Acho que chegou a altura de me crucificar. Quem seguir o blog regularmente já deve ter percebido - eu não me esforço para ser subtil - mas eu odeio poesia.
Talvez odiar seja uma palavra muito forte, mas pronto, eu não gosto mesmo nada de poesia. De uma forma geral, sim. Ou, para os mais esperançosos e preciosistas de vocês, ainda não encontrei um único poema até hoje que me tenha agradado.
As minhas razões são várias, mas essencialmente duas: uma que nada tem a ver com a poesia em si, e outra que corre o risco de ser uma generalização excessiva, mas pronto.
Comecemos pela única que é efectivamente válida, aconteça o que acontecer. Como fã de literatura de uma forma bastante abrangente, e do Fantástico em particular, tenho um ódio de estimação aos intelectuais que predominam na crítica e nos meios académicos.
São pessoas que nem sequer reconhecem o Fantástico como literatura decente, mas sim como literatura de segunda divisão, e que depois elevam a poesia aos píncaros da genialidade e da maravilha escrita.
Logo para começar, alguém que não considere a obra de Tolkien como uma das maiores obras-primas literárias de sempre simplesmente não bate bem da cabeça. Só pode ser alguém com um profundo preconceito e incapaz de reconhecer o brilhantismo fora das diminutas paredes daquilo que acha correcto.
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Reparem como o cachimbo lhe fica bem... O Nobel póstumo para ele! |
E não, não precisa de gostar dos livros de Tolkien. Eu também não gosto de praticamente nada do que li de Pessoa (as excepções são... prosa), mas admiro o génio e reconheço a importância da(s) figura(s) e do(s) poeta(s) que ele era.
E quem diz Tolkien, diz Stoker, LeGuin, Shelley, Alan Moore (que ainda por cima escreve BD, mas essa é outra conversa) e muitos, muitos outros.
Estes críticos/académicos/intelectuais conseguem apenas ser snobs e fecharem-se numa redoma de suposta "literariedade", ignorando grandes sectores da Literatura, que não é só Saramagos, Hemingways e Balzacs.
Ora, esta ostracização do Fantástico juntamente com o facto de situarem a poesia num pedestal, pura e simplesmente por ser poesia, chateia-me de morte. Faz com que eu seja anti-poesia logo à partida, por princípio. Se podem ser anti-Fantástico, eu posso ser anti-poesia, e vamos ver quem é que se diverte mais.
Percebem o que eu quero dizer, não percebem?
Passemos então ao argumento que muito provavelmente é uma generalização (mas eu não quero saber). Já li poesia, já li sobre poesia, já estudei poesia e nunca - nunca! - encontrei nada que me agradasse. Sim senhor, o Pessoa era um génio, mas acho a poesia dele intragável. O Camões escreveu um épico que é um dos meus livros favoritos de sempre, tudo bem, mas os sonetos dele? Fora! E a lista continua.
Isto porquê? A forma fácil de explicar é: eu não tenho paciência para lirismos entretidos com eles próprios. Eu concedo que existam poemas, inclusivamente alguns que eu li, que são peças literárias de excelência objectiva e absoluta. Mas não suporto que os poetas, ou as pessoas que se consideram poetas, possam cuspir qualquer coisa para uma folha em branco, chamar-lhe poema e ser considerado um autor do caraças.
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Tudo o que está errado com a poesia. |
Lamento muito, mas o pináculo da literatura não é o Álvaro de Campos a dizer que nem teve tempo de passar a manteiga nos dentes. Ou a descrever meninas de oito anos a masturbar homens no vão das escadas. Nem o Camões a escrever odes às suas conquistas exóticas, que mais não são do que um registo que podia ser reunido num livro chamado "É assim que se apanham doenças sexualmente transmissíveis".
Também já li Cesário Verde, Jorge Luís Borges, alguma coisa de Poe, Shakespeare, António Manuel Ribeiro (vocalista dos UHF) e mais uma mão cheia de autores cujos nomes não me lembro, e a minha opinião é sempre a mesma: a poesia rapidamente se torna no equivalente literário da arte moderna.
Vocês sabem do que falo, aquela "arte" em que se pendura um quadro preto com dois metros por dois metros e uma bolinha branca de cinco centímetros de diâmetro exactamente no meio, e se fecha a loja. Porque já fizeram arte. Um quadro preto com uma bolinha branca no meio.
Que avant-garde.
Como tal, acabo por sofrer de algum preconceito relativamente à poesia. E de generalizar a minha experiência pessoal com o que já li a toda a poesia. Ambas estas posições são erradas, mas inevitáveis. Literatura não é Ciência, as minhas opiniões e posições nem sempre são necessariamente racionais. Tal como qualquer leitor, temos uma visão mais emocional da Literatura. E acontecem destas coisas.
Dito isto, eu tenho perfeita noção de que não posso "desistir" já da poesia. Provavelmente vou continuar a apregoar que é tudo horrível e uma nódoa na Literatura mundial, mas irei continuar a ler, a fazer experiências. Tenho esperanças para Poe, que irei aprofundar, e para Shakespeare e alguns autores britânicos mais antigos.
Curiosamente, de autores portugueses não espero grande coisa. Eu conheço bem o estilo de escrita português, e embora sejamos considerados um país de poetas, acho que bem mais de metade cai naquela analogia com a arte moderna.
Logo se vê. Eu prometo ir dando notícias. Só nunca irei deixar de preferir uma bela meia dúzia de parágrafos em prosa a um qualquer poema.