segunda-feira, 21 de julho de 2014

The Truth of Fact, the Truth of Feeling


Autor: Ted Chiang


Opinião: Se há autor que me tem fascinado é Ted Chiang. Aquilo que leio sobre ele, as opiniões e as críticas, são invariavelmente positivas e curiosas.

Chiang é apontado como inovador, excelente e com uma imaginação fora do vulgar. Já lhe li o Division by Zero e partilho dessas opiniões, embora não de forma tão entusiástica.

Aquilo que eu acho é que este autor é refrescante. Diferente. Tem coragem no que escreve, como escreve e como publica e divulga a sua obra. Atreve-se a fugir à formatação que atinge a maioria dos autores hoje em dia e faz algo diferente, acabando inevitavelmente por chamar a atenção.

E se o conto sobre matemática não me convenceu inteiramente, este faz-me levantar a bandeirinha branca e gritar por rendição. Ganhaste caro Chiang, ganhaste. És um mestre, um futuro autor de clássicos que ficará para sempre gravado na História da Literatura.

Sim, será um autor olhado de lado pelos "cultos" e pelos "críticos profissionais", mas esses que se vão lixar. São poucas as pessoas capazes de escrever uma narrativa bipartida, com duas histórias tão diferentes, tanto em época como em setting, mas tão iguais na mensagem que passam.

Chiang conta a história de um jornalista que escreve um artigo sobre uma nova tecnologia, ao mesmo tempo que, em paralelo, conta a história de um indígena que aprende a escrever e descobre uma nova tecnologia.

No final, ambos aprendem alguma coisa sobre eles próprios e o significado da verdade. O interessante é que o paralelismo culmina em conclusões diferentes, pólos opostos da mesma mensagem. E tudo isto feito com uma boa escrita, clara, directa, pessoal, em tom de conversação íntima.

O jornalista vive numa época avançada, em que a memória orgânica está em vias de ser substituída pela memória digital: todas as pessoas conseguem gravar continuamente tudo o que vêm, através de um aparelho implantado na retina, e surge eventualmente um software com um algoritmo capaz de pesquisar os milhares e milhares de horas de gravação e encontrar um pedaço específico, sem que a pessoa tenha propriamente de pedir por isso.

Sempre que alguém disser "lembras-te disto?", o software lá vai em busca e apresenta o vídeo relevante, numa questão de segundos. Uma excelente ideia, mas com possíveis problemas, que Ted Chiang expõe e explica.

Já o indígena vive num passado em que a sua tribo entra em contacto com europeus pela primeira vez, que além de fazer a sua aldeia pagar impostos, obriga a tribo a mudar alguns costumes e destaca um missionário para pregar a palavra de Deus e dar alguns ensinamentos a quem estiver disposto a ouvir. O protagonista, fascinado por histórias, aprende a ler e a escrever e eventualmente torna-se o escriba da tribo.

É no confronto entre pessoas e tecnologia - seja o jornalista com o novo software ou o indígena com a escrita/leitura - que a mensagem do conto se faz passar. Ambas as histórias mostram que a verdade é algo complicado, mais subjectivo do que possamos pensar, e que as nossas memórias não são propriamente de confiança, o que é bom e mau ao mesmo tempo.

O final que o autor dá ao conto é bom, para ambas as narrativas, e deixou-me certamente satisfeito. Desafio-vos a lerem!

2 comentários:

Anónimo disse...

Feira do Livro em Cascais malta.

Grandes alfarrabistas!

Grandes pechinchas!

Consegui finalmente o "Rei do Inverno" da Planeta Editora (Pelo preço de 2! euros).

Existem também livros do Huxley e Verne bem antigos a 2 euros...

2 euros... que crime...
A Saída de Emergência tem livros a 5 euros...

A meu ver, existem mais pechinchas aqui em Cascais do que na Feira do Livro de Lisboa.

Atenção!
Abraço

Rui Bastos disse...

Tu não me digas essas coisas, que eu vou à falência... Felizmente isso fica-me fora de mão e já não devo ter tempo de lá ir antes de ir de férias! Mas aproveita bem esses alfarrabistas!