quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Daisy Miller

Afinal, com apenas dois livros para acabar a colecção, ainda dá para me surpreender. Acham que eu alguma vez dava o que quer que fosse por este livro? Nada, nunca na vida!

Agora, depois de o ler, até era gajo para largar uns trocos por ele. O livro fala sobre uma personagem, e perdoem-me aqui o floribelismo, super-hiper-mega-ri-interessante!

Essa personagem é Daisy Miller. Uma jovem com fama de namoradeira, e completamente... nem sei! Fria e distante, completamente aérea, mas com um charme natural absolutamente  irresistível. Não se preocupa com o que dizem dela, ao mesmo tempo que se preocupa... A sério, é muito bom.

Tenho medo de dizer que é uma personagem complexa, porque acho que nunca apanhei uma personagem daquelas complexas e profundamente caracterizadas, e sou péssimo a avaliar personagens, mas estão a ver a ideia, Daisy Miller é, na minha opinião, uma personagem relativamente complexa.

E o livro é apaixonante. Não é o meu tipo de história, nem nada que se pareça, mas tive aquela coisa de querer saber o que vai acontecer a seguir, em grande parte graças a Daisy Miller, que tanto me fascinou.

Ah, e a lengalenga do costume, mais um autor que descobri, tenho que procurar mais coisas, a edição é horrível, odiosa, nojenta, ranhosa, etc...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Metamorfose


É engraçado como em certas alturas queremos mesmo ler um livro, e quando chegamos à escola depois de umas férias tranquilas, nos mandam ler para a aula de português aquele mesmo livro que andávamos a querer ler já há algum tempo. Não ficam logo imediatamente desmotivados? Bom, aconteceu comigo e com A Metamorfose de Kafka (já comentado aqui em tempos pelo Rui). De qualquer forma gostei do livro, e como o meu projecto artístico vai ser forçosamente inspirado na obra, é mesmo bom que goste.
Uma inteligente e profunda crítica à sociedade numa história que se divide basicamente em três partes:
1. Um homem, Gregor, que um dia acorda e é um insecto gigante;
2. A forma como a família lida com a transformação;
3. O desespero de Gregor perante a impotência em que se tornara a sua vida.
Uma obra absolutamente sufocante que nos deixa a pensar muito depois de a termos terminado sobre a sociedade em que vivemos, principalmente sobre a intolerância que continua bem presente no século XXI.

domingo, 26 de setembro de 2010

Os Conjurados

E depois de pôr esta leitura nas mãos dos visitantes do meu blog, através da votação que este ali na barra lateral durante 2 ou 3 dias, e que só teve 4 participações, ganhou o sim, e li o livro.

Agora adivinhem quem é que tinha razão? Pois é, era (aliás, sou) eu. Poesia não é mesmo comigo.

Se calhar é demasiado para a mim, posso ser eu que não compreendo a sua beleza, mas a verdade é que não vejo beleza nenhuma. Este livro, por exemplo, tem um conjunto de poemas e textos poéticos, vagamente relacionados por um sentimento de fatalismo, de medo, de perda, ainda que com alguma esperança disfarçada.

Em nenhum desses fragmentos eu consegui ver qualquer coisa de belo, de transcendente, como muitos dizem ser a poesia. Mas, mais uma vez, até pode ser problema mau.

Aquilo que sei é que não gostei. Ainda não foi desta que a poesia me convenceu. Se tiverem algum conselho, como autores para ler e assim, digam-me, já que este ano só vou ver poesia à frente, na escola...

sábado, 25 de setembro de 2010

Os Crimes da Rua Morgue

Já tinha lido que tinha sido Edgar Allan Poe a (praticamente) criar o género policial, e até mesmo a criar as suas particularidades fundamentais, mas para vos ser honesto, não estava convencido.

Não é que duvidasse da capacidade do escritor, que admiro, mas sim porque daquilo que já tinha lido dele... Bem, não o via a escrever policiais.

Mas digo-vos já, que se algum de vocês, como eu, tem dúvidas quanto a isso, leiam este livro. Bem, não este, já que (vamos lá satisfazer o Pedro) a edição não presta, e acho que no total são 5 histórias, e aqui só vêm 2.

No entanto, também não perdem muito ao lerem este. Estas 2 histórias são mais do que suficientes para ficarem rendidos, e quererem procurar o resto das histórias, além de que, se, como eu, tiverem lido mais coisas deste escritor, vão querer, mais do que nunca, tudo o que dele conseguirem encontrar. Pelo menos é o que se passa comigo.

Tanto numa como noutra história, a personagem principal é Dupin, o homem com excelentes capacidades analíticas, um intelecto acima do normal, e deduções excepcionais. Resolve ambos os casos praticamente sem sair de casa, consegue intrometer-se nos pensamentos das outras pessoas, quase como se lhes lesse as mentes, entre muitas outras coisas. Não vos soa familiar?

Pois é, não tenho dúvidas absolutamente nenhumas de que Sir Arthur Conan Doyle leu estes contos antes de criar o seu famosíssimo Sherlock Holmes. Quantas vezes não aparece, nos seus contos, o famoso detective britânico a intrometer-se nos pensamentos do seu companheiro? E a resolver imensos casos sem sair da sua poltrona?

É claro que Holmes está, na minha opinião, muito mais desenvolvido, enquanto personagem, mas é com August C. Dupin, de Poe, que o género tem os seus fundamentos. Mais do que aconselhado!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Virgem e o Cigano

Mais um autor que eu não conhecia, mais um autor sobre o qual vou ter que descobrir mais obras. Sem saber o que esperar, gostei.

Gostei da escrita, gostei da história... Bem, mais ou menos. A história começou por me parecer meramente aborrecida. Não tinha nada de interessante. Mas depois de algumas páginas lidas, lá me deixei envolver pela história, cada vez mais, a cada página que virava.

É que embora tenha um arranque lento, que não me conquistou minimamente, o desenvolvimento é interessante, sem que aconteça de facto nada de muito especial. Quer dizer, acontecem várias coisas, mas não há um acontecimento que chame a atenção, como se vê em alguns livros, qualquer coisa que depois de lida, dá aquela impressão "então é isto...".

Neste, nem por isso. Fala sobre uma família rigorosa, com a matriarcal Mater, cega, a entrar nos 90, e rabugenta; a tia Cissie, fortemente reprimida, e de certa forma "condenada" a servir Mater, a sua mãe; o tio Fred, ligeiramente apagado; o pároco, homem abandonado pela mulher, Cynthia, que o deixa com as suas filhas, Lucille e Yvette.

Lucille e Yvette, duas raparigas modernas, fartam-se constantemente do estilo de vida que levam, debaixo da asa de Mater, tal como toda a família. A diferença é que elas importam-se. A tia Cissie também se importa, não fosse ela praticamente escrava da mãe, mas o ódio que sente encontra sempre outras escapatórias, e ela acaba por descarregar noutras pessoas.

Com esta conversa toda, devem-se estar a perguntar o porquê do título deste livro. Bem, é bastante auto-explicativo, depois de se lá chegar, quando Yvette visita, juntamente com uns amigos, um acampamento cigano, e a impressão que este causa nela é quase demasiado forte para ser expressa por palavras. E depois, quando parece que tudo está calminho, e que só pode haver um desenvolvimento... BAM, tudo muda, em meia dúzia de palavras!

O fim! E que fim! Completamente arrebatador! Compensou todos e quaisquer momentos mais mortos, isso vos garanto. E marcou D.H. Lawrence como mais um autor a descobrir melhor.

sábado, 18 de setembro de 2010

Voo Nocturno

Quando vi que este livro era do autor de "O Principezinho", fiquei logo de pé atrás. É que eu, ao contrário da maior parte das pessoas, detestei "O Principezinho". E já o li umas duas vezes, para a escola!

Ou seja, as expectativas não eram muito altas, e estava a pensar numa leitura mais de "despachar isto", para avançar para o próximo. Mas confesso, contra vontade, que o livro me surpreendeu ligeiramente.

Não tinha aquele nonsense do Principezinho, nem aquela história de traços infantis, e até um pouco ridícula, na minha opinião. Este "Voo Nocturno" revelou-se uma história com pés e cabeça, completamente verosímil, e sem tentar forçar uma ideia, uma moral, na cabeça do leitor.

A história é sobre um serviço de correio aéreo nocturno, que está à experiência, para tentar combater os avanços dos outros meios de transporte. Rivière, o homem que coordena esta serviço, é um homem aparentemente frio e insensível, que vive única e exclusivamente para os seus voos nocturnos.

Mas Rivière é na verdade um homem sentimental, ainda que implacável, se bem que apenas o é porque quer que o serviço de voos nocturnos tenha sucesso. A aviação é a sua vida, os voos nocturnos o seu orgulho, e ele não pode, pura e simplesmente, perder a batalha.

Pelo meio, ainda acompanhamos a viagem atribulada de um piloto, com poucas hipóteses de sobreviver, e que pode pôr em casa tudo aquilo porque Rivière tanto trabalhou.

A própria personagem de Rivière agradou-me bastante, estava muito bem trabalhada. Já a do inspector, Robineau, aborreceu-me um bocadinho. E havia algumas passagens com expressões mais técnicas (suponho eu) sobre aviação, que eu não percebi patavina.

Não sendo um livro que eu ache muito bom, foi razoável. E vindo deste autor, isto é um grande elogio...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Noites Brancas

Apesar da má qualidade das edições desta colecção, se há coisa que ela tem feito com sucesso, é dar-me a conhecer novos autores. Dostoievsky é, se bem me lembro o décimo quinto autor com o qual tenho o primeiro contacto através desta colecção.

E como um número razoável desses 15, não me desiludiu. Noites Brancas é a história de um homem, que eu normalmente apelidaria de esquisito, mas ao qual me vou referir como socialmente inadaptado, pois a verdade é que não tem amigos, não tem conhecidos, nada.

A sua vida é casa - trabalho - casa, com os ocasionais passeios nocturnos pela cidade de São Petersburgo. E no período de tempo retratado nesta história (não mais do que 3 ou 4 dias, ou melhor, noites), dão-se as chamadas noites brancas, quando o Sol não se põe na totalidade, mesmo de noite, fenómeno característico do Norte da Europa.

O protagonista, quando passeia, durante uma dessas noites brancas, encontra-se com Nastiénhka, rapariga desconsolada, que espera pelo homem por quem está apaixonada. O amor de Nastiénhka e do seu amante tem uma longa história por trás, que a rapariga conta ao protagonista. Este, por sua vez, promete ajudá-la e, no processo, apaixona-se por ela, mas o destino tinha outros planos...

Mais uma vez, só posso ficar com uma vontade enorme de pegar em mais livros de autores russos. Eu nem sei bem explicar o que é, mas todo o ambiente é diferente, a sensação que é transmitida é diferente da de autores americanos, ingleses, portugueses, franceses, alemães, etc.

Destaque para a escrita, que é muito boa, ainda que dotada de toda a formalidade tão típica da literatura daquela altura, e com as personagens dotadas da ainda mais típica ingenuidade, da mais pura. A nível de história, como alguns outros livros desta colecção, peca por não desenvolver um pouquinho mais. Acho que a obra só ficava a ganhar com isso... Mas não deixa de ser uma óptima leitura!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Pátio Maldito


Começo por dizer que esperava mais deste livro pelo facto de a história no inicio parecer bastante mais aliciante e prometedora do que o final aguardava.

O Pátio Maldito, trata-se de uma das mais célebres obras do Nobel croata Ivo Andric.
A história relata o dia-a-dia de Frei Petar, que julgado injustamente por um crime que não cometeu, é preso no Pátio Maldito, uma das mais mal-afamadas prisões do império Otomano. À sua volta circulam as mais bizarras personagens: assaltantes, charlatães, violadores, doentes mentais, enquanto a vida lenta e sufocante do Pátio o mata lentamente.

Sempre de um ponto de vista observador, Frei Petar medita sobre os exemplos que se lhe afiguram diariamente, reflexões que deixam o leitor a pensar sobre a justiça e a sociedade.

Bastante poético e filosófico, O Pátio Maldito peca unicamente no tamanho, que lhe dá a ideia de conto inacabado e de final "a despachar".

As Intermitências da Morte


Só posso começar esta critica com a frase não ler Saramago é um crime.

É verdade, o grande nobel português ficou automaticamente entre os meus escritores preferidos, e esta é a primeira obra que leio dele.

Há uns anos, quando vi um teatro de marionetas inspirado neste mesmo romance de José Saramago, prometi a mim mesma ler o livro quando me sentisse preparada para ler Saramago. E a altura chegou.

A história, que começa e acaba com a mesma frase "No dia seguinte ninguém morreu", concentra-se nesse mesmo facto: a partir daquele dia, ninguém morreu. No primeiro dia do primeiro mês de um determinado ano, a eternidade foi concedida às pessoas daquele país.

Mas aquilo por que todo o ser humano anseia, a vida eterna, revelou-se um verdadeiro pesadelo: as pessoas que não morriam ficavam num estado de dormência entre a vida e a morte, sem realmente viverem; o ramo funerário entra na falência; a segurança social detêm-se com inúmeros problemas; as pessoas tomam medidas extremas tentando suicidar-se à força.

Uma reflexão profunda sobre a vida e a morte, numa narração perfeita e original.

A História de um Sonho


Um livro mágico, de certa forma surreal. De um autor muitas vezes comparado a Freud, a história tem, como pano de fundo, os sonhos.

Fridolin e a sua mulher Albertine, são um casal que dá extrema importância aos sonhos. Vivem-nos intensamente, e contam-nos sempre um ao outro, numa tentativa de os interpretarem.

Mas Fridolin vai, bem acordado, ser introduzido a um mundo novo, através do seu amigo Nachtigall, mundo esse repleto de sensualidade e erotismo, onde vai conhecer uma bela mulher. E por causa dessa mulher, Fridolin vai viver uma espécie de sonho, ainda que bem real...

A escrita é envolvente, detalhada q.b., e o escritor faz uso de uma técnica que me agradou bastante, o (fui googlar, que eu não sabia o nome) "monólogo íntimo", que permite ao leitor saber de forma bastante explícita e destacada aquilo que se passa na mente da personagem.

Gostei, pois normalmente, quando um livro está escrito na terceira pessoa, não se costuma dar muita importância aos pensamentos mais íntimos das personagens, por serem, na maior parte das vezes, desnecessários, e com a sua utilização a ter o risco de "dar palha", ou "encher chouriços", seja lá qual for a vossa expressão favorita.

Mas pelo menos neste livro, Schnitzler usa essa técnica, com bastante sucesso até, e faz dela parte integrante da história, deixando-me ainda mais ansioso por saber o que ia acontecer a seguir, e como é que tudo ia acabar!

Por fim, deixo-vos com a lengalenga do costume: leiam este livro, mas NÃO nesta edição.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Criada Zerlina

A história da criada Zerlina, contada pela própria, surpreendeu-me. Um livro pelo qual, à partida, eu não dava nada, conseguiu-me manter agarrado e ansioso por saber o desenlace.

E com algo tão banal quanto a vida amorosa de Zerlina, nos seus tempos de juventude, uma história que se mistura com a vida amorosa da sua própria patroa, através de um amor em comum.

Dito assim não parece nada de especial, mas contado por Zerlina, ao novo hóspede da sua patroa, apenas referido como A., ganha uma dimensão. Em grande parte graças à personagem, muito bem conseguida e explorada!

Algo que é de louvar, num livro tão pequeno. A criada Zerlina tem uma voz muito própria, e parece que ganha vida, discursando na primeira pessoa para A., que acaba por ser, ao fim e ao cabo, o leitor. É tal o à-vontade de Zerlina e a sua desenvoltura, com tiques tão característicos e tão fáceis de apanhar, não esquecendo que é um livro pequeno, que passei a sentir, a certa altura, que Zerlina falava comigo, que era a mim que me estava a contar a sua história.

Sendo um autor desconhecido para mim, Hermann Broch convenceu-me, com este pequeno conto. Uma escrita que flui muito bem, e que consegue transmitir na perfeição um discurso oral. Gostei, é o que vos digo, gostei, e ainda hei-de ler mais deste autor!

A Ruiva

Mais um autor português presente nesta colecção. Antes de começar, e correndo o risco de me repetir até à exaustão: estas edições não prestam!

A história é sobre uma rapariga, ruiva, filha de um coveiro, que começa a vida rodeada de decadência. Sendo filha do coveiro, que ainda por cima é pobre e anda sempre bêbado, a rapariga vive os primeiros anos rodeada de mortos, e de sujidade.

Mas há algo nela que se insurge contra este tipo de vida. Ela quer ter uma vida "como deve ser", com um homem, numa casa como deve ser, com algum dinheiro.

E é com isso em vista que se junta com João, que também teve, ele próprio, uma infância algo conturbada.

É no fundo uma história sobre uma rapariga ruiva, que nasce rodeada de uma decadência física, que se transforma, lentamente, numa decadência moral, que a rapariga adopta como sua, mantendo, no entanto, uma "chama" dentro de si, que não aceita esse estilo de vida.

O livro não me prendeu, e não gostei especialmente da história, nem da escrita... Mas vou dar o benefício da dúvida ao autor, e procurar mais livros, para avaliar definitivamente!

domingo, 12 de setembro de 2010

Coração das Trevas


Foi o título que me atraiu, neste livro, e era dos poucos que fazia parte daqueles desta colecção que eu queria, sem conhecer nem o livro nem o autor. Só pelo título, agarrou-me.

E não me decepcionou, pois apresenta uma narrativa que, ainda que confusa, me prendeu, e não me deixou descansar enquanto não acabasse o livro. Uma narrativa intensa, com descrições sufocantes da África Negra, e das condições que por lá se viviam, aquando da colonização inglesa.

A história é contada por Marlow, uma espécie de aventureiro por obrigação, que tem como missão resgatar o enigmático Kurtz, uma personagem que tem tanto de misteriosa como de fascinante, já que só aparece no final do livro, mas que tem descrições espalhadas por todo o livro.

Relatos sempre de terceiros, que, às vezes, até os ouviram de outros, e limitam-se a transmitir, com partes iguais de medo e de reverência, histórias que já foram, provavelmente, embelezadas, para causar mais impacto. O mais impressionante que Conrad conseguiu fazer com esta obra, foi fazer com que eu sentisse o entusiasmo de Marlow em conhecer esse tal Kurtz, tal era a mistificação à sua volta!

Mas este livro, que para nós é quase um romance histórico, era, na altura em que foi escrito, um relato actual. É um livro que pretendia servir como forma de mostrar a realidade da colonização, com o ambiente sufocante que se vivia na África Negra, ou o facto de todos os homens brancos se destacarem, de parecerem completamente deslocados, por não se conseguirem habituar àquela vida, àquele sítio.

Um livro que aconselho a ler, mas de forma contextualizada. Leiam-no não nos dias de hoje, mas há umas décadas, quando a colonização inglesa da África Negra era uma realidade. Ganha toda uma nova dimensão.

sábado, 11 de setembro de 2010

Carmilla

Ora cá está uma boa história de vampiros! E das antigas, que este livro data do início do século XIX.

Carmilla é uma estranha rapariga, frágil e adoentada, que recebe abrigo de um caridoso homem e da sua filha (a narradora da história), depois do coche onde viajava ter um acidente, e de a sua mãe ter pedido ao pai da narradora, que ir por acaso a passar, para tomar conta dela.

O homem aceita, relutante a início, mas fica agradado ao ver como a sua filha fica feliz por ter companhia.

A palavra "vampiro", em si, só é dita mais para o final do livro, mas são dadas várias pistas ao longo do livro, como o facto de Carmilla ser estranhamente pálida, e irresistivelmente sedutora; de descer do quarto sempre muito tarde, e de ser vista a passear pela floresta, a altas horas da noite.

Bem, há mais coisas, mas não consigo explicar, só lendo. Eu adorei o livro, a escrita minuciosa, tão típica da altura, e a história, com um tom predominantemente gótico e arrepiante, que conta uma história de vampiros que não brilham ao sol, e sem haver sangue por todo o lado.

Sem dúvida um dos melhores desta colecção (que conta com vários bons livros), e que só tem um ponto negativo, na minha opinião. Adivinhem lá qual é.

Pois. A edição.

Davy Crockett


Desta vez vou fazer algo diferente. Vou começar já por dizer mal da edição. O papel é fraquinho, a tradução é horrível. Etc., etc., etc.

Agora que já tirei isso do caminho, posso falar do livro. Pessoalmente, acho que este só peca por ser demasiado pequeno. Uma história deste calibre, ou melhor, um personagem deste calibre merecia um romance, dos grandes, com montes de páginas.

Davy Crockett é provavelmente um nome que até já ouviram falar. Eu pelo menos já tinha, e tenho a vaga sensação que já o vi representado em várias séries e filmes.

O livro conta a sua história, desde rapazinho desengonçado, a importante legislador nacional. É um bonito conto sobre como começar mal e acabar bem.

E lá está, peca por ser pequeno. Por ser um conto. Uma história que até teria algum interesse em ler de forma mais aprofundada, foi-me apresentada como um livrinho minúsculo, com a história de Davy Crockett extremamente condensada. É pena...

A escrita não é má, embora não a consiga avaliar muito bem, já que o principal deste livro, foi deixar-me com uma sensação de "sabe a pouco"... Mas não deixa de ser um bom livro, e aconselhável!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Dama Pé-de-Cabra


Este livro, com 2 contos deste autor português, foi um dos que me surpreendeu. Nem fazia parte daqueles que eu queria, inicialmente, trazer para casa, mas acabou por vir (já que comprei a colecção toda), e surpreendeu-me pela positiva.

Quando o comecei, nas primeiras páginas, não estava a gostar muito. A história do primeiro conto "A Dama Pé-de-Cabra", era-me vagamente familiar, não fosse ela uma conhecida lenda portuguesa, que eu decerto já tinha lido algures.

Havia ali qualquer coisa que não estava a soar bem, algo que não batia certo... E só quando pesquisei um pouco, é que percebi o que era: faltava-lhe o subtítulo, "Romance de um Jogral". Mistério resolvido. De repente, a divisão em trovas, a linguagem mais típica da época medieval, o próprio tom em que a história é contada, passaram a fazer mais sentido.

E a partir daí, foi um caso de "primeiro estranha-se, depois entranha-se", que se cimentou com o segundo conto, "A abóbada", história que apreciei bastante, sobre a construção do mosteiro da Batalha, que envolve um arquitecto, que desenhou e comandou a sua construção, desde o início, até ao momento em que cegou, e foi considerado inválido para o trabalho, pelo próprio rei, que lhe concedeu, pensava ele, descanso, ao arranjar um outro arquitecto, estrangeiro, para acabar a obra.

É um autor que eu não conhecia, e que vou, de certeza, procurar mais qualquer coisa, para ver se a impressão com que fiquei destes dois diminutos contos se mantém.

Por fim, deixem-me dizer um bocadinho mais do mesmo: a edição não presta. Acho que já o referi em quase todas as outras críticas aos livros desta colecção, mas não me canso de o dizer... Como já vi alguém dizer (não me lembro quem, desculpem), acho que preferia que os livros custassem 2 ou 3 euros, e viessem com uma melhor qualidade!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Polikuchka, o Enforcado

Já li muita coisa de americanos e de ingleses. Principalmente de americanos e ingleses. Também um bom número de autores portugueses, alguns franceses, e outros que tais. Mas de autores russos li muito pouco, e confesso que é algo que quero descobrir.

E já tinha iniciado essa descoberta com "A morte de Ivan Ilitch", deste mesmo autor, um pequeno livro, não mais do que um conto, do qual gostei muito.

Tinha, por isso, algumas expectativas quanto a este "Polikuchka, o Enforcado", sem, no entanto, saber exactamente o que esperar. Depois de o ler, fiquei até bastante agradado.

A história é interessante, e a escrita não é má, sem ser propriamente boa... Mas tenho que dar um desconto ao livro, é apenas um conto, de uma obra literária extensa, e um dos livros menos conhecidos deste autor. E ainda por cima a edição não é das melhores...

Mas bem, a ideia, a história, é óptima. Polikuchka é um bom homem, com um bom-coração, em tudo boa pessoa, excepto no facto de gostar de se embebedar, e de, nessas ocasiões, ter tendências criminosas. A sua sorte, é que tem uma patroa, que mesmo não tendo muitas provas de poder confiar nele, aliás, tendo até provas do contrário, confia nele, e um dia, à revelia dos conselhos de praticamente toda a gente, o encarrega de ir buscar uma grande quantia de dinheiro.

A grande dúvida que fica no ar, tanto para as personagens, como para nós, é se Polikuchka, pela primeira vez, vai conseguir manter-se fiel à sua palavra, longe da bebida, e sem roubar o dinheiro, que poderia muito facilmente desviar, para cuidar da sua enorme família.

A escrita é pormenorizada, algo em que eu já tinha reparado em "A morte de Ivan Ilitch", e que já me tinham dito ser uma das principais características da literatura russa. E eu gostei, pelo menos até agora tenho gostado, da escrita de Tolstoi. Tem-me deixado imensamente curioso para ler livros maiores de autores russos, e de ler mais autores russos. Só que neste livro, a escrita pareceu-me um bocado confusa, algo que se tem vindo a repetir nos outros livros desta colecção, o que me deixa a pensar se não será problema meu, se calhar ando distraído, ou se não será das edições (ranhosas, muito ranhosas), que não me deixam focar na leitura. Talvez, não sei, tenho que pensar melhor nisto...

No entretanto, leiam este livro, mas, como é óbvio, tentem arranjar outra edição!

domingo, 5 de setembro de 2010

Moderato Cantabile


Provavelmente o livro desta colecção que mais me custou a ler. A escrita não é propriamente má, até teve alguns momentos agradáveis, mas é a história que não me convence.

Se bem que não sei do que estou a falar. História? Qual história? Não há história, não há propósito, não há um fio condutor estável, nada. Nesse aspecto tem mais parecenças com um poema, se pensar bem nisso. Até tem um começo emocionante, com gente a morrer, barulho, confusão e tal, ao mesmo tempo que uma aula de piano corre sem se deter durante mais de alguns segundos no incidente lá fora.

Depois disso... Perde-se tudo. Completamente. Um narrar de momentos do dia-a-dia de uma mulher e do seu filho. Nem é de dias completos, é apenas uma monótona sucessão do mesmo momento ao longo dia, o momento em que a mulher vai até a um bar, se encontra com um homem, e bebem juntos, enquanto falam, e o seu filho brinca, no passeio.

Ou seja, tão cedo não me apanham a ler um livro desta autora. Até pode ter livros óptimos, e este ser a excepção, ou se calhar sou eu que não sei apreciar, pois já li comentários a dizerem que cada livro de Duras é como um pedaço de um grande e belo poema, e se calhar até têm razão, mas como poesia não é comigo, não consigo entender.

Talvez preciso é de ler mais livros dela, para o perceber, mas a não ser que alguma crítica particularmente entusiástica me mostre que existe algum livro desta autora que valha a pena ler... Não o farei, e não aconselharei ninguém a fazê-lo.

sábado, 4 de setembro de 2010

Um passarinho azul que pousou na estante

Como não podia deixar de ser, aderimos ao Twitter. É uma forma de vos manter actualizados mais facilmente, e de, claro, divulgar o próprio blog!


Visitem, e sigam-nos!

P.S. - aparentemente, "Que a Estante nos Caia em Cima" é demasiado grande. Ficou com o link do blog, como username...

O Mandarim

Depois do calhamaço que foram "Os Maias", agora foi altura de descobrir literatura mais leve deste autor lusitano. De todas as maneiras. O livro, que contém apenas um conto, é mais leve que um jornal, a história não é tão intrincada, e a escrita não é tão trabalhada.

Claro que nada disso é um defeito. Afinal, estamos a falar de um conto de nem 100 páginas, e não de um épico de 700 e qualquer coisa. Mas mesmo não sendo propriamente trabalhada, é detalhada, não fossem as descrições super-pormenorizadas uma das características deste autor.

A história, como já disse, não tem absolutamente nada a ver com "Os Maias". Bem, talvez tenha. É que pensando bem, uma das componentes d'"Os Maias", que chegava quase a ser uma personagem, era o Destino, que também tem o seu papel nesta história, ainda que de uma forma diferente.

A personagem principal é confrontada com uma escolha, ao ler uma passagem de um livro antigo. Algo como "se tocares a campainha, um mandarim idoso, no fim da sua vida, soltará o seu último suspiro, e tu herdarás todos os seus milhões". Uma escolha terrível, uma decisão que a personagem nem pensa em tomar logo, pois não acredita que possa ser verdade. Mas o surgimento de um homem misterioso põe-o na dúvida. Decide, então, tocar a campainha. Afinal, se for verdade, fica rico, se for mentira, nada acontecerá.

E a verdade é que fica rico. O mandarim morreu, e ele herdou toda a sua fortuna. Mas, em contrapartida, tem que enfrentar, todos os dias, o seu fantasma, a sua figura, que pesa sobre ele, uma personificação do seu remorso e da sua culpa.

Não chega, claramente, ao nível d'"Os Maias", mas anda lá perto. É o que se poderia esperar de um conto. Além de que prova que Eça de Queirós tanto conseguia escrever uma história longa e com um enredo complexo, como uma história curta, com um enredo simples. Fica provada a sua versatilidade, com este conto, que aconselho, especialmente a 3 tipos de pessoas: a quem tenha gostado d'"Os Maias"; a quem ainda não os tenha lido, e queira habituar-se à escrita do autor primeiro; e a quem não gostou muito, mas gostava de lhe dar uma segunda oportunidade.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Misery

Que posso dizer... Os livros deste escritor arrebatam-me sempre. É a sua escrita, crua, cruel, brutal, requintada, ainda que simples, trabalhada, planeada... Perfeita, no meu ponto de vista.

Desta vez, a história centra-se num escritor que tem um acidente de carro, e é resgatado por uma enfermeira, que, por acaso, é a sua fã número 1! Só que o escritor, Paul Sheldon, tinha, no seu último livro, morto a personagem principal dos seus romances com mais sucesso, as aventuras de Misery. Série essa que era a razão da enfermeira, Annie Wilkes, ser sua fã...

E Annie está tão obcecada com os livros de Misery, que, ao descobrir que ela morre no final do último livro publicado, obriga Paul a escrever um novo livro, que acaba por ser o seu melhor livro!

Só que não faz isto da maneira mais simpática...

A forma como Stephen King descreve os meandros da mente humana continua a maravilhar-me. Annie, a enfermeira meio psicótica, é uma personagem tão bem construída, com os seus altos e baixos mentais e emocionais, que parece real. Bem como Paul, também ele, com as suas dores, os seus sonhos, os receios e inspirações, parece extremamente real. É uma habilidade que King tem, que é a de dar uma profundidade incrível às suas personagens.

Outra das suas habilidades é de contar uma história. Ainda não descobri ninguém que o faça tão bem como ele, nem que se chegue lá perto... Para mim, é todo um novo patamar de escrita que destaca o Stephen King, enquanto contador de histórias. Conta as coisas de uma maneira que a princípio pode parecer confusa, mas os acontecimentos são tão marcantes, que não me consegui esquecer de um único pormenor, enquanto lia (e eu tenho uma memória TERRÍVEL), e as coisas vão encaixando, como as peças de um puzzle.

Fica, por isso, definitivamente aconselhado, sem sombra de dúvida!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Espelho da Tia Margarida


Este livro tem, na realidade, 2 histórias. A que lhe dá o nome "O Espelho da Tia Margarida", e "Um Drama na Montanha".

Do primeiro, vou ser honesto, não me lembro muito bem. Não gostei muito, e não devo ter achado nada de especial, se não lembrava-me. Mas do segundo lembro-me bem. O segundo conto, maior que o primeiro, conta uma história trágica, um autêntico drama.

Bem, é mais uma história dentro de uma história, pois uma das personagens conta a história a outra das personagens... Mas essas personagens nem são importantes para a história. Importante é a casa no meio dos rochedos, perto de uma árvore, e da mulher que lá habita.

E a história que é contada, sobre essa mulher, sobre essa casa, é um autêntico drama. Uma história de de uma mulher que já tinha sido, provavelmente, a mais poderosa mulher das Highlands, graças a ser casada com o mais temido highlander. É a história de como esse highlander, morreu, e a deixou com um filho, caída em desgraça. E é ainda a história de um filho que desilude a mãe, de todas as maneiras possíveis e imaginárias, ainda que esteja apenas a fazer aquilo que é certo para ele.

A escrita é coerente, nada complicada de seguir. Já o mesmo não se pode dizer da edição, que tem muitos erros, lapsos, gralhas, o que lhes queiram chamar, que chateiam um bocado a leitura, mas que não a impossibilitam.

Mas também, pelo preço (mais ou menos grátis), não se podia pedir muito mais, suponho.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Contrabaixo


De Patrick Süskind, o escritor de "O Perfume", "O Contrabaixo" foi um dos títulos que me fez querer comprar esta colecção do DN/JN, e sem dúvida um daqueles que eu não podia perder, de maneira nenhuma.


Pelo título, não sabia muito bem o que esperar. Sabia que havia de ter um qualquer ligação com música, mas tirando isso, nada. E fiquei agradado com o que li, narrado na primeira pessoa por um músico, que toca contrabaixo, que conta, no fundo, a sua relação com aquele instrumento.

As vantagens e desvantagens, alguma parte mais técnica, sobre a música clássica, se bem que muito acessível, e dissertações sobre os mais variados aspectos da sua vida.

É fascinante ver as mais variadas formas como o contrabaixo afecta a sua vida, tanto pelo facto de ser grande e pesado, ou por ser a base, ainda que desprezada, da orquestra, por nunca poder vir a ser a estrela da orquestra, e até como não pensa em cortejar uma cantora, sua colega, pois um contrabaixo e uma voz nada podem fazer, que ela preferiria mil vezes alguém que a pudesse acompanhar.

E claro, a escrita é muito boa. Não lhe notei a mestria de "O Perfume", mas é, sem sombra de dúvida, muito boa, neste livro. Além de que embora o livro não tenha propriamente uma história, e seja mais um longo monólogo, não aborrece, não chateia, e manteve-me interessado.

Pensava eu que este autor só tinha escrito "O Perfume", e afinal... Ou seja, é altura de procurar mais livros dele!