. Talvez tenha sido a forma um bocado fácil como tudo termina, não sei bem. A verdade é que muito ainda se podia dizer sobre isto livro, e mais vale ficar por aqui. Foi um livro muito bom e que me deixou com vontade de pegar em mais coisas de King nas proximidades.

4 comentários:

N. Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
N. Martins disse...

Gosto muito de Stephen King e não podia concordar mais com as tuas generalizações. Começam devagar, sem cansar, de repente King sofre um ataque qualquer e tudo se desenvolve muito rápido e, acaba... Acho que ele tem sérias dificuldades em acabar as suas histórias, mas não é por isso que deixo de o ler. Gosto e pronto! :) Este nunca li, mas há-de vir ter comigo um dia destes.
Boas leituras.

Rui Bastos disse...

Obrigado! Concordo no que dizes sobre os finais dele, ele não deve gostar de os escrever, acho que por ele continuava a escrever e a escrever... Mas até faz bons finais :)

E este livro está mais do que aconselhado, especialmente se és fã!

Anónimo disse...

Oi!
Estava procurando umas informações para refrescar a memória sobre este livro a fim de escrever um texto sobre a minissérie nele baseada e encontrei seu texto. Muito bem escrito! Penso que o Lata de Lixo (como foi traduzido aqui no Brasil)é dos personagens mais fascinantes na história, junto com Tom e Nick. Outra coisa, concordo com você sobre a forma como a história termina,um tanto insatisfatória, mas essa é uma característica que já notei em muitas histórias dele.
Recomendo fortemente, já que como eu você aprecia os calhamaços, pelas mesmas razões, a série a Torre Negra. Gostei do seu blog, vou acompanhar.
Abraços cá do Brasil.