domingo, 26 de dezembro de 2010

Constantino, guardador de vacas e de sonhos



Uma leitura leve e animada, foi o que me trouxe Alves Redol. Não há muito que opinar acerca desta obra, sublinho que este clássico da literatura infantil (ou não) portuguesa me deixou com um sorriso na cara ao virar de cada página.


Constantino é um menino de doze anos, pequeno e franzino. A mãe e a avó acham-no bastante esperto, mas escola é que não é lá com ele - a pesca e a caça de pássaros preenchem mais os seus interesses. Enquanto guarda vacas, Constantino voa com a imaginação, sonhando tornar-se serralheiro de navios e construir um barco que o leve até Lisboa. De facto, vai começar já amanhã.


Um livro sobre as coisas simples da vida. A obra perfeita para ler numa tarde de primavera ao pé do campo. Curiosamente, a inocência de Constantino lembrou-me bastante Alice no País das Maravilhas.


My revolutions


Por vezes quando vivemos um dilema, um livro ajuda-nos a resolvê-lo. A mim isso acontece-me frequentemente. Histórias que apanho ao acaso revelam-se verdadeiros conselheiros e clarificadores de ideias. My revolutions de Hari Kunzru é disso caso.

A história foca-se na vida de Michael Frame, cuja mulher está a organizar uma festa para celebrar os 50 anos do marido. No entanto Michael não vai completar 50 anos e o seu verdadeiro nome é Chris Carver, um ex-revolucionário envolvido em atentados ditos terroristas e uma das figuras mais procuradas pela polícia no Reino Unido desde os anos 60.


Vivendo uma vida dupla de modo a esconder a sua verdadeira identidade, Chris vê a sua paz violada pelas recordações da mulher que realmente amou na sua vida: Anna Addison, que morreu de forma trágica em meados dos anos 60.


O henredo está formulado na perfeição, fazendo-nos balançar no tempo entre o presente e o passado de Chris, num romance histórico da era contemporânea. A história tocou-me de tal modo, que serviu de inspiração para um dos meus projectos na escola.


Espero que o romance esteja disponivel em português o mais brevemente possível, à semelhança de outras obras do autor bastante aplaudidadas em terras lusas como O Impressionista.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Boas festas!


E como não podia deixar de ser, chegam o Natal e o Ano Novo, e desaparecem os bloggers. Bem, pelo menos os deste blog em particular...

Divirtam-se, leiam muito e essas coisas todas.

Em nome do Que a Estante nos Caia em Cima, fica um desejo de boas festas e... até para o ano!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Esclarecimentos

Não sou o tipo de pessoa que goste de se justificar a pessoas que não têm a decência de pelo menos dar um nome, mesmo que seja um qualquer nickname completamente impronunciável. Acho que o mínimo, quando se critica, seja bem ou mal, é "dar a cara". Falo por experiência própria, eu que sou alguém que adora criticar, nunca me escondo atrás seja do que for. Com a Arisu passa-se a mesma coisa.

Como tal, acho que merecemos, pelo menos, o mesmo nível de respeito. Há comentários e observações descabidas e impróprias, sejam anónimas ou não, mas sendo anónimas não passam de bitaites implicativos, do género dos que eu mandava, quando estava na primária.

Ficam, por isso, a partir de hoje e por tempo indefinido, interditos todos os comentários anónimos. Para prevenir as brincadeiras, fica também o aviso que todos os comentários cujos autores assinem como "Anónimo" serão imediatamente apagados, sem qualquer tipo de aviso prévio nem explicação.

Relativamente ao concurso de escrita, já foram pedidas desculpas. Nós compreendemos, e já vos demos razão, procedemos mal. Foi a primeira iniciativa do género que tivemos aqui no blog, e talvez não soubéssemos bem onde é que nos estávamos a meter. Devíamos ter regras mais limitadoras quanto a certos aspectos, e devíamos ter programado as coisas para que os 3 membros do júri conseguissem dar conta do trabalho no tempo requerido. Tal não aconteceu por, volto a repetir, erro nosso.

Mas a decisão foi tomada, foi divulgada, e ficamos por aí. A decisão NÃO será mudada, a divulgação da mesma NÃO será impedida (a não ser, é claro, que os nossos parceiros não concordem, mas isso já são outras questões que ultrapassam a equipa deste blog). Sim, aceitamos críticas, mas críticas com pés e cabeça, minimamente educadas, mantendo o respeito para connosco, que escrevemos, para o vencedor do concurso, para os outros participantes, e para todos os intervenientes da conversa.

Espero ter deixado tudo suficientemente bem esclarecido e que, a partir de agora, se mantenha minimamente o nível de respeito e boa-educação.

Um muito obrigado pela atenção, boas conversas e boas leituras.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Seita dos Números - O teorema de Pitágoras

Deixem-me já dizer que um dos grandes mistérios para mim, antes de começar a ler o livro, foi o conjunto título/subtítulo deste livro. O que raio é que "O teorema de Pitágoras" tinha a ver com "A Seita dos Números"?

Pois bem, só vos tenho a dizer que tem. E muito. Afinal, a escola pitagórica, fundada por, adivinhem, Pitágoras, era não só uma escola, mas uma autêntica seita religiosa que tinha os números como divindades.

Como já devem ter percebido, também este livro tem uma forte componente de contextualização histórica, tal como os outros da mesma colecção, mostrando como os livros sobre matemática não têm obrigatoriamente que ser coisas horríveis cheias de fórmulas incompreensíveis.

É claro que também as tem. Lá mais para o fim do livro aparecem coisas mais chatinhas, mas nada de muito extraordinário...

E bem, fala muito do antes e do depois da fórmula, como é que se fazia antes dela, quando é que apareceu exactamente, e o que é que depois se desenvolveu com ela. É interessante ver a quantidade de campos que a matemática abrange e, neste caso, a quantidade de campos que uma simples fórmula consegue afectar. Da matemática pura à arquitectura, assim como a arte e aplicações mais quotidianas, e até mesmo, vejam só, os formatos das folhas de papel!

Eu pessoalmente, cada vez mais me fascino com todo este mundo matemático, e me pergunto como é que é possível haver pessoas que se desligam da matemática, ou que a odeiam e não a querem ver à frente. A sério. É impossível!

A escrita, como a dos outros livros, é simples, sem grandes artifícios literários, clara, e deixa transparecer a verdadeira paixão que o autor tem à matemática, e a este teorema em particular. Aconselho, portanto, este livro, na esperança que mais pessoas se deixem contagiar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Vencedor do Concurso de Escrita!

Finalmente, depois de uns três meses de bastante stress e falta de tempo para as coisas que realmente importam - como a leitura dos contos na sua íntegra e consequente atraso desta mesma situação - eu Arisu, peço as maiores desculpas aos nossos leitores e principalmente aos participantes e agradeço a paciência que têm tido.

Não me querendo alargar mais (até porque já me alarguei bastante ao longo deste mês de Dezembro), tenho o maior prazer de anunciar que o vencedor do Concurso de Escrita do Que a Estante nos Caia em Cima foi O Carrossel de João Rogaciano.


  • Todos os contos foram avaliados numa escala de 0-20 por cada membro do júri (constituído por mim, pelo Rui e pela M. que tão amavelmente cedeu a sua opinião), e o conto com a pontuação mais alta foi nomeado vencedor.
  • Como critérios de avaliação tivemos em conta principalmente a criatividade da história, a ortografia e o respeito pelo número de palavras.
  • O conto de João Rogaciano será publicado n'O Que a Estante nos Caia em Cima bem como em vários outros blogs literários influentes. Desde já, os nossos agradecimentos.

Posto isto, muitos parabéns ao vencedor, gostámos bastante da experiência e esperamos voltar a repetir. Devo acrescentar ainda que na sua maioria os contos eram muito bons e temos pena, inclusivamente de não os podermos publicar também.

Ghost Rider - Corrida Infernal

Ora cá está algo que eu não leio assim muita vez: banda-desenhada. Não é que não goste, porque gosto, mas sim porque é mais difícil arranjar BD de qualidade.

Por sorte, de vez em quando lá desencanto umas coisas, como este, caridosamente emprestado pelo jaimacan scary guy. Só tenho a agradecer, uma vez que apesar do argumento ser meramente mediano, e dos diálogos (provavelmente graças à tradução) serem maus, a parte gráfica é fabulosa.

A história é obra de Garth Ennis, mas aquilo que realmente me agradou é obra de Clayton Crain, jovem artista que já desenhou várias mini-séries, fez várias capas para a Marvel, e que tem vários outros projectos em curso. Se duvidam da qualidade, olhem para a capa. Não é nada de extraordinariamente original, mas está MUITO bem feita.

É claro que a personagem teve um grande peso na minha avaliação deste livro. Tal como muitos outros super-heróis (sejam da Marvel, da DC, ou lá o que seja), Ghost Rider é uma daquelas personagens que me fascinam, pura e simplesmente por alguém as ter criado. Neste caso, fico feliz só com a capa.

Quer dizer, o ponto forte da maior parte da BD é o aspecto, as imagens, e há poucas personagens tão visualmente espectaculares como Ghost Rider. Tem uma caveira em chamas, e tem uma moto em chamas. É imune ao fogo, chegando mesmo a expeli-lo, assim como correntes, pela boca. O que é que se poder pedir mais?

Fica a vontade renascida de procurar mais livros de banda-desenhada.

As Investigações de Poirot

Pela milésima vez, lá voltei a repousar a mente num livro da rainha do suspense, desta vez um livro de contos, todos eles com Poirot como personagem principal, como não podia deixar de ser.

Também presente, temos Hastings, o narrador e o fiel companheiro de Poirot, que começo a reparar ser um Watson (companheiro do Sherlock Holmes) mas muito mais revoltado e muito menos sagaz. Talvez, em parte, por causa do gozo tremendo que o pequeno detective belga tem quando faz pouco dele.

Voltei a ter a sensação, nalguns dos contos, que Poirot sabe tudo desde o início, e vai revelando as informações aos poucos. Os seus métodos são absolutamente geniais, o que muitas vezes irrita o pobre Hastings, que quando pensa que o seu amigo vai falhar, revelando que não é assim tão inteligente, vê Poirot a dar a volta a situação das maneiras mais inimagináveis possíveis, provando que é assim tão inteligente.

A escrita sempre fluida de Agatha Christie permite que a leitura seja rápida, sem grandes demoras, ao mesmo tempo que se apanham todos os pormenores. A inteligência desta escritora devia ser qualquer de espectacular. Conseguir escrever histórias que muitas vezes têm enredos com montes de reviravoltas, que precisam de ser planeadas ao pormenor mesmo antes de se começar a escrever, com esta clareza e este ar natural e fluido... É obra.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Novas Crónicas da Boca do Inferno

O livro não passa de um conjunto de crónicas do Ricardo Araújo Pereira, nenhuma delas inédita (acho eu), retiradas da revista Visão. Não têm propriamente um fio condutor, a não ser a crítica, o que me fez, muitas vezes, andar a saltar de assunto em assunto, sem qualquer tipo de lógica. Ah, e acho que o livro só beneficiava se tivesse as datas de cada crónica.

Agora, será que me importei com isto? Muito pouco. Todas as crónicas são excepcionais, e alguma delas são mesmo absolutamente geniais!

O livro tem crónicas a malhar no primeiro-ministro e no governo em geral, crónicas a malhar na oposição, crónicas a malhar na gripe A, crónicas a malhar em quem malha... O que interessa mesmo, como já se deve ter percebido, é que são a malhar.

São poucos os que não conhecem este indivíduo de quase dois metros (e já está na altura de voltarem do fim-do-mundo), e quem o conhece, se ler este livro, não vai ter dúvidas que são textos dele. Se não me dissessem o autor, eu adivinhava, sem dificuldade. E aposto que praticamente qualquer pessoa faria o mesmo.

Ricardo Araújo Pereira domina completamente a língua portuguesa, como qualquer humorista que se preze (e provavelmente melhor que a maior parte), o que lhe permite entrar em toda uma série de brincadeiras e trocadilhos capazes de fazer sorrir qualquer um.

Mas o mais importante destas crónicas nem é o humor em si. É a capacidade que o autor tem para criticar. Eu gostava de conseguir fazê-lo como ele. Sem cair no ridículo, ou no insulto e muito menos em lugares-comuns, consegue dizer mal de tudo, com uma ironia tão requintada que chega a ser maléfica.

Fez-me lembrar Eça Queirós, se querem saber. Eu sei, é rebuscado, mas tem lá tudo: a acertada crítica social, a ironia, o gosto pelos diminutivos... E além disso, ainda demonstra uma das qualidades mais importantes de um bom humorista, o auto-gozo. São várias as crónicas em que goza consigo mesmo, de forma mais ou menos indirecta.

Destaco ainda a edição. É o primeiro livro que compro desta editora, a Tinta da China, e devo dizer que estou agradado. Acho que todas as capas de todos os livros deviam ter esta textura! E, é claro, as ilustrações de João Fazenda "encaixam" perfeitamente.

Falta dizer o que quanto me ri: MUITO!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Casino Royale

Primeira coisa que me vem à cabeça: ligeiro desapontamento. Digamos que cheguei à conclusão que gosto mais de ver os filmes (caso raro!). No entanto, dou o benefício da dúvida ao autor. É que eu gostei do livro... Só "estranhei" um bocado.

Toda a gente conhece o James Bond, o famoso 007. Acho que é praticamente impossível arranjar uma pessoa que nunca tenha visto um filme do 007. E ler o livro... Bem, é diferente. Repito, eu gostei do livro. Adorei mesmo algumas partes e alguns pormenores.

Mas e convencer-me que é o filme que não está fiel ao livro, e não o contrário? UI! Ora aí está algo complicado. Durante muito tempo achei que os filmes do 007 eram apenas isso, filmes. Não fazia a mínima ideia que eram baseados em livros, coisa que descobri há cerca de 2 ou 3 anos. E agora que li um deles tenho uma ideia muito diferente desta personagem.

James Bond não é apenas um engatatão com muita ginástica e sangue-frio, alguma sorte e uma coisinha por gadgets. Também tem um bocado de tudo isso, como é óbvio, mas no livro vê-se que ele é, acima de tudo, uma autêntica máquina. Nunca duvidei que fosse um homem inteligente, mas também nunca suspeitei que fosse assim tão inteligente, e que tivesse uma tão forte capacidade mental. Bond é um homem dotado com uma lógica natural e um raciocínio matemático impressionantes.

Como personagem, surpreendeu-me, pela positiva, e vou ver os filmes com os outros olhos, sem dúvida. Já Vesper, a bond girl deste livro/filme não me agradou assim tanto. Gostei muito mais de a ver no filme. Aqui pareceu-me demasiado sensaborona. Como se costuma dizer, uma personagem demasiado bidimensional. Até Mathis, uma personagem muito "mais secundária" que Vesper, me pareceu ter mais profundidade, mais cuidado na caracterização.

Quanto à história, nada a apontar. Tem menos acção que o filme, e até dói ver as partes em que diverge da sua adaptação cinematográfica... Mas tirando isso, nada de especial. A parte da tortura... Bem, arrepiante. Já li pior, mas não estava à espera de algo assim. Até estava, afinal, já vi o filme, mas não esperava descrições tão arrepiantes.

O livro é pequeno, tem capítulos curtos, e lê-se num instante, com alguns momentos verdadeiramente emocionantes. Só não é bem a mesma coisa que o filme, mas acho que vou deixar a conclusão definitiva sobre qual é melhor para depois de ler mais alguns.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Os Números Primos - Um longo caminho para o infinito

Alguns podem pensar que é tortura, ter que levar com matemática, química e física (todas envolvem muitas contas e muitos números), e ainda ler sobre matemática, mas para mim é algo natural. Eu que não gostava nada de matemática, tive que aceitar que ela faz parte da minha vida como estudante, e que há-de fazer para o resto da minha vida, estando eu na área em que estou, e tendo as ambições que tenho. Comecei a prestar-lhe mais atenção, a gostar, e descobri-lhe a beleza.

"Beleza?!", exclamaram, de certeza alguns de vocês. Mas acreditem em mim, se há ciência que consegue ser elegante, bela, prática e espectacular, é a matemática.

Os livros desta colecção, "O Mundo é Matemático", são a prova disso mesmo. Neste "Os Números Primos", o autor (que é provavelmente o que melhor escreve, dos autores desta colecção) fala sobre os números primos, uma autêntica pedra no sapato para os matemáticos por todo o mundo. É preciso executar cálculos para meter um satélite em órbita? Tudo bem. É preciso resolver equações que ocupam uma página A4? Também se arranja. É preciso arranjar uma fórmula que nos permite calcular todos os números primos? Se alguém conseguir, é só dizer, pois já lá vão 3000 anos que os matemáticos e estudiosos andam a tentar.

É claro que isto pode não parecer nada de especial... Afinal, qual é que é a verdadeira importância dos números primos? Bem, para vos dar uma ideia, podem pesquisar sobre matemáticos famosos. Estou capaz de apostar que na biografia de 90% deles aparece uma referência aos números primos. Gauss, Euler, Euclides, Rienman, os irmãos Bernoulli, Eratóstenes, Mersenne, Fermat, Goldbach, Napier e o espantoso Ramanujan, só para mencionar alguns.

Os números primos são de extrema importância. São usados na codificação de mensagens, foi através dos estudos sobre eles que se descobriram importantes propriedades dos números, e que se desenvolveram numerosas ferramentas de cálculo, e ainda ajudaram (e ajudam) a desenvolver computadores cada vez mais potentes.

O autor, Enrique Garcián, fala sobre todos estes assuntos com uma clareza surpreendente, dando uma grande importância à contextualização histórico-social, muito mais relevante do que nos livros precedentes.

Tal como os outros livros desta colecção, aconselho a toda a gente, goste ou não goste de matemática.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Eu sou a Lenda

Ora cá está um autor que sempre me despertou muita curiosidade, embora só lhe conhecesse o livro "Eu sou a Lenda", que era o que eu pensava que vinha neste livro da revista Visão. Mas aquilo que realmente cá vem, é o seguinte: esse livro "Eu sou a Lenda", e mais 3 contos, "Nascido de Homem e Mulher", "Presa" e "Perto da Morte".

Foi, no entanto, sem saber muito bem o que esperar que comecei a ler este livro. Em parte porque já tinha visto partes do filme, e não me tinha agradado por aí além. Tinha ficado com a ideia que era mais um filme de zombies/vampiros, baseado num banal livro de zombies/vampiros. Mas tenho sempre uma enorme desconfiança em relação às adaptações cinematográficas de livros, queria ler o livro, para tirar as dúvidas.

E só tenho a dizer que eu tinha razão em estar desconfiado. Depois de ler o livro, fico agora com medo de ver o filme todo. Primeira coisa: estão a ver o protagonista do filme, o Will Smith? Um afro-americano careca, de caçadeira na mão, sempre na companhia de um cão? Adivinhem lá como é que é o protagonista, no livro... Pois é, loiro, de olhos azuis, sem cão, e que raramente anda com armas nas mãos.

Enfim. Falemos do livro. A história é aquele tipo de história que eu gostava de conseguir dominar com esta mestria. Uma história inteira com apenas um punhado de personagens (1 central, e meia-dúzia que aparem em flashbacks, sonhos, ou já no final do livro), mas uma história que mesmo assim tem pouco momentos realmente monótonos.

É sobre o último homem na Terra, num mundo que foi assolado por uma estranha praga, que transforma as pessoas em vampiros, mas à qual Robert Neville parece ser imune. A escrita directa do autor favorece uma história que raramente aborrece (há alguns momentos mais mortos, mas nada de insuperável), sobre a vida deste homem, que se vê sozinho e rodeado por vampiros, o que o obriga a barricar-se em casa, durante a noite, e a sair à rua durante o dia, num verdadeiro contra-relógio, para chegar a casa antes que anoiteça.

A melhor parte? O final. Ainda que quando se comece a aproximar, tenha um travo ligeiramente sensaborão, a cena final é perfeita. Se eu pudesse ter escolhido o final de antemão, teria sido algo deste género. Adorei mesmo.

Destaque ainda para os 3 contos finais. O primeiro "Nascido de Homem e Mulher", foi aparentemente o primeiro que o autor publicou, e apresenta, numa escrita infantil, um relato na primeira pessoa daquilo que ao começo parece ser uma criança como outra qualquer, mas que com o desenrolar da curta história se revela algo mais.

O segundo, "Presa", é uma história absolutamente deliciosa, ao estilo dos filmes "Chucky" (até me pôs a pensar se não terá havido inspirações aqui pelo meio... seja do filme para o livro, ou do livro para o filme), sobre um boneco assassino. Muito bem escrito.

O terceiro e último, "Perto da Morte", ocupa apenas 2 páginas e um bocadinho de uma terceira, mas foi, sem dúvida, o meu favorito. Completamente banal o tempo todo, até que chega à última linha. Brutal!

Não se preocupem com o filme, que não me parece que tenha muito a ver, daquilo que vi, só mesmo o essencial, "último homem na Terra, rodeado de vampiros/zombies". Resumindo, está aconselhado.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Este País Não é Para Velhos

Já tinha ouvido falar muito (bem) do filme com origem neste livro, e tinha um outro livro do autor na estante dos livros a ler. A oportunidade que surgiu para comprar este livro era demasiado boa para não ser aproveitada, ainda que tenha uma capa horrível (não é tão má quanto isso, mas não acho piada a capas baseados nos filmes) e a qualidade não seja a melhor (mesmo assim é surpreendentemente boa).

A verdade é que no toca a ler, a qualidade, embora seja importante, passa para segundo plano. E quando me embrenhei neste livro, acho que até o podia estar a ler de um monte de folhas de jornal mal coladas umas às outras.

A história é, no mínimo, intensa. Tal como o livro no seu todo. E acho que vai ser difícil encontrar uma personagem que consiga superar Anton Chigurh em termos de intensidade.

É claro que tudo isto se deve à escrita de McCarthy, que, confesso, custa a habituar. O homem tem qualquer coisa contra travessões e vírgulas e frases mais curtas e uma sintaxe mais variada e menos repetições e uma construção frásica mais complexa e que se baseie menos em usar "e" atrás de "e". Mas a repetição constante dos "e", os diálogos que aparecem de repente, e a estrutura por vezes repetitiva até que dão uma certa fluidez à escrita. Falo por mim, que deslizei pelas páginas com uma facilidade tremenda.

O enredo não é complexo, como em 80% dos grandes livros. Um negócio de droga que corre mal, um caçador, Llewlyn Moss, com muita sorte económica, mas muito azar quanto às pessoas que chateia, já que acaba por ter um cartel de droga, a polícia, e um autêntico psicopata implacável, assustadoramente frio e eficaz, com uma mente prodigiosa e uma filosofia de vida extremamente simples, de tão brutal. Estou a falar de Anton Chigurh, claro.

Chigurh é uma personagem que não abre muitas vezes a boca, mas que quando o faz debita autênticos pedaços de uma sabedoria implacável, dotada de uma lógica fria e completamente desligada da realidade, da humanidade. Nunca vi uma personagem tão completamente vazia de humanidade, mas ao mesmo tempo com uma visão tão certeira (e dura) da humanidade. Absolutamente genial.

Os diálogos, todos eles, são autênticas obras-primas. Não emanam aquele sentimento a falso, a arranjado, a perfeitinho, que emanam muitos dos diálogos de outras obras. Os diálogos são assim, na vida real. Incompletos, por vezes sem sentido, com pausas, hesitações, repetições, pouco elaborados... São assim, directos e simples. Quer dizer, alguns dos diálogos no livro não são assim tão directos, e poucos são assim tão simples, mas são provavelmente a melhor aproximação de diálogos reais que já encontrei.

Só algumas partes é que se tornaram algo confusas, quer devido aos saltos narrativos, quer devido às características da escrita do autor. A ausência de travessões fez-se sentir, e de que maneira... Acabei por me habituar, mas há algumas passagens verdadeiramente complicadas de perceber, por causa disso. Mas nada que não seja insuperável.

Um livro genial, ou talvez seja um autor genial, ou talvez ambos. Só sei que adorei o livro, e que este entra directamente para o meu top 10 deste ano, sem a mínima hesitação.

domingo, 28 de novembro de 2010

Géneros Literários (6.3) - Forma e Conteúdo


(continuação)

Ora bem, chegou a altura de falar das minhas ideias e teorias. Acho que já deixei bem claro que classificar o género de um livro, para mim, implica dar duas informações, uma sobre a forma e outra sobre o conteúdo.

Significa isto que, por exemplo, chamar romance histórico a um livro que tenha caracterizações completas para personagens, tempo e espaço, que seja extenso, e que retrate uma sociedade (normalmente) medieval, ou de tempos passados, faz sentido. Já dizer que um dos livros do Sparks é um romance só faz "meio-sentido". Talvez algo como romance de amor, ou qualquer coisa desse género.

Isto levanta alguns problemas. Por exemplo, dizer que o Drácula, de Bram Stoker, é um romance de terror... Bem, apesar de não estar errado, e ser a designação que, para mim, até faria mais sentido... Soa mal.

E existem ainda os casos de mistura de géneros. Um livro raramente é algo linear e perfeitamente delimitado, quanto ao tema. Torna-se, portanto, algo complicado dizer que um livro se insere em tal género. Como é que se contorna isto? Encaixando o livro no género que contenha mais características, ou características mais relevantes, dentro da sua história; ou dizendo que o livro pertence a vários géneros; ou criando um género novo, um subgénero, para o classificar; ou, em casos extremos, designando-o como inclassificável.

Por exemplo, um romance histórico cuja história, além de falar dos elementos históricos, dê alguma importância aos acontecimentos amorosos, continua a ser um romance histórico. Isto porque o importante é mesmo a caracterização dos espaços, da sociedade, de como era a vida noutros tempos, deixando os amores para segundo plano.

Ou então, imagine-se, um romance histórico cujo acontecimento principal seja um crime, ou uma série de crimes, e a resolução dos mesmos. Torna-se um romance histórico-policial. Neste caso já não faz sentido deixar esses outros elementos para segundo plano, uma vez que se assumem como parte essencial da narrativa.

O terceiro caso, a criação de um novo subgénero, começa por vezes a entrar na especificação excessiva. Surgem coisas como steampunk, distopia, high-fantasy, space opera, dark fantasy, entre outros. Alguns têm mais visibilidade que outros, alguns já merecem ser um género independente, outros são apenas demasiado específicos.

Por fim, podem ainda aparecer livros completamente inclassificáveis, de tão estranhos, bizarros, com tantos géneros misturados, ou com características tão pouco definidas, que se torna praticamente impossível fazê-los encaixar seja em que género for. Nesses casos acaba-se por se classificar o livro com o género que pareça menos mal.

E termina assim o meu falatório algo atabalhoado sobre a forma e conteúdo. A verdade é que isto começa a ficar mais complicado, com tanto género e subgénero e sub-subgénero... Espero não me estar a tornar confuso, e que me perdoem a qualidade decrescente desta sexta parte da crónica. Sugestões e/ou correcções, sou todo ouvidos. E prometo preparar os próximos textos com mais cuidado.

Vamos lá ver se me desenrasco.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quando as Rectas se Tornam Curvas

Ora cá está um livro que acredito ser capaz de fazer confusão a muito boa gente. Se a mim, que estou dentro de alguma da matemática que aqui é falada, me fez alguma confusão, imagino para quem não tenha esse contacto com a ciência dos números.

No entanto o livro debate-se com questões que, em certa medida, devem ser tratadas intuitivamente. Começa por falar da geometria, área da matemática que ora se odeia, ora se adora, fazendo uma breve apresentação do livro de Euclides, um sábio da Grécia Antiga, "Os Elementos de Geometria". Este livro (ou melhor, livros, já que são 9) contém as bases para a geometria que usamos no dia.

E é através da negação de um dos postulados de Euclides que nascem as várias geometrias. O postulado em questão diz mais ou menos isto: "sobre um ponto exterior a uma recta, passa apenas uma recta paralela a essa recta". Ou seja, se considerarmos uma recta, e um ponto que não faça parte dessa recta, apenas somos capaz de traçar uma única recta que passe por esse ponto, e que não intersecte a primeira recta. Espero não me estar a tornar confuso.

Bem, as duas geometrias não-euclidianas principais nascem precisamente da negação desse quinto postulado, envolvido em muita polémica ao longo dos séculos, com sucessivas tentativas de demonstrações, e sucessivos falhanços. A primeira é a geometria hiperbólica, que em vez do quinto postulado de Euclides, diz que no tal ponto exterior a uma recta, passam mais do que uma recta paralela a essa recta. Já a elíptica diz que não passa nenhuma.

Embora apareçam, aqui e ali, algumas falhas de escrita/tradução, o livro consegue, com sucesso, apresentar ideias e conceitos relativamente complexos de forma simples, tornando-se acessível a pessoas com poucos conhecimentos matemáticos (com mais ou menos esforço), sem deixar de ser interessante para aqueles com alguns conhecimentos mais avançados.

Foi uma leitura interessante, mais do que interessante. Além de ter descoberto e percebido coisas que nunca ouvira falar, ou que ouvira apenas mencionar muito ao de leve, pude fazê-lo sem ter que recorrer a um professor catedrático ou a um grande esforço mental para perceber o que aqui vinha. Compreendo que para alguém menos habituado a lidar com equações e afins que eu, ou que não goste tanto de matemática, tenha mais alguma dificuldade, mas não acredito que seja algo insuperável. Além de que compensa, pelo interesse do conteúdo. Isso, pelo menos, deixo assegurado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Misterioso Caso de Styles

Não sei é por ter ali uma data deles, com uma encadernação bem apetitosa (nada a ver com o livro da imagem!), ou se é por causa do Poirot, ou se gosto mesmo assim tanto dos livros desta autora, mas a verdade é que não lhes resisto. Quando dou por mim, estou a pegar num.

Não me estou a queixar, atenção. São sempre bons livros, que se lêem depressa, de tão emocionantes. E este em particular, é capaz de ser aquele em que eu mais notei a forma magistral como a autora consegue sempre que o leitor seja gozado.

Porque foi isso que eu fui: gozado. À força toda. Até me senti mal, quando acabei de ler o livro. Chegar ao fim, descobrir quem foi o/a culpado/a, e perceber como tinha sido levado de suspeito em suspeito, acreditando, de cada vez, que aquela personagem é que tinha de ser o assassino, sem NUNCA acertar uma única vez, duvidando desde o início que a culpa pudesse cair em cima e quem caiu...

O enredo em si, como sempre, não tem nada de extraordinariamente intricado, nem nada que se pareça. Tem montes de reviravoltas, algumas previsíveis, outras completamente inesperadas, e praticamente todas com um ponto em comum: Poirot. O pequeno detective belga com cabeça em forma de ovo parece saber sempre tudo o que se passa, tudo o que todos pensam, tudo o que aconteceu, e tudo o que ainda está para acontecer. É fascinante.

A história é contada na primeira pessoa, por Hastings, o companheiro de Poirot, em muitas histórias, que é convidado a passar o seu tempo de licença (acabou de regressar da guerra) em Styles, a casa de um amigo de longa data. O amigo é John Cavendish, uma pessoa não muito dada à imaginação, que é casado com Mary Cavendish, uma mulher orgulhosa, e com uma presença imponente. Já o irmão de John, Lawrence Cavendish, é um pouco mais "apagado". Não podia deixar de mencionar a Mrs. Inglethorp, a velha dona da mansão, casada com Alfred Inglethorp, vários anos mais novo, e de quem ninguém parece gostar. E claro, a metódica e eficiente Miss Howard, que trabalha para Mrs. Inglethorp.

Tudo parece correr relativamente bem, até ao dia em que se dá o crime. Com vários pormenores estranhos envolvidos, Poirot é chamado a ajudar, e usa as suas "celulazinhas cinzentas", expressão que sempre gostei, para descobrir o que é que acontece. A forma como o faz, apesar de ser absolutamente fascinante, não me agrada tanto como a maneira holmesiana, entenda-se, do Sherlock Holmes. Nunca confiei muito na psicologia usada por Poirot, preferindo as provas empíricas e deduções racionais de Sherlock Holmes.

Mas é, sem dúvida, um bom livro, com a escrita maravilhosamente fluida de Agatha Christie, a sua habilidade de brincar com o leitor, e a personagem sempre interessante de Hercule Poirot.

domingo, 21 de novembro de 2010

Géneros Literários (6.2) - Forma e Conteúdo



(continuação)



Portanto, vamos lá tratar de definir as coisas. Aviso já que me vou abster de tratar este assunto relativamente a outra coisa que não o género narrativo. Isto, por duas razões muito simples: 1) não leio o suficiente dos outros géneros para conseguir fazer aquilo a que me proponho, sem errar miseravelmente; 2) como 99% das leituras aqui do blog pertencem ao género narrativo, não me parece particularmente relevante falar dos outros géneros.



Um pequeno aparte. Eu não pretendo, com esta série de crónicas, chegar ao sistema de classificação supremo, ou assumir que as conclusões a que eu vou chegar estão certas, ou que são as mais certas. Como disse no primeiro texto:



"Não tenho pretensões a reescrever toda a história literária, em termos de classificações, nada disso. Apenas uma satisfação pessoal de perceber mais a fundo este grande mundo dos livros, e de tentar definir, de uma vez por todas, a nível pessoal e bloguístico, esta história dos géneros e afins."



Ou seja, aquilo que vou começar a fazer a partir deste post, definições de classificações, não passam de conclusões pessoais da minha forma de classificar. Se alguém as quiser utilizar, força, é sinal que não disse muitos disparates. Se ninguém as quiser utilizar, tudo bem na mesma. São essencialmente para mim, e para o blog.



Com isto já bem esclarecido, avancemos.



Oficialmente, além da forma e do conteúdo, ainda falam em extensão e temática. Em termos de forma (estrutura) de conteúdo e de extensão, os livros do género narrativo classificam-se, segundo a Wikipédia, em: romaces, contos, novelas, poemas épicos, crónicas, fábulas e ensaios. E depois é dito que quanto à temática se podem classificar em policiais, de amor, etc.



Estas definições wikipediescas já vêm, em parte, ao encontro às minhas ideias. Mas aquilo que eu pergunto é: porque não incluir a extensão, quando se fala de estrutura, ou forma? E o conteúdo e a temática, não são praticamente a mesma coisa?



E o próprio artigo da Wikipédia que dá estas definições apresenta incongruências. Por exemplo, define a epopeia, e diz que "é uma narrativa feita em versos, num longo poema que ressalta os feitos de um herói ou as aventuras de um povo.". Mas apresenta, como exemplo, O Senhor dos Anéis, que não está escrito em verso!


Mas pronto, isto pouco me afecta. A Wikipédia é tudo, menos perfeita. Aquilo a que eu estou a tentar chegar, é que preciso de ter cuidado com estas definições e classificações, especialmente tendo em conta que estou a falar de algo com laivos de subjectividade e com alguma imprevisibilidade pelo meio. Afinal, o que é que impede alguém de escrever uma epopeia de ficção científica, centrada numa história de amor, com uma grande intriga policial como pano de fundo?


Acho que já me fiz entender.



(continua)

sábado, 20 de novembro de 2010

Géneros Literários (6.1) - Forma e Conteúdo


E chego finalmente àquele que é talvez o assunto mais importante em toda esta história das classificações. A forma e o conteúdo. Já falei disto em vários posts anteriores, mas chegou a altura de me debruçar a sério sobre este assunto. Vamos por partes.

Porque é que quero falar sobre isto?

Bem, por uma razão muito simples. Praticamente toda a gente conhece Nicholas Sparks e os seus livros. Classifiquem um qualquer. Disseram/pensaram em romance? Não está errado. Mas porque é que disseram romance? Porque tem uma história de amor? Nesse caso estão errados. Os livros do Stephen King também são romances, e histórias de amor não são bem a especialidade dele.

Outro exemplo. 3 livros: Se Acordar Antes de Morrer, O Fantasma de Canterville e outros contos e Os Contos de Beedle o Bardo. Conhecem-nos? São todos livros de contos. Isto diz-vos alguma coisa, em termos de conteúdo? Nem por isso. Ou seja, se eu em vez de ter dito os títulos, tivesse apenas dito que tinha 3 livros de contos, e tirasse um à sorte, podia-me calhar, respectivamente, um livro de ficção científica, um de humor, e outro de fantasia!

Ou seja?

No fundo, aquilo que eu estou a tentar explicar, é que há uma diferença entre o formato da história, e o conteúdo da mesma. Um romance pode ser de ficção-científica, de terror, de fantasia, histórico, de mistério, de tudo e mais alguma coisa, assim como os contos, as novelas e outros tipos de textos.

E qual é essa diferença?

Não é nada de muito complicado... É apenas isto: ao classificar um livro, é preciso classificá-lo quanto ao seu formato, e quanto ao seu conteúdo. Quer disto dizer que um livro pode ser um romance, um conto, uma novela, um ensaio, etc. (dentro do género narrativo); um soneto, um haiku, um vilancete, etc. (dentro do género lírico); um auto, um musical, uma ópera, etc. (dentro do género dramático), mas todos estes textos, quanto ao conteúdo, podem ser de ficção-científica, de fantasia, de terror, de amor, de mistério, e por aí adiante. Embora, na realidade, isto não seja assim tão linear quanto isso, já que uns textos têm mais tendência para umas coisas do que para outras.

De onde vem este "erro"?

Para ser sincero, não faço a mais pálida ideia. Deduzo que se deva, em grande parte, à generalização de alguns termos para nos referirmos a outras coisas, como o romance e a novela, por exemplo, dando-lhes assim conotações que dificilmente associamos a alguns livros. Por exemplo, dizer que "A Metamorfose" (1,2), de Kafka, é uma novela, soa-me muito mal, mas é isso que o livro é, e não tem nada a ver com nenhuma telenovela. Ou até mesmo dizer que os livros do Stephen King são romances... Assim de repente, até me parece blasfémia! Mas é porque eu, como a maior parte das pessoas, associa romance ao amor, e não a um livro extenso, com determinadas características.

(continua)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Relíquia

Demorei mais de 2 semanas a ler este livro, que nem é muito grande, embora se torne um pouco denso, graças à escrita super-trabalhada e refinada de Eça. Acho que demorei menos tempo a ler "Os Maias".

Mas pronto, enfim, já falei deste assunto da falta de tempo e do arranjar tempo para ler umas 2 ou 3 vezes nos últimos tempos, acho que já deu para perceber a ideia.

Passemos então ao livro. A escrita, como já disse, é "super-trabalhada e refinada", como é costume nos livros daquela época. A história alterna entre momentos capazes de me fazer rir a bom gosto, e momentos que de tão dramáticos, acabam por ser cómicos.

Confirma-se, portanto, aquilo que eu já tinha visto e ouvido em muito lado, que "A Relíquia" é o livro mais engraçado de Eça. É um livro extremamente bem-disposto, cómico a vários níveis, como as personagens, tão estereotipadas que o próprio autor o assume, ao referir-se, por várias vezes, como "a Magistratura", "a Igreja", "o Estado", e "a firma", a personagens individuais, representativos de cada uma dessas classes.

Mas cómico também em termos da acção, e de todas as peripécias e acontecimentos que rodeiam Teodorico Raposo, "o Raposão", sobrinho da rica e ultra-devota Srª Dª Patrocínio das Neves, no seu dia-a-dia em casa da tia, na épica viagem que empreende e, por fim, depois do seu regresso.

E, é claro, a nível da escrita, sempre com a mais fina das ironias, e a revelar um acutilante sarcasmo, uma vez por outra. E o mais surpreendente (para quem não esteja familiarizado com Eça), é que no meio de tantas achas que deita para várias fogueiras, algumas mais directas, outras mais indirectas, o escritor consegue construir uma narrativa com uma base simples e um desenvolvimento complexo, ou melhor, denso, com boas personagens, diálogos que mesmo sendo completamente inverosímeis, me fizeram rir, e descrições absolutamente excepcionais, tão capazes de dar uma ideia geral de um lugar, como de descrever pormenorizadamente tudo o que se encontra nesse mesmo lugar.

Algo que poucos conseguem fazer! Por isso cá fica, mais um livro de Eça cuja leitura aconselho, sem reservas. Aliás, antes de sermos obrigados a ler "Os Maias", devíamos ser obrigados a ler este livro. Muito mais leve, muito mais pequeno, igualmente bom. Quem sabe, talvez depois não fosse preciso obrigar ninguém a pegar naquele (fantástico) calhamaço...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Géneros Literários (5) - Subgéneros Líricos


Uma vez que este não é o meu género favorito, e aproveitando o facto de neste blog se lerem poucos livros de poesia, em comparação com as narrativas, não vou aprofundar muito esta parte.

Aquilo que eu sei sobre os subgéneros líricos não é muito... Mas já reparei que as classificações se fazem preferencialmente pela forma. Exemplo bastante famoso é o soneto, que se caracteriza por ter uma forma fixa, com 14 versos, e embora esteja subdividido em 3 tipos, aquele que nós, portugueses, melhor conhecemos, é aquele usado por Camões, o italiano ou petrarquiano. Este subgénero de um subgénero tem sempre 2 quadras e 2 tercetos.

Outro tipo de poesia usado por Camões, foi o vilancete, constituído pelo mote, de 2 ou 3 versos, que dava início e, se bem me lembro, o tema. Este mote era então seguido pelas voltas ou glosas (uma, ou mais), cada uma com 7 versos.

Há ainda um tipo de poesia que se tornou bastante popular, e que veio do Oriente. Falo do haiku, que no Japão é normalmente escrito numa única linha vertical, mas que em português se escreve em 3 linhas, a primeira e a última com 5 sílabas métricas, e a do meio com 7.

E claro, tenho que falar dos poemas épicos, embora esteja na dúvida se pertencem ao género lírico ou a narrativo, ou se há exemplos para cada um dos géneros. Bem, não sei, mas como exemplos de epopeias famosas temos as de Homero, a Odisseia e a Ilíada, a Eneida, de Virgílio, a do nosso Camões, Os Lusíadas, a Divina Comédia, de Dante Alighieri, e Beowulf, de autor anónimo, mas que todos devem reconhecer, graças ao filme feito há relativamente pouco tempo, entre outras.

De certeza que há mais (muitos mais), mas estes são os que me lembro melhor, assim de repente. Nota-se claramente que as divisões na poesia assentam fortemente, e quase exclusivamente, na forma, em vez do conteúdo. Isto talvez se explique pelo facto de a poesia se focar muito nos sentimentos, que são difíceis de individualizar e analisar separadamente. Assim sendo, lá nasceram estas classificações estruturais, muito mais práticas para este género.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Géneros Literários (*) - Pausa para avivar a memória


A culpa é minha, toda minha. Comecei a escrever estas crónicas com um determinado objectivo, mas meteram-se coisas pelo meio (coisas mínimas, claro, como os exames), e depois entrei de férias. Ou seja, nunca mais escrevi nada quanto a isto, nem nunca mais me lembrei disto, sequer, para ser honesto.

Quer dizer, lembrei-me, uma vez por outra, mas como já tinha perdido o ímpeto, a simples ideia de recomeçar fazia-me perder qualquer resquício de ânimo que eu pudesse ter.

Mas, sem mais demoras, cá ficam os outros textos, para avivarem a memória, ou para os lerem pela primeira vez, tanto faz:

Géneros Literários (0) - Introdução - Este primeiro serviu para apresentar a ideia. Falei do que me atormentava e daquilo que pretendia com esta série de crónicas.

Géneros Literários (1) - As Bases - Como o título indica, falei das bases, daquilo que é essencial para um bom entendimento destas crónicas, e da classificação por géneros. Fiz principalmente a distinção entre os três géneros literários, e alguma conversa sobre forma e conteúdo.

Géneros Literários (2) - O Género Dramático - O primeiro de dois textos sobre o género dramático, onde explico, essencialmente, o que é, e falo sobre as teorias de classificação deste género: a "clássica" e a "moderna".

Géneros Literários (3) - Subgéneros Dramáticos - O segundo e último texto sobre o género dramático. Neste falei sobre alguns dos subgéneros, e adiantei mais qualquer coisita sobre forma e conteúdo.

Géneros Literários (4) - O Género Lírico - O último que escrevi, já lá vão mais de 4 meses (!!!), e o primeiro sobre o género lírico. Falei um pouco sobre o género, e falei um pouco sobre o facto de eu não gostar nada deste género.

E pronto, é isto. Alguma dúvida, perguntem, alguma crítica, estejam à vontade. Por favor perdoem-me alguma gralha/erro que possam apanhar... Odeio rever textos (grande defeito), especialmente os meus próprios textos, e embora ache que já apanhei as falhas todas nesses 5, é bem possível que apareçam mais. Podem-nos apontar, é até um favor que me fazem. E também podem fingir que não os viram, mas qual seria a piada a disso?

Ah, é claro, o próximo texto já está no forno.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

É um bocado paradoxal, eu sei...


... mas não tenho que vos fazer. Ainda há duas semanas publiquei isto, e agora venho aqui dizer que não tenho tido muito tempo para ler.

Mas é a verdade. Aquilo que eu disse é muito bonito (e verdade), mas há alturas, como esta, em que nem tempo para me coçar consigo arranjar, quanto mais para ler tanto quanto gostaria, ou para actualizar o blog seja com o que for.

As minhas desculpas, e a promessa de que não durará muito. Espero.

E um muito obrigado aos nossos seguidores, que já são 90! E é claro, a todos os que visitam o blog, seguidores ou não, e que nos dão a bela média de (mais ou menos) 100 visitas por dia, e com tendência para aumentar.

Quanto aos resultados do Concurso de Escrita, não me comprometo, pelo simples facto de ser preciso conjugar a disponibilidade de 3 pessoas, para lerem todos os textos e para nos decidirmos quanto ao vencedor.

E despeço-me com um pedido. O blog tem um e-mail, disponibilizado algures ali do direito (queaestantenoscaiaemcima@gmail.com), e para o qual podem enviar críticas ao blog, sugestões, dúvidas, enfim, tudo isso. Por isso, há algum assunto que gostassem de ver discutido aqui no blog? Alguma controvérsia relativamente a algum livro e/ou autor? Já sabem o e-mail!